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domingo, 29 de janeiro de 2012

Uma análise literária :Versos íntimos de Augusto dos Anjos , pelo comentário deixado pelo Sr. Ruv

UMA LEITURA SEMIÓTICA DE “VERSOS ÍNTIMOS”, DE
AUGUSTO DOS ANJOS
(A READING SEMIOTICS OF “CLOSE VERSES”, BY
AUGUSTO DOS ANJOS)
Daniel Levy CANDEIAS (Faculdade de Filosofia Letras e
Ciências Humanas da USP)
Apresentação do autor

    Augusto dos Anjos não tem uma obra muito vasta, e possui somente uma publicação feita antes de seu falecimento. Sua temática gira quase sempre em torno da fugacidade da vida, de sua nulidade, e do sofrimento que essa última pode causar ao homem. Seu imaginário refere-se com freqüência a elementos da Ciência, como a Física e a Química, numa espécie de “materialização” do ser humano, retratado como mais um dos
seres da Natureza, cuja existência se limita a um fim e a um começo, contrariando todo os pontos de vista, sejam eles religiosos ou filosóficos, que postulam um sentido “antropológico”, uma finalidade, para o mundo.


    Tal tratamento dado à Natureza, ao Homem, e à relação entre os dois, é muito semelhante ao dado pelo pensador alemão Arthur Schopenhauer, e se é possível afirmar que há uma interdiscursividade, também é possível fazê-lo coma intertextualidade, já que o nome do pensador aparece na obrado poeta. Segundo o que se lê em O mundo como vontade e representação, a natureza seria regida por uma força oscilante entre vida e morte, denominada Vontade, e ela é que possibilitaria qualquer transformação no mundo. Assim, poder- se-ia deduzir que desde a queda de uma pedra até o apaixonar se por alguém seria regulado por essa força, por meio da qual nada poderia transcender a mera passagem da existência para a não-existência na instância factual - e nessa última, no caso do homem, incluem-se os pensamentos e as sensações.


    Ora, partindo desse princípio, a razão, como conceituação e entendimento  do mundo, e principalmente a metafísica, não passaria de mera representação do que seria a realidade, definida como o mundo em ato. E essa razão, dando consciência ao homem da força da vontade, faria com que ele sofresse cindido entre a morte e a vida. Segundo argumentos do próprio filósofo, ninguém seria destituído de vontade, e como ter vontade seria sofrer, então: “Viver é sofrer”. O conteúdo temático de Augusto dos Anjos parece se aproximar bastante dessa filosofia, pois costuma se a ter tanto à problemática de o indivíduo buscar uma razão para a vida, que é ilusória, quanto ao fato de que ele é, na realidade, apenas mais um elemento do Todo exterior e maior que o homem: a natureza.


    Terminada a breve a apresentação, segue o poema e sua análise.


“Versos íntimos”

“Vês?! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!”

1. Análise
Num plano de leitura bem concreto, é possível depreender a isotopia de um enterro. O eu lírico encontra-se no sepultamento da última quimera de alguém, sendo que esse alguém pode ser ele próprio, de modo a constituir uma locução, cujo interlocutário pode ser tanto o próprio interlocutor, coincidindo os atores no nível discursivo, ou um ator diferente. Tanto num
caso como no outro, o indivíduo que trava uma conversa num enterro, e que normalmente profere palavras de consolo,mesmo quando é consigo próprio, aparece aqui um tanto quanto revoltado, pois constata que o “cemitério” está vazio, e que só a ingratidão compareceu. Ou seja, as pessoas, que foram beneficiadas pelo interlocutário antes de ele se desgraçar, não se preocuparam com seus problemas, na hora em que precisou


    .Na segunda estrofe, com “Acostuma-te à lama que te espera”, afirma-se que essa ingratidão irá se repetir no futuro. Adiante, inicia-se a argumentação de que tirar proveito, ser apoiado e não retribuir é uma característica inerente ao homem, e que, ao contrário da surpresa ou indignação, o enunciatário deve se acostumar, ou seja, não esperar algo
diferente.


