Resenha Critica de Articulação do Texto
Amanda Alves Martins
Resenha Crítica do livro A Articulação do Texto, da autora
Elisa Guima-
rães
No livro de Elisa Guimarães, A Articulação do Texto, a
autora procura
esclarecer as dúvidas referentes à formação e à compreensão
de um texto
e do seu contexto.
Formado por unidades coordenadas, ou seja, interligadas
entre si, o
texto constitui, portanto, uma unidade comunicativa para os
membros de
uma comunidade; nele, existe um conjunto de fatores
indispensáveis para a
sua construção, como “as intenções do falante (emissor), o
jogo de ima-
gens conceituais, mentais que o emissor e destinatário
executam.”(Manuel
P. Ribeiro, 2004, p.397). Somado à isso, um texto não pode
existir de forma
única e sozinha, pois depende dos outros tanto
sintaticamente quanto
semanticamente para que haja um entendimento e uma
compreensão
deste. Dentro de um texto, as partes que o formam se
integram e se expli-
cam de forma recíproca.
Completando o processo de formação de um texto, a autora nos
escla-
rece que a economia de linguagem facilita a compreensão
dele, sendo
indispensável uma ligação entre as partes, mesmo havendo um
corte de
trechos considerados não essenciais.
Quando o tema é a “situação comunicativa” (p.7), a autora
nos esclare-
ce a relação texto X contexto, onde um é essencial para
esclarecermos o
outro, utilizando-se de palavras que recebem diferentes
significados con-
forme são inseridas em um determinado contexto; nos levando
ao entendi-
mento de que não podemos considerar isoladamente os seus
conceitos e
sim analisá-los de acordo com o contexto semântico ao qual
está inserida.
Segundo Elisa Guimarães, o sentido da palavra texto estende-se
a uma
enorme vastidão, podendo designar “um enunciado qualquer,
oral ou escri-
to, longo ou breve, antigo ou moderno” (p.14) e ao contrário
do que muitos
podem pensar, um texto pode ser caracterizado como um
fragmento, uma
frase, um verbo ect e não apenas na reunião destes com mais
algumas
outras formas de enunciação; procurando sempre uma
objetividade para
que a sua compreensão seja feita de forma fácil e clara.
Esta economia textual facilita no caminho de transmissão
entre o enun-
ciador e o receptor do texto que procura condensar as
informações recebi-
das a fim de se deter ao “núcleo informativo” (p.17), este
sim, primordial a
qualquer informação.
A autora também apresenta diversas formas de classificação
do discur-
so e do texto, porém, detenhamo-nos na divisão de texto
informativo e de
um texto literário ou ficcional.
Analisando um texto, é possível percebermos que a repetição
de um
nome/lexema, nos induz à lembrar de fatos já abordados,
estimula a nossa
biblioteca mental e a informa da importância de tal nome,
que dentro de um
contexto qualquer, ou seja que não fosse de um texto
informacional, seria
apenas caracterizado como uma redundância desnecessária.
Essa repeti-
ção é normalmente dada através de sinônimos ou “sinônimos
perfeitos”
(p.30) que permitem a permutação destes nomes durante o
texto sem que o
sentido original e desejado seja modificado.
Esta relação semântica presente nos textos ocorre devido às
interpre-
tações feitas da realidade pelo interlocutor, que utiliza a
chamada “semânti-
ca referencial” (p.31) para causar esta busca mental no
receptor através de
palavras semanticamente semelhantes à que fora enunciada,
porém, existe
ainda o que a autora denominou de “inexistência de sinônimo
perfeito”
(p.30) que são sinônimos porém quando posto em substituição
um ao outro
não geram uma coerência adequada ao entendimento.
Nesta relação de substituição por sinônimos, devemos ter
cautela
quando formos usar os “hiperônimos” (p.32), ou até mesmo a
“hiponímia”
(p.32) onde substitui-se a parte pelo todo, pois neste
emaranhado de subs-
tituições pode-se