Paulo
Freire foi um dos primeiros presos políticos da ditadura militar de 64. Duas semanas
após o golpe, foi convocado a dar esclarecimentos sobre sua pedagogia que , por propor a
reflexão crítica sobre a realidade, era considerada subversiva. A leitura da palavra é inseparável
da leitura do mundo; ler o mundo é desvelar estruturas geradoras da desigualdade e da
opressão.
Segundo
Freire, a escola reproduzia a desigualdade por meio da “educação bancária”: depositava
no aprendiz, como numa conta bancária, a informação que na avaliação era
sacada. Se a classe dominante se utiliza da escola para veicular sua ideologia,
a classe oprimida deve se utilizar dela para exercitar a crítica desde a raiz
dos problemas, questionar as “verdades” da mídia, a ideologia dominante,
desocultar o real. Freire define a prática pedagógica como política, meio para
a construção de novas relações sociais.
Sobre
a prática política dos docentes, destaca que ao participar do movimento
sindical, o educador dá a melhor lição sobre luta e emancipação da classe
trabalhadora. Ao possibilitar ao aluno a vivência política do movimento
sindical através de seu próprio exemplo. O educador educa para a transformação.
Denuncia o neoliberalismo e sua tendência à mercantilização de todas as esferas
da vida, inclusive a formação humana. Critica a substituição do pensamento
crítico pelo pós-crítico ou simbólico, ao qual chamou de “simbolismo-diabólico”,
por ocultar as estruturas dominantes.;
Ser
freireano hoje é recuperar o papel político do educador; construir o
protagonismo de educadores e educandos na definição dos projetos político-pedagógicos;
regatar a escola da ditadura do mercado e de seus representantes nas políticas
educacionais, como os organismos internacionais; lutar contra a concepção
naturalizada pelo neoliberalismo de que educar é treinar, de que formar se
reduz a preparar para o mercado, a gerar empregabilidade. É ser capaz de educar
para a indignação transformadora. (Por Aparecida Tiradentes, Doutora em
/Educação pela UFRJ, professora da Fio Cruz)
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