    Segue, então, uma pequena explicação do motivo que teria levado o ser humano a se tornar assim. De modo semelhante ao “homem lobo do homem” de Hobbes, a ferocidade social causaria a ferocidade individual, porque num sistema assim estabelecido, não haveria como sobreviver de
outra  forma se não pelas que vigem. Note-se que as figuras utilizadas por Augusto dos Anjos são muito semelhantes às do filósofo do contrato social: pantera e fera – lobo pode ser considerado como uma fera.


    No primeiro terceto, há uma espécie de comemoração. Propõe-se algo como um brinde à realidade, disforizada no início, no qual a bebida é substituída pelo cigarro. Nos versos subseqüentes, as figuras do escarro e do apedrejamento, antecedidas pelo beijo e o afago, podem ser tanto interpretadas como a ingratidão, porque alguém recebe carinho e devolve uma agressão, como a volubilidade, se o carinho e a agressão forem entendidos como modos de ser de uma mesma pessoa - num dia, ela é carinhosa, e no outro, agressiva. No segundo terceto, pode-se depreender o seguinte raciocínio: se o mundo funciona à base da ingratidão, não deixe que a gratidão apareça, e faça-o de modo a ser ingrato também. Mantendo a coerência figurativa da isotopia do enterro, poder-se-ia dizer que se alguém aparecesse para consolar o interlocutário deluto, esse alguém deveria ser maltratado. E assim, dentre a ingratidão e a volubilidade, que podem ser encontradas nos versos anteriores, a paixão anterior parece ser mais adequada, porque grande parte do poema, incluindo seu final, contém
elementos que se referem a ela, enquanto a volubilidade só pode ser depreendida num pequeno trecho.


    Feitas essas observações que elucidam o sentido de elementos do nível mais concreto desse texto, é possível pensar em suas relações no que é mais abstrato. O estudo do nível fundamental parece ser o mais adequado nessa etapa do trabalho, pois há indícios do que poderia ser a categoria s emântica que dá conta do nível mais abstrato da significação desse poema em sua constituição figurativa, portanto, no nível mais concreto.


    A figura principal do nível discursivo, o enterro da última quimera, é o primeiro ponto que fundamenta a escolha da categoria vida x morte. E o fato de o sepultamento ser dessa última, e não de outro elemento do mundo natural, também pode ajudar a manter essa interpretação. Quimera, fantasia, sonho, ou ilusão, ocorrem quando alguém constrói para si próprio uma situação melhor do que a que está algo como uma nova vida. No caso desse texto, a quimera, que seria uma vida, é morta, e a possibilidade de melhoria se mostra totalmente utópica, porque ela é a última. Assim, é possível dizer que houve inúmeros percursos narrativos, nos quais o sujeito tentou entrar em conjunção com uma nova vida, sem êxito.


    Quanto à ingratidão, paixão que aparece logo início serve para todo o percurso temático-figurativo do resto do poema, também é possível afirmar que está relacionada com a morte. E o motivo que leva a essa conclusão é o de que ela pode ser considerada como um comportamento social destrutivo, de modo oposto à gratidão ou ao favor. Afinal, ela é associada à figura de uma fera, a pantera, um animal que representa um risco à vida do ser humano. Assim, é possível afirmar que a sociedade é regulada por esse tipo de comportamento, e apesar das quimeras, talvez o anseio por comportamentos sociais construtivos, a morte é certa, tal qual na Natureza.
    Resta uma figura, aparentemente acessória, mas muito importante para a compreensão do poema: o fósforo, que possui um significado especial na obra Augusto dos Anjos.


    Segundo consta em um de seus poemas, “Mistérios de um fósforo”, a fugacidade da duração de sua luz seria muito semelhante à da vida, e das ilusões do homem - nesse caso, e especificamente as da razão, do sentido da vida. A existência, seja ela “espiritual” ou material, é comparada ao rápido acender e apagar do fogo do fósforo, que serve apenas de passagem para a matéria sem luz - talvez sem vida - em dois estágios diferentes. Encontram-se, aqui, novamente a concepção de ausência de sentido na vida e a comparação entre o ser humano e a matéria.


