e-book "Supere a si mesmo todos os dias"

https://pay.hotmart.com/I84444557Q

quarta-feira, 4 de julho de 2012



LÍNGUA PORTUGUESA
TEXTO I
Delicadeza
Estava eu sozinho no Café Severino, num
fim de tarde desta indecisa e chuvosa
primavera. Esperava um casal de amigos,
tomando uma taça de vinho. Uma jovem
chegou, os olhos procurando por alguém. E vi
então um rapaz levantar-se e esperá-la de pé.
Depois de um beijo, ele puxou a cadeira para
ela sentar-se. Em seguida, o celular dele tocou.
Pedindo licença, o rapaz atendeu, desligando
em alguns segundos e desculpando-se. Diante
dessa rápida cena, vivida com naturalidade,
fiquei pensando em pessoas delicadas ou que
praticam atos de delicadeza, dos mais simples
aos mais elaborados.
Minha mulher diz que em geral a delicadeza
é fruto da boa educação, ainda que uma possa
existir sem a outra, já que a delicadeza é um
dom natural e a educação, um atributo
conquistado.
Marcel Proust dizia: “A vida é difícil. Para
estar em paz comigo mesmo, preciso dizer a
verdade. Para estar em paz com o próximo,
preciso mentir”. Proust, como todos sabem, não
gostava de receber visitas e de ser
incomodado, pois vivia essencialmente para a
sua obra, tentando recuperar — com tempo e
memória — o que acreditava ter perdido. Então,
quando algum amigo aparecia, sem ser
convidado, no Boulevard Haussmann, onde
morava, Proust pedia a Celeste Albaret, sua
governanta e confidente, que dissesse ao
visitante que ele não estava em casa, ou que
estava dormindo, ou que estava gripado, ou…
Enfim: que desse uma desculpa qualquer para
afastar o inoportuno. E muitas vezes, depois de
Celeste despachar o visitante, o escritor
arrependia-se e mortificava-se:
— Fiz mal em não receber o meu amigo!
— Mas o senhor não estava com vontade.
— Então por que não fui capaz de dizer a
verdade?
— Por delicadeza — respondia Celeste.
Esquivando-se assim para não tirar o foco
do que escrevia por dias e noites infindáveis, o
“pequeno Marcel”, como era chamado em
família, construiu uma grande obra, consciente
da sua importância: “Quero que a minha obra
seja uma catedral. Nunca definitivamente
pronta. E que dure para sempre”.
E foi o que conseguiu, ainda que muitas
vezes ignorando a boa educação e sacrificando
a delicadeza, que lhe eram inatas.
(...)
Subitamente, sou interrompido em minhas
reflexões pela entrada, no Café, da Rutinha e
de seu namorado, Olavo. Vejo que ela está
mancando e de cara amarrada.
— Que aconteceu? — eu pergunto.
— Escorreguei na calçada. Culpa do seu
amigo aqui.
— Mas o que foi que eu fiz, amor?
E ela, virando-se para mim:
— Eu quis vir andando, sem os sapatos, no
chão molhado, como eu fazia quando era
criança. E ele não me impediu. Ao contrário: me
incentivou a fazer essa maluquice.
— Mas, meu amor, atendi ao seu desejo,
por delicadeza.
E Rutinha:
— Pois eu não gosto de homens delicados!
Acabam cansativos. Gosto de quem discorda
de mim, insiste e… me convence de que estou
errada!
Vendo que a discussão entre os dois ainda
ia demorar meia hora pelo menos, como
sempre acontecia, saí para ver alguns novos
DVDs expostos na Argumento. Ao me afastar,
ainda olhei o casal de jovens. Dividiam uma
sobremesa cremosa usando uma única colher,
que ia de uma boca à outra com pequenos
bocados de doce. Quanta doçura! Quanta
delicadeza!
CARLOS, Manoel. Veja Rio, São Paulo, 19. de out.
2011 p. 130.   

