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quarta-feira, 24 de julho de 2013

GÊNEROS TEXTUAIS




Gêneros textuais são tipos específicos de textos de qualquer natureza,
literários ou não. Modalidades discursivas constituem as estruturas e as
funções sociais (narrativas, dissertativas, argumentativas, procedimentais e
exortativas), utilizadas como formas de organizar a linguagem. Dessa
forma, podem ser considerados exemplos de gêneros textuais: anúncios,
convites, atas, avisos, programas de auditórios, bulas, cartas, comédias,
contos de fadas, convênios, crônicas, editoriais, ementas, ensaios, entrevis-
tas, circulares, contratos, decretos, discursos políticos
A diferença entre Gênero Textual e Tipologia Textual é, no meu enten-
der, importante para direcionar o trabalho do professor de língua na leitura,
compreensão e produção de textos1. O que pretendemos neste pequeno
ensaio é apresentar algumas considerações sobre Gênero Texxtual e Tip- - - o-
logia Textual, usando, para isso, as considerações feitas por Marcuschi
(2002) e Travaglia (2002), que faz apontamentos questionáveis para o
termo Tipologia Textual. No final, apresento minhas considerações a respei-
to de minha escolha pelo gênero ou pela tipologia.
Convém afirmar que acredito que o trabalho com a leitura, compreen-
são e a produção escrita em Língua Materna deve ter como meta primordial
o desenvolvimento no aluno de habilidades que façam com que ele tenha
capacidade de usar um número sempre maior de recursos da língua para
produzir efeitos de sentido de forma adequada a cada situação específica
de interação humana.
Luiz Antônio Marcuschi (UFPE) defende o trabalho com textos na esco-
la a partir da abordagem do Gênero Textual Marcuschi não demonstra
favorabilidade ao trabalho com a Tipologia Textual, uma vez que, para ele,
o trabalho fica limitado, trazendo para o ensino alguns problemas, uma vez
que não é possível, por exemplo, ensinar narrativa em geral, porque, embo-
ra possamos classificar vários textos como sendo narrativos, eles se con-
cretizam em formas diferentes – gêneros – que possuem diferenças especí-
ficas.
Por outro lado, autores como Luiz Carlos Travaglia (UFUberlândia/MG)
defendem o trabalho com a Tipologia Textual. Para o autor, sendo os textos
de diferentes tipos, eles se instauram devido à existência de diferentes
modos de interação ou interlocução. O trabalho com o texto e com os
diferentes tipos de texto é fundamental para o desenvolvimento da compe-
tência comunicativa. De acordo com as ideias do autor, cada tipo de texto é
apropriado para um tipo de interação específica. Deixar o aluno restrito a
apenas alguns tipos de texto é fazer com que ele só tenha recursos para
atuar comunicativamente em alguns casos, tornando-se incapaz, ou pouco
capaz, em outros. Certamente, o professor teria que fazer uma espécie de
levantamento de quais tipos seriam mais necessários para os alunos, para,
a partir daí, iniciar o trabalho com esses tipos mais necessários.
Marcuschi afirma que os livros didáticos trazem, de maneira equivoca-
da, o termo tipo de texto. Na verdade, para ele, não se trata de tipo de
texto, mas de gênero de texto. O autor diz que não é correto afirmar que a
carta pessoal, por exemplo, é um tipo de texto como fazem os livros. Ele
atesta que a carta pessoal é um Gênero Texxtual.
O autor diz que em todos os gêneros os tipos se realizam, ocorrendo,
muitas das vezes, o mesmo gênero sendo realizado em dois ou mais tipos.
Ele apresenta uma carta pessoal3 como exemplo, e comenta que ela pode
apresentar as tipologias descrição, injunção, exposição, narração e argu-
mentação. Ele chama essa miscelânea de tipos presentes em um gênero
de heteerogeneidade tipológica.
Travaglia (2002) fala em conjugação tipológica. Para ele, dificilmente
são encontrados tipos puros. Realmente é raro um tipo puro. Num texto
como a bula de remédio, por exemplo, que para Fávero & Koch (1987) é
um texto injuntivo, tem-se a presença de várias tipologias, como a descri-
ção, a injunção e a predição. Travaglia afirma que um texto se define como
de um tipo por uma questão de dominância, em função do tipo de interlocu-
ção que se pretende estabelecer e que se estabelece, e não em função do
espaço ocupado por um tipo na constituição desse texto.