    Depois desses esclarecimentos, torna-se mais evidente o porquê da substituição da bebida pelo cigarro. Como o fósforo representa a fugacidade da vida ou a afirmação da morte sobre ela, acender um cigarro pode ser interpretado como uma comemoração dessa afirmação – e esse é um dos pontos mais importantes do poema. Se na primeira e segunda estrofe, é convincente o fato de que o comportamento socialmente destrutivo, principalmente a ingratidão, é um elemento relativo à morte, nos tercetos, acontece o mesmo com o escarro e o apedrejamento. O que ocorre é que enquanto na primeira parte, as figuras relativas à morte são disforizadas, na segunda, são euforizadas.


    Na primeira estrofe, a valorização da morte é disfórica, pois o enterro, que, normalmente, carrega conotações negativas, em nenhum momento recebe um tratamento que lhe dê um valor diferente. Na segunda, quando se lê “Acostuma-te à lama que te espera”, pode-se entender que ocorre uma não disforização.
    O verso “Toma um fósforo. Acende teu cigarro!”, que inicia o primeiro terceto é o verso-chave, porque é a partir dele que a morte passa a ter uma valorização eufórica, contrariando a disforia do começo do poema. Ressalta-se que, se o cigarro representa a fugacidade da vida, porque, inclui
dentro de si o percurso morte não-morte vida não vida
não vidamorte, o poeta dá maior destaque ao percurso da vida à
morte, por causa da curta duração da chama em comparação aos momentos em que ela está apagada. No texto estudado aqui, há um processo semelhante: o “brinde do fósforo” se encontra num percurso de disforia não-disforia euforia da morte, de modo a servir de passagem às duas últimas etapas.


    Mas esse percurso não é tão simples assim. Como o início do poema apresenta a  morte de uma última quimera, ou seja, a ausência de esperança acompanhada da indignação contra o comportamento socialmente destrutivo, parece que mais do que uma mudança de valorização dos elementos da categoria semântica fundamental, há uma euforização da
disforia.


     Afinal, a imagem do interlocutor é a de um sujeito revoltado, que, ao sugerir a assunção da postura que lhe provocou revolta, só pode fazê-lo com tom de queixa. Desse modo, quando o escarro e o apedrejamento são tratados de modo positivo, devem ser entendidos também como negativos.
Essa transformação da disforia simples em euforia disfórica seria baseada num raciocínio que poderia ser resumido por: “se as coisas são tão ruins assim, e não vão mudar, contribuamos”.
    Levando em conta a presença do termo complexo eufórico-disfórico, é possível afirmar que o devir se dá por meio de dois percursos, da retenção ao relaxamento e do relaxamento à retenção, respectivamente: retenção(continuação da parada) ⇒distensão (parada da parada) ⇒relaxamento (continuação da continuação) e relaxamento(continuação da continuação) ⇒contensão (parada da continuação) ⇒retenção (continuação da parada). Portanto, a gratidão e o sonho, elementos eufóricos, são disforizados, e a ingratidão e a desesperança, euforizados. As razões que levam o texto a seguir esse percurso se tornam mais claras com o estudo do nível narrativo.


    O primeiro programa narrativo que aparece no texto é o do enterro da última quimera, o qual pressupõe uma seqüência de percursos iguais. Quando se lê “Somente a Ingratidão – esta pantera -/ Foi tua companheira inseparável!”, é possível afirmar que a ausência de alguém para consolar o sujeito do ser também é uma repetição, pois a Ingratidão é uma companheira inseparável. Associando essas duas figuras e relacionando coma categoria semântica determinada no nível narrativo, pode-se dizer que o objeto de valor seja algo como os ideais humanos. Ideais, no sentido moral e ontológico. Isso porque há como se estabelecer um vínculo entre a moral e a possibilidade da vida não se limitar apenas matéria, já que uma transcendência depois da morte, além de reservar um provável castigo para os “maus”, ainda fundamenta a hipótese de que há um bem e mal universais. Esse vínculo, que é uma das bases do catolicismo, aparece muito bem explicitado na frase de Dostoievski de que se Deus não existe, tudo é permitido.