QUESTÃO 1 - A crônica de Manoel Carlos traz
um apanhado de informações que aborda o
tema delicadeza. Tomando por base essa
discussão, pode-se inferir que
(A) a delicadeza do rapaz que atendeu o
celular era artificial.
(B) a delicadeza depende de uma boa
educação.
(C) Marcel Proust tinha delicadeza, mas não
uma boa educação.
(D) Olavo e Rutinha eram indelicados um com
o outro.
(E) o narrador admirou-se com a delicadeza
do casal que tomava sorvete.
QUESTÃO 2 - Ao abordar o tema “delicadeza”,
o autor Manoel Carlos estrutura o seu texto
utilizando, na sequência, os seguintes recursos:
(A) Narração de uma cena – Definição de um
conceito – Exemplificação do conceito –
Narração de outra cena.
(B) Definição de um conceito – Narração de
uma cena – Exemplificação do conceito –
Narração de outra cena.
(C) Narração de uma cena – Exemplificação de
um conceito – Narração de outra cena –
Definição do conceito.
(D) Exemplificação de um conceito – Narração
de uma cena – Narração de outra cena –
Definição do conceito.
(E) Narração de uma cena – Narração de outra
cena – Exemplificação de um conceito –
Definição do conceito.
QUESTÃO 3 - Entre os personagens citados no
texto, aquele que, de acordo com a crônica,
contraria os exemplos de delicadeza é
(A) Marcel Proust.
(B) Celeste Albaret.
(C) Olavo.
(D) Rutinha.
(E) o narrador.
QUESTÃO 4 - “Proust pedia a Celeste Albaret,
sua governanta e confidente, que dissesse ao
visitante que ele não estava em casa, ou que
estava dormindo, ou que estava gripado,
ou...”(3º parágrafo)
A melhor justificativa para o uso das reticências
na passagem acima é
(A) encerrar uma declaração textual.
(B) ressaltar a expressividade do escritor.
(C) denotar a interrupção do pensamento.
(D) sugerir a continuidade do pensamento.
(E) criar suspense para finalizar a frase.
QUESTÃO 5 - “Estava eu sozinho no Café
Severino, num fim de tarde desta indecisa e
chuvosa primavera.” (1º parágrafo)
Nessa frase, a palavra que atribui
características humanas a seres inanimados é
(A) sozinho.
(B) Severino.
(C) fim.
(D) indecisa.
(E) chuvosa.
QUESTÃO 6 - No terceiro parágrafo do texto,
ao se referir a Marcel Proust, o narrador utiliza
predominantemente um tempo verbal que
exprime ações
(A) concluídas no tempo passado.
(B) simultâneas ao momento da narração.
(C) contínuas no tempo passado.
(D) não realizadas no momento da narração.
(E) incertas em relação a fatos passados.
QUESTÃO - 7 “E foi o que conseguiu, ainda
que muitas vezes ignorando a boa educação e
sacrificando a delicadeza, que lhe eram inatas.”
(3º parágrafo)
A palavra em destaque substitui, no texto o
termo
(A) Marcel Proust.
(B) família.
(C) catedral.
(D) boa educação.
(E) delicadeza.
QUESTÃO 8 - No fragmento “Ao me afastar,
ainda olhei o casal de jovens.” (último
parágrafo)
A oração destacada poderia ser expandida,
SEM ALTERAÇÃO DE SENTIDO, por:
(A) quando me afastei.
(B) porque me afastava.
(C) depois que me afastei.
(D) já que me afastei.
(E) como me afastei.
QUESTÃO 9 - “Depois de um beijo, ele puxou a
cadeira para ela sentar-se.” (1º parágrafo)
A palavra destacada liga duas orações e
estabelece entre elas uma relação de sentido
de
(A) oposição.
(B) comparação.
(C) simultaneidade.
(D) finalidade.
(E) explicação.
QUESTÃO 10 - “E foi o que conseguiu, ainda
que muitas vezes ignorando a boa educação e
sacrificando a delicadeza, que lhe eram inatas.
(10º parágrafo)
Os termos destacados ligam duas orações e
estabelecem entre elas uma relação de sentido
de:
 (A) condição.
(B) consequência.
(C) concessão.
(D) conformidade.
(E) comparação.

 
Gabarito do exercício de Língua Portuguesa
1    2   3   4   5    6    7   8    9   10
E   A   D  D   D   C   A   A   D   C

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Oi! Deixe aqui seu recadinho, obrigada.