Quando acontece o fenômeno de um texto ter aspecto de um gênero
mas ter sido construído em outro, Marcuschi dá o nome de intertextualiidade
intergêneros. Ele explica dizendo que isso acontece porque ocorreu no
texto a configuração de uma estrutura intergêneros de natureza altamente
híbrida, sendo que um gênero assume a função de outro.
Travaglia não fala de intertextualidade intergêneros, mas fala de um ii- - - n-
tercâmbio de tipos. Explicando, ele afirma que um tipo pode ser usado no
lugar de outro tipo, criando determinados efeitos de sentido impossíveis, na
opinião do autor, com outro dado tipo. Para exemplificar, ele fala de descri-
ções e comentários dissertativos feitos por meio da narração.
Resumindo esse ponto, Marcuschi traz a seguinte configuração teórica:
• intertextualidade intergêneros = um gênero com a função de outro
• heterogeneidade tipológica = um gênero com a presença de vários
tipos
Travaglia mostra o seguinte:
• conjugação tipológica = um texto apresenta vários tipos
• intercâmbio de tipos = um tipo usado no lugar de outro
Aspecto interessante a se observar é que Marcuschi afirma que os gê-
neros não são entidades naturais, mas artefatos culturais construídos
historicamente pelo ser humano. Um gênero, para ele, pode não ter uma
determinada propriedade e ainda continuar sendo aquele gênero. Para
exemplificar, o autor fala, mais uma vez, da carta pessoal. Mesmo que o
autor da carta não tenha assinado o nome no final, ela continuará sendo
carta, graças as suas propriedades necessárias e suficientes .Ele diz,
ainda, que uma publicidade pode ter o formato de um poema ou de uma
lista de produtos em oferta. O que importa é que esteja fazendo divulgação
de produtos, estimulando a compra por parte de clientes ou usuários da-
quele produto.
Para Marcuschi, Tipologia Textual é um termo que deve ser usado para
designar uma espécie de sequência teoricamente definida pela natureza
linguística de sua composição. Em geral, os tipos textuais abrangem as
categorias narração, argumentação, exposição, descrição e injunção (Swa-
les, 1990; Adam, 1990; Bronckart, 1999). Segundo ele, o termo Tipologia
Textual é usado para designar uma espécie de sequência teoricamente
definida pela natureza linguística de sua composição (aspectos lexicais,
sintáticos, tempos verbais, relações lógicas) (p. 22).
Gênero Textual é definido pelo autor como uma noção vaga para os
textos materializados encontrados no dia-a-dia e que apresentam caracte-
rísticas sócio-comunicativas definidas pelos conteúdos, propriedades fun-
cionais, estilo e composição característica.
Travaglia define Tipologia Textual como aquilo que pode instaurar um
modo de interação, uma maneira de interlocução, segundo perspectivas
que podem variar. Essas perspectivas podem, segundo o autor, estar
ligadas ao produtor do texto em relação ao objeto do dizer quanto ao fa-
zer/acontecer, ou conhecer/saber, e quanto à inserção destes no tempo
e/ou no espaço. Pode ser possível a perspectiva do produtor do texto dada
pela imagem que o mesmo faz do receptor como alguém que concorda ou
não com o que ele diz. Surge, assim, o discurso da transformação, quando
o produtor vê o receptor como alguém que não concorda com ele. Se o
produtor vir o receptor como alguém que concorda com ele, surge o discur-
so da cumplicidade. Tem-se ainda, na opinião de Travaglia, uma perspecti-
va em que o produtor do texto faz uma antecipação no dizer. Da mesma
forma, é possível encontrar a perspectiva dada pela atitude comunicativa de
comprometimento ou não. Resumindo, cada uma das perspectivas apre-
sentadas pelo autor gerará um tipo de texto. Assim, a primeira perspectiva
faz surgir os tipos descrição, dissertação, injunção e narração. A segunda
perspectiva faz com que surja o tipo argumenntativo stricto sensu6 e não
argumentativo stricto sensu. A perspectiva da antecipação faz surgir o tipo
preditivo. A do comprometimento dá origem a textos do munndo comentado
(comprometimento) e do mundo narrado (não comprometimento) (Weirinch,
1968). Os textos do mundo narrado seriam enquadrados, de maneira geral,
no tipo narração. Já os do mundo comentado ficariam no tipo dissertaação.