    É “possível afirmar, portanto, que o sujeito em conjunção com o objeto de valor ideal humano”, mas não consegue, pois o sujeito do fazer “humanidade” coloca-o em disjunção. Talvez por causa dos fundamentos das teorias burguesas, como a do contrato social, que nos aparecem mais variados discursos, ele supõe que é um dever desse sujeito promover tal conjunção. Mas como isso não ocorre, supõe-se uma quebra de contrato, originando, primeiramente, a paixão da insatisfação. Como essa situação se prolonga, pois o percurso da disjunção se repete inúmeras vezes até a última quimera, o sujeito do fazer se torna um anti-sujeito, provocando a cólera.


    Resta ainda um problema: o interlocutor indigna-se com a situação em que se encontra o interlocutário, e não ele. O que quer dizer que o percurso narrativo exposto acima funciona melhor no caso deles coincidirem, fazendo do poema algo do ser quer entrar como um solilóquio.


    Assim, no nível discursivo, tem-se um homem que perde suas últimas esperanças, e sofrendo com elas, não acha ninguém que possa consolá-lo. Indigna-se com essa situação, na qual não é a primeira vez que se encontra, esbraveja consigo. Enfim, visto que a sociedade só funciona por meio do comportamento destrutivo, ele resolve assumi-lo, depois de se repetirem tantas vezes os momentos em que lhe demonstraram ingratidão.
Excepcionalmente, a cólera desperta uma paixão semelhante à do conformismo, porque o ator se propõe a assumir as características sociais vigentes, mesmo elas sendo reprováveis. Talvez haja também uma espécie de vingança, porque quando se diz que qualquer pessoa que se compadeça dos problemas do sujeito eu lírico deve ser punida, para que a gratidão seja
extirpada, e a ingratidão instaurada em sua plenitude, cria-se uma situação, na qual a reação ao problema é a mesma ação do próprio problema: o modo como a sociedade se configurou teria feito dos homens feras, e o indivíduo específico do poema, apesar de não ter dado nenhuma contribuição para isso (afinal ele se acha vítima de ingratidão), padece disso.


    Ora, formulando o imperativo de que qualquer pessoa que se demonstrasse boa deveria ser maltratada, o interlocutor constrói o mesmo percurso, mas dessa vez, sendo sujeito dele, e modificando a relação fórica, talvez para restituir perda.


    Note-se que, desse modo, comprova-se a tese de que “O Homem, que, nesta terra miserável, mora, entre feras, sente inevitável necessidade de também ser fera”. O texto todo pode ser interpretado como uma figurativização dessa inevitabilidade social, o que é muito coerente com o resto da obra do enunciador. Se o discurso determinista de Augusto dos
Anjos  retira o sentido humano da natureza, ele também “naturaliza” o homem, sempre sob os olhos da Ciência. E assim, a sociedade aparece como um grande sistema, tal qual os da química ou da física, formado por regras determinadas e determinadoras, cujos elementos são os homens, dirigidos por suas necessidades biológicas e psicológicas.


RESUMO: Análise semiótica do poema “Versos Íntimos”, de Augusto dos Anjos, a partir da teoria greimasiana.Depreendendo-se, assim, os níveis do percurso gerativo de sentido e os efeitos poéticos surtidos pelas relações de isotopia do texto.






PALAVRAS-CHAVE: Semiótica; Greimas; Poesia.
ANEXOS:
                       
            Vida                                        Morte

                                

Algumas orientações para o uso de EU e MIM

Quando usar EU e MIM
    Acho que todo mundo deve se lembrar de já ter sido corrigido alguma vez em sua vida a respeito do uso do EU e do MIM, na verdade geralmente quando se usa, erroneamente, o MIM.
    Quando a gente aprende e entende, não consegue mais ouvir e achar normal ouvir um MIM no meio da frase (é horrível). Ouço isso de diretores de empresas, de atendentes, de alunos, de leitores, ou seja, é um erro eclético, que não escolhe classe social, idade, sexo – rs.
    Pra saber se você usa corretamente o EU, ao invés de MIM, basta ver se você tem ciência de “quando” se deve usar o EU (ao invés de MIM) e se percebe, a todo o momento, alguém falando errado. Se você não tem certeza (e se não costuma perceber que os outros usaram de forma errada) provavelmente você também “escorrega” no uso.
Vamos às explicações…
    Vamos ver se vocês conseguem “pegar o fio da meada”, pois quem entende não erra mais: sempre que for utilizar antes de um verbo, determinando uma ação (fazemos isso usando o verbo no infinitivo – a forma original do verbo, terminada em AR, ER, IR, OR e UR), usa-se o EU.