Travaglia diz que o Gênero Textual se caracteriza por exercer uma fun-
ção social específica. Para ele, estas funções sociais são pressentidas e
vivenciadas pelos usuários. Isso equivale dizer que, intuitivamente, sabe-
mos que gênero usar em momentos específicos de interação, de acordo
com a função social dele. Quando vamos escrever um e-mail, sabemos que
ele pode apresentar características que farão com que ele “funcione” de
maneira diferente. Assim, escrever um e-mail para um amigo não é o mes-
mo que escrever um e-mail para uma universidade, pedindo informações
sobre um concurso público, por exemplo.
Observamos que Travaglia dá ao gênero uma função social. Parece
que ele diferencia Tipologia Textual de Gênero Textual a partir dessa
“qualidade” que o gênero possui. Mas todo texto, independente de seu
gênero ou tipo, não exerce uma função social qualquer?
Marcuschi apresenta alguns exemplos de gêneros, mas não ressalta
sua função social. Os exemplos que ele traz são telefonema, sermão,
romance, bilhete, aula expositiva, reunião de condomínio, etc.
Já Travaglia, não só traz alguns exemplos de gêneros como mostra o
que, na sua opinião, seria a função social básica comum a cada um: aviso,
comunicado, edital, informação, informe, citação (todos com a função social
de dar conhecimento de algo a alguém). Certamente a carta e o e-mail
entrariam nessa lista, levando em consideração que o aviso pode ser dado
sob a forma de uma carta, e-mail ou ofício. Ele continua exemplificando
apresentando a petição, o memorial, o requerimento, o abaixo assinado
(com a função social de pedir, solicitar). Continuo colocando a carta, o e-
mail e o ofício aqui. Nota promissória, termo de compromisso e voto são
exemplos com a função de prometer. Para mim o voto não teria essa fun-
ção de prometer. Mas a função de confirmar a promessa de dar o voto a
alguém. Quando alguém vota, não promete nada, confirma a promessa de
votar que pode ter sido feita a um candidato.
Ele apresenta outros exemplos, mas por questão de espaço não colo-
carei todos. É bom notar que os exemplos dados por ele, mesmo os que
não foram mostrados aqui, apresentam função social formal, rígida. Ele não
apresenta exemplos de gêneros que tenham uma função social menos
rígida, como o bilhete.
Uma discussão vista em Travaglia e não encontrada em Marcuschi7 é a
de EEspécie. Para ele, Espécie se define e se caracteriza por aspectos
formais de estrutura e de superfície linguística e/ou aspectos de conteúdo.
Ele exemplifica Espécie dizendo que existem duas pertencentes ao tipo
narrativo: a história e a não-história. Ainda do tipo narrativo, ele apresenta
as Espécies narrativa em prosa e narrativa em verso. No tipo descritivo ele
mostra as Espéécies distintas objetiva x subjetiva, estática x dinâmica e
comentadora x narradora. Mudando para gênero, ele apresenta a corres-
pondência com as Espéécies carta, telegrama, bilhete, ofício, etc. No gênero
romance, ele mostra as Espécies romance histórico, regionalista, fantástico,
de ficção científica, policial, erótico, etc. Não sei até que ponto a Espéécie
daria conta de todos os Gêneros Texxtuais existentes. Será que é possível
especificar todas elas? Talvez seja difícil até mesmo porque não é fácil
dizer quantos e quais são os gêneros textuais existentes.
Se em Travaglia nota-se uma discussão teórica não percebida em Mar-
cuschi, o oposto também acontece. Este autor discute o conceito de Dom- - - í-
nio Discursivo. Ele diz que os domínios discursivos são as grandes esferas
da atividade humana em que os textos circulam (p. 24). Segundo informa,
esses domínios não seriam nem textos nem discursos, mas dariam origem
a discursos muito específicos. Constituiriam práticas discursivas dentro das
quais seria possível a identificação de um conjunto de gêneros que às
vezes lhes são próprios como práticas ou rotinas comunicativas institucio-
nalizadas. Como exemplo, ele fala do discurso jornalístico, discurso jurídico
e discurso religioso. Cada uma dessas atividades, jornalística, jurídica e
religiosa, não abrange gêneros em particular, mas origina vários deles.
Travaglia até fala do discurso jurídico e religioso, mas não como Mar-
cuschi. Ele cita esses discursos quando discute o que é para ele tipologia
de discurso. Assim, ele fala dos discursos citados mostrando que as tipolo-
gias de discurso usarão critérios ligados às condições de produção dos
discursos e às diversas formações discursivas em que podem estar inseri-
dos (Koch & Fávero, 1987, p. 3). Citando Koch & Fávero, o autor fala que
uma tipologia de discurso usaria critérios ligados à referência (institucional
(discurso político, religioso, jurídico), ideológica (discurso petista, de direita,
de esquerda, cristão, etc), a domínios de saber (discurso médico, linguísti-
co, filosófico, etc), à inter-relação entre elementos da exterioridade (discur-
so autoritário, polêmico, lúdico)). Marcuschi não faz alusão a uma tipologia
do discurso.
Semelhante opinião entre os dois autores citados é notada quando fa-
lam que texto e discurso não devem ser encarados como iguais. Marcuschi
considera o texto como uma entidade concreta realizada materialmente e
corporificada em algum Gênero Textual [grifo meu] (p. 24). Discurro so para
ele é aquilo que um texto produz ao se manifestar em alguma instância
discursiva. O discurso se realiza nos textos (p. 24). Travaglia considera o
discurso como a própria atividade comunicativa, a própria atividade produ-
tora de sentidos para a interação comunicativa, regulada por uma exteriori-
dade sócio-histórica-ideológica (p. 03). Texto é o resultado dessa atividade
comunicativa. O texto, para ele, é visto como
uma unidade linguística concreta que é tomada pelos usuários da lín-
gua em uma situação de interação comunicativa específica, como uma
unidade de sentido e como preenchendo uma função comunicativa reco-
nhecível e reconhecida, independentemente de sua extensão (p. 03).
Travaglia afirma que distingue texto de discurso levando em conta que
sua preocupação é com a tipologia de textos, e não de discursos. Marcus-
chi afirma que a definição que traz de texto e discurso é muito mais opera-
cional do que formal.
Travaglia faz uma “tipologização” dos termos GGênero Textual, Tipoloogia
Textual e Espécie. Ele chama esses elementos de Tipeelementos. Justifica a
escolha pelo termo por considerar que os elementos tipológicos (Gênero
Textual, Tipologia Textual e Espécie) são básicos na construção das tipolo-
gias e talvez dos textos, numa espécie de analogia com os elementos
químicos que compõem as substâncias encontradas na natureza.
Para concluir, acredito que vale a pena considerar que as discussões
feitas por Marcuschi, em defesa da abordagem textual a partir dos Gêneros
Textuais, estão diretamente ligadas ao ensino. Ele afirma que o trabalho
com o gênero é uma grande oportunidade de se lidar com a língua em seus
mais diversos usos autênticos no dia-a-dia. Cita o PCN, dizendo que ele
apresenta a ideia básica de que um maior conhecimento do funcionamento
dos Gêneros Textuais é importante para a produção e para a compreensão
de textos. Travaglia não faz abordagens específicas ligadas à questão do
ensino no seu tratamento à Tipologia Textual.
O que Travaglia mostra é uma extrema preferência pelo uso da Tipooll- - - o-
gia Textual, independente de estar ligada ao ensino. Sua abordagem pare-
ce ser mais taxionômica. Ele chega a afirmar que são os tipos que entram
na composição da grande maioria dos textos. Para ele, a questão dos
elementos tipológicos e suas implicações com o ensino/aprendizagem
merece maiores discussões.
Marcuschi diz que não acredita na existência de Gêneros Textuais ide-
ais para o ensino de língua. Ele afirma que é possível a identificação de
gêneros com dificuldades progressivas, do nível menos formal ao mais
formal, do mais privado ao mais público e assim por diante. Os gêneros
devem passar por um processo de progressão, conforme sugerem Sch-
neuwly & Dolz (2004).
Travaglia, como afirmei, não faz considerações sobre o trabalho com a
Tipologia Textual e o ensino. Acredito que um trabalho com a tipologia teria
que, no mínimo, levar em conta a questão de com quais tipos de texto
deve-se trabalhar na escola, a quais será dada maior atenção e com quais
será feito um trabalho mais detido. Acho que a escolha pelo tipo, caso seja
considerada a ideia de Travaglia, deve levar em conta uma série de fatores,
porém dois são mais pertinentes:
a) O trabalho com os tipos deveria preparar o aluno para a composi-
ção de quaisquer outros textos (não sei ao certo se isso é possível.
Pode ser que o trabalho apenas com o tipo narrativo não dê ao alu-
no o preparo ideal para lidar com o tipo dissertativo, e vice-versa.
Um aluno que pára de estudar na 5ª série e não volta mais à escola
teria convivido muito mais com o tipo narrativo, sendo esse o mais
trabalhado nessa série. Será que ele estaria preparado para produ-
zir, quando necessário, outros tipos textuais? Ao lidar somente com
o tipo narrativo, por exemplo, o aluno, de certa forma, não deixa de
trabalhar com os outros tipos?);
b) A utilização prática que o aluno fará de cada tipo em sua vida.