    É ai que entrava a professora e falava: “Quem faz sou EU, porque quem diz MIM faz é índio”. Testemos como fica horrível usar o MIM, substituindo nos exemplos acima:

    Então, não use MIM para conjugar verbos. É só se acostumar que não se erra mais.
Incluído depois:
1. DICA: Como disse os leitores Bárbara e Helison nos comentários abaixo, MIM não conjuga verbo. Notem como aprendemos a conjugar verbos: EU, TU (que é o VOCÊ), ELE, NÓS, VÓS e ELES. Viram? Não tem nenhum MIM, pois o MIM é passivo, MIM é um “cara” preguiçoso, ele não faz nada, só recebe (veja que o verbo vem sempre ANTES de MIM):
•    … veio a MIM.
•    … faça pra MIM.
•    … traga pra MIM.
Quem faz sou EU (ou seja, se o verbo vem depois, determinando uma ação, é sempre EU):
•    … pra EU fazer…
•    … pra EU entregar…
Portanto, risque o MIM de suas frases que sejam seguidas por um verbo no infinitivo:

2. Entre EU e ELE – ou – MIM e ELE? Quando tiver que usar numa frase assim:
•    Isso já está mais do que discutido entre ?? e ELE.
Utilize MIM, pois o EU é utilizado junto com um verbo, que vem na sequência, o que não ocorre aqui. Além disso, o uso de pronomes (no caso o ENTRE) exige o uso do MIM.
•    Portanto sua frase ficará: Isso já está mais do que discutido entre MIM e ELE.
3. NO FINAL DE FRASE / DEPOIS DE PREPOSIÇÃO - o EU é sempre sujeito, então nunca use EU depois de preposição (PARA, DE, POR, A). Isso geralmente acontece no final das frases, mas pode também ocorrer em outras partes:
•    Isso já foi entregue para MIM.
•    Para MIM isso é fato consumado.
•    Não deixarei tirarem isso de MIM.
•    Por MIM seriam todos condenados.
•    Vinde a MIM todas as criancinhas…
Perceba que em todos os exemplos o MIM não é o sujeito executor da ação (não vem antes do verbo, “fazendo” algo, onde se exige o EU). Em alguns casos até podemos ver o verbo aparecer logo depois, mas basta invertermos a frase para notarmos que o MIM não está executando a ação determinada no verbo:
•    Para MIM, resolver estes problemas é coisa simples.
•    Resolver estes problemas é coisa simples para MIM.
                                                                                            
•    Mais explicações:
•   
•    = Aqui ainda podemos aplicar a regra de que não se usa EU depois de preposições (no caso o PARA).
•    É comum surgir equívocos no uso dos pronomes pessoais, principalmente os do caso oblíquo. Contudo, uma dica importante fará com que não haja mais dúvidas a respeito desse assunto:
•    De acordo com a norma culta, após as preposições emprega-se a forma oblíqua dos pronomes pessoais. Veja:
•    1. Isso fica entre eu e ela. (Errado)
•    1. Isso fica entre mim e ela. (Certo) ou
2. Isso fica entre mim e ti.
•    Os pronomes do caso oblíquo exercem função de complemento, enquanto os pronomes pessoais do caso reto, de sujeito. Observe:
•    1. Ela olhou para mim com olhos amorosos (olhou para quem? Complemento: mim.).
2. Por favor, traga minha roupa para eu passar (quem irá praticar a ação de passar? Sujeito: eu.).
•    Vejamos a pergunta que dá título ao texto: Entre eu e você ou entre mim e você? Depois da explicação acima, constatamos que existe uma preposição: entre. Então, o correto é “Entre mim e você”, pois após a preposição usa-se pronome pessoal do caso oblíquo.
•    Da mesma forma será com as demais preposições: para mim e você, para mim e ti, sobre mim e ele, entre mim e ela, contra mim, por mim, etc. Veja:
•    a) Ele trouxe bolo para mim e para ti.
b) Ninguém está contra mim.
c) Você pode fazer isso por mim?
d) Sobre mim e você há uma nuvem de muitas bênçãos.
•    Agora, observe:
•    Preciso dos ingredientes para mim fazer o bolo. (Errado)
•    Existe a preposição “para”, no entanto, o pronome “mim” está exercendo o papel de sujeito da segunda oração: para mim fazer o bolo. Logo, o emprego do pronome oblíquo está equivocado. O certo seria:
•    Preciso dos ingredientes para eu fazer o bolo. (Certo)
•   
•    Por Sabrina Vilarinho
Graduada em Letras
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Mim e eu
Veja as diferenças de uso
Jorge Viana de Moraes*

As gramáticas da língua portuguesa sempre recomendam que as formas oblíquas tônicas dos pronomes pessoais sejam regidas de preposição. Esses pronomes são: mim, ti, ele, ela, si, você, nós, vós, eles, elas, si, vocês. Assim:
•  Venham a mim.
•  Venham a nós.
•  Minha filha precisa de mim.
•  Ela só pensa em si (mesma).
•  Tudo já foi dito a vocês.
•  O meu ódio a ela crescia dia a dia.

Até aqui parece não haver problemas. Todavia, existe verdadeira confusão em relação ao uso correto (padrão) do pronome pessoal do caso oblíquo tônico "mim" e o pronome pessoal do caso reto "eu". A dificuldade aparece em frases como esta:

a) "No jantar, Lili ficou entre mim e ele, o padrinho, e, coisa incrível, deu-me mais atenção que a ele." (Afrânio Peixoto apud Celso Cunha, 1975, p. 298).

As gramáticas condenariam, por exemplo, o uso de "Lili ficou entre eu e ele...", porque "entre" é uma preposição e exige, como já ressaltado, o pronome na forma oblíqua tônica "mim", e não a forma pessoal do caso reto "eu".

Existe outra confusão, quando há casos como os seguintes:

b) João fez de tudo para eu falar.
c) Não façam nada sem eu saber.

Nesses casos, temos a forma reta depois de uma preposição. Não parece estranha? Parece que os exemplos "b" e "c" contradizem o exemplo "a". Na verdade, não existe contradição, porque as gramáticas dizem que se usam as formas retas, mesmo depois de uma preposição, quando o pronome for sujeito de um verbo infinitivo que vier a seguir. Para ter certeza, façamos o teste. É como se disséssemos:

b.1) João fez de tudo para que eu falasse.
c.1) Não façam nada sem que eu saiba.
Diferentes posições de um mesmo gramático
A Gramática da Língua Portuguesa, de Celso Cunha (1972, p. 296), condenava o uso de "mim" como forma oblíqua ao sujeito do verbo infinitivo. Assim prescrevia o gramático:

"Cumpre evitar-se uma incorreção muito generalizada, que consiste em dar forma oblíqua ao sujeito do verbo infinitivo. Diga-se:
•  Aquela não é tarefa para eu realizar.

e não:
•  Aquela não é tarefa para mim realizar."

Nesta ocasião, Celso Cunha condenava de viciosa tal construção, e dizia que não devíamos confundi-la com outra, segundo ele, "em tudo legítima":
•  Aquela não é tarefa para mim.

Já, na Nova Gramática do Português Contemporâneo, de 1985, escrita em parceria com o filólogo e linguista português Lindley Cintra, Celso Cunha (que também era filólogo e linguista), ao tratar do mesmo assunto, o faz com uma verdadeira mudança de postura. Diríamos mais inovadora (embora Celso Cunha ainda reconheça que seja uma forma condenada por gramáticos e professores). Vejamos seu comentário a respeito do mesmo uso, outrora enfaticamente condenado:

"Do cruzamento das duas construções perfeitamente corretas:
•  Isto não é trabalho para eu fazer

e
•  Isto não é trabalho para mim,

surgiu uma terceira:
•  Isto não é trabalho para mim fazer,

em que o sujeito do verbo no infinitivo assume a forma oblíqua.

“A construção parece ser desconhecida em Portugal, mas no Brasil ela está muito generalizada na língua familiar, apesar do sistemático combate que lhe movem os gramáticos e professores do idioma”. (p. 290)

Como se vê, o gramático ressalta que esta última forma está generalizada na língua familiar, isto é, aquela mais solta, descomprometida, usada normalmente em situações coloquiais.

Diante disso, fiquemos mais atentos quanto ao uso formal, culto e, sobretudo, na modalidade escrita, lugares e situações em que nos é cobrado tal conhecimento.

                *Jorge Viana de Moraes é mestre em Letras pela                         Universidade de São Paulo. Atua como                     professor em cursos de graduação e pós-graduação na área de Letras.
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EU ou MIM, TU ou TI?
31 08 2007
_ Era para mim estudar?
_ Não! Mim não estuda. Quem estuda sou eu.
_ Então, era para eu estudar? Sim, assim está certo!
Grande confusão, não é mesmo?
A gramática exige que só se usem os pronomes pessoais do caso reto (eu, tu, ele, ela, nós, vós, eles, elas) quando funcionarem como sujeito de um verbo no infinitivo (nome do verbo, flexionado ou não) .
“Era para eu sair mais cedo hoje”
Obs. O sujeito de sair é o pronome eu.
Atenção! Quando regidos por preposição os pronomes ele, ela, nós, vós, eles, elas, são, também, pronomes oblíquos, e por esta razão é possível dizer-se:
“Envie esta carta para ele.”, “Chegaram coisas para nós.”
Os pronomes oblíquos tônicos (mim, ti, si, ele, ela, nós, vós, eles, elas), que só se usam com preposição, funcionam como complemento e não como sujeito do verbo.
“Foi fácil, para mim, conseguir o emprego”
Obs. Conseguir o emprego é o sujeito do verbo ser (Foi) e o pronome mim é simplesmente complemento. Observe a inversão:
“Conseguir o emprego foi fácil para mim.”
“Para mim, foi fácil consequir o emprego”
Então o segredo está em analisar sintaticamente a oração. Caso o pronome funcione como sujeito, usa-se EU ou TU e, em caso contrário, regidos por preposição, usa-se MIM ou TI no papel de complemento.
“Entre mim e ti tudo acabou.”
“Não há mais nada entre mim e ela.”
“Tudo está acabado para mim.“
“Deixaram tudo para mim.”
“Estas frutas são para ti.”
Difícil, não é?
Para facilitar as coisas pode-se generalizar e dizer que todas as vezes em que nas frases ocorrerem verbos no infinitivo (a primeira pessoa do singular é igual ao nome do verbo) usa-se EU ou TU antes desse verbo (geralmente os verbos que denotem uma ação, como Fazer, Conferir, Ler, Contar, Gastar…e até Dormir).
Exemplos:
“Este livro é para eu ler!”
“Manda-me o dinheiro para eu conferir!“
“Comprei o jornal para tu leres!“
“Cante para eu dormir!“
Observe que é impossível fazer-se a inversão das frases:
“Para eu ler este livro é.”
“Para eu dormir cante.”
“Para eu conferir o dinheiro manda-me.”
Excetuam-se deste caso os verbos de ligação (Ser, Estar, Parecer, Ficar, Permanecer, Continuar), e os demais verbos, como Aceitar, Entender, Custar, Bastar, Restar… Faltar, antes dos quais, quando ocorrem na frase, usa-se MIM ou TI.
Exemplos:
“Foi difícil, para mim, aceitar a situação.”
“Basta, para mim, estar ao teu lado”
“Custou, para mim, entender a matéria”
“É difícil, para ti, fazer amizade”
Neste caso não há dificuldade em fazer a inversão:
“Aceitar a situação foi difícil para mim”
“Estar ao teu lado basta para mim”

Fontes: Novo Dicionário Aurélio; Gramática da Língua Portuguesa – Pasquale e Ulisses; Gramática da Língua Portuguesa – Domingos Paschoal Cegalla.
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Para eu ou para mim?

    Usamos o pronome do caso reto (eu, tu, ele (a), nós, vós, eles (as)) quando nos referimos ao a) Se for para eu ficar, então ficarei! (ficar -> sujeito eu; ficarei-> sujeito eu)

b) Ele disse para eu ficar. (disse -> sujeito ele; ficar-> sujeito eu)
c) Ele não disse nada para mim. (disse-> sujeito ele; objeto indireto-> para mim)
d) Para mim, ele está fazendo de conta que não sabe de nada. (fazendo-> sujeito ele; sabe-> sujeito ele; para mim -> objeto indireto)

Atenção: Verifique se há preposição + pronome + verbo porque, nesse caso, o pronome em questão será do caso reto. Se houver preposição + pronome, sem o verbo, então, já sabe, caso oblíquo!Sujeito da oração. Já os pronomes oblíquos tônicos (mim, ti, ele (a), nós, vós, eles (as)) fazem papel de objeto e surgem após uma preposição: para mim, de mim, por mim, e assim por diante.

Veja um exemplo:

a) Ela trouxe o presente para eu desembrulhar.
b) Ela trouxe o presente para mim.

    Observe que na primeira oração temos duas orações: Ela trouxe o presente/para/ eu desembrulhar. “Eu” aqui é sujeito do verbo “desembrulhar”.
    Já na segunda oração, “mim” é complemento e, portanto, objeto indireto (uma vez que vem depois da preposição).

    Na dúvida sempre faça uma pergunta ao verbo: se a resposta tiver um sujeito, então é pronome do caso reto, caso contrário, será objeto. Observe:

a) Ela trouxe o presente: quem trouxe? Ela.
b) Para eu desembrulhar: quem desembrulhar? Eu.

A lógica é simples: geralmente, quando há dois verbos, também haverá dois sujeitos.


Outros exemplos:

a) Se for para eu ficar, então ficarei! (ficar -> sujeito eu; ficarei-> sujeito eu)
b) Ele disse para eu ficar. (disse -> sujeito ele; ficar-> sujeito eu)
c) Ele não disse nada para mim. (disse-> sujeito ele; objeto indireto-> para mim)
d) Para mim, ele está fazendo de conta que não sabe de nada. (fazendo-> sujeito ele; sabe-> sujeito ele; para mim -> objeto indireto)

Atenção: Verifique se há preposição + pronome + verbo porque, nesse caso, o pronome em questão será do caso reto. Se houver preposição + pronome, sem o verbo, então, já sabe, caso oblíquo!

 Por Sabrina Vilarinho

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

    Na música “Monte Castelo”( Legião Urbana), encontramos também um versículo que compõe o texto de I Coríntios 13 (um dos livros da Bíblia), conforme a referência do texto abaixo, além de versos de “Os Lusíadas” (Camões), a essa particularidade encontradas em textos, chamamos de intertextualidade e para identificá-los dependerá do nível cultural de leitura de cada leitor.

1 Coríntios 13
Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine.
E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria.
E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria.
O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece.
Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal;
Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade;
Tudo sofre tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
O amor nunca falha; mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá;
Porque, em parte, conhecemos, e em parte profetizamos;
Mas, quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado.
Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino.
Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido.
Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor.

sábado, 14 de janeiro de 2012

As sem razões do amor


Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
E nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
E com amor não se paga.

Amor é dado de graça,
É semeado no vento,
Na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
E a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo
Baste ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
Não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada.
 Feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
E da morte vencedor
Por mais que o matem (e matam)
 A cada instante de amor.
(ANDRADE, Carlos Drummond)

            As sem razões do amor – Não existe razão para amar. Não há lógica no amor. Entende-se que pode ser as cem razões para amar, e as razões para não amar, por isso essa negação ao escrever as SEM razões, não representa regras, ele é dado.
            A primeira estrofe comenta a correspondência do amor, pois o amor é estado de graça.
            Na segunda, explica  como vem o amor, e que ele não tem definição, podendo estar em toda parte.
            Terceira só ama quem não é narcisista, não faz questão de amar, só de dar amor. Ao dizer “não se conjuga nem se ama” ele pode amar e outro não.
            Última estrofe – O amor vence tudo,tem que morrer amando e que a cada momento que ama, acontece um momento de desamor (e matem).
            Nos versos 18 e 19, temos uma antítese ideológica.
            O poema constitui uma reflexão em torno do comportamento humano em relação ao amor. Porque o eu - lírico não encontra explicações. O amor é inexplicável.