Acho que vale a pena dizer que sou favorável ao trabalho com o Gên- - - e-
ro Textual na escola, embora saiba que todo gênero realiza necessariamen-
te uma ou mais sequências tipológicas e que todos os tipos inserem-se em
algum gênero textual.
Até recentemente, o ensino de produção de textos (ou de redação) era
feito como um procedimento único e global, como se todos os tipos de texto
fossem iguais e não apresentassem determinadas dificuldades e, por isso,
não exigissem aprendizagens específicas. A fórmula de ensino de redação,
ainda hoje muito praticada nas escolas brasileiras – que consiste funda-
mentalmente na trilogia narração, descrição e dissertação – tem por base
uma concepção voltada essencialmente para duas finalidades: a formação
de escritores literários (caso o aluno se aprimore nas duas primeiras moda-
lidades textuais) ou a formação de cientistas (caso da terceira modalidade)
(Antunes, 2004). Além disso, essa concepção guarda em si uma visão
equivocada de que narrar e descrever seriam ações mais “fáceis” do que
dissertar, ou mais adequadas à faixa etária, razão pela qual esta última
tenha sido reservada às séries terminais - tanto no ensino fundamental
quanto no ensino médio.
O ensino-aprendizagem de leitura, compreensão e produção de texto
pela perspectiva dos gêneros reposiciona o verdadeiro papel do professor
de Língua Materna hoje, não mais visto aqui como um especialista em
textos literários ou científicos, distantes da realidade e da prática textual do
aluno, mas como um especialista nas diferentes modalidades textuais, orais
e escritas, de uso social. Assim, o espaço da sala de aula é transformado
numa verdadeira oficina de textos de ação social, o que é viabilizado e
concretizado pela adoção de algumas estratégias, como enviar uma carta
para um aluno de outra classe, fazer um cartão e ofertar a alguém, enviar
uma carta de solicitação a um secretário da prefeitura, realizar uma entre-
vista, etc. Essas atividades, além de diversificar e concretizar os leitores
das produções (que agora deixam de ser apenas “leitores visuais”), permi-
tem também a participação direta de todos os alunos e eventualmente de
pessoas que fazem parte de suas relações familiares e sociais. A avaliação
dessas produções abandona os critérios quase que exclusivamente literá-
rios ou gramaticais e desloca seu foco para outro ponto: o bom texto não é
aquele que apresenta, ou só apresenta, características literárias, mas
aquele que é adequado à situação comunicacional para a qual foi produzi-
do, ou seja, se a escolha do gênero, se a estrutura, o conteúdo, o estilo e o
nível de língua estão adequados ao interlocutor e podem cumprir a finalida-
de do texto.
Acredito que abordando os gêneros a escola estaria dando ao aluno a
oportunidade de se apropriar devidamente de diferentes Gêneeros Textuais
socialmente utilizados, sabendo movimentar-se no dia-a-dia da interação
humana, percebendo que o exercício da linguagem será o lugar da sua
constituição como sujeito. A atividade com a língua, assim, favoreceria o
exercício da interação humana, da participação social dentro de uma socie-
dade letrada.
1 - Penso que quando o professor não opta pelo trabalho com o gêne-
ro ou com o tipo ele acaba não tendo uma maneira muito clara pa-
ra selecionar os textos com os quais trabalhará.
2 - Outra discussão poderia ser feita se se optasse por tratar um pou-
co a diferença entre Gênero Textual e Gênero Discursivo.
3 - Travaglia (2002) diz que uma carta pode ser exclusivamente des-
critiva, ou dissertativa, ou injuntiva, ou narrativa, ou argumentativa.
Acho meio difícil alguém conseguir escrever um texto, caracteriza-
do como carta, apenas com descrições, ou apenas com injunções.
Por outro lado, meio que contrariando o que acabara de afirmar,
ele diz desconhecer um gênero necessariamente descritivo.
4 - Termo usado pelas autoras citadas para os textos que fazem pre-
visão, como o boletim meteorológico e o horóscopo.
5 - Necessárias para a carta, e suficientes para que o texto seja uma
carta.
6 - Segundo Travaglia (1991), texto argumentativo stricto sensu é o
que faz argumentação explícita.
7 - Pelo menos nos textos aos quais tive acesso.
Sílvio Ribeiro da Silva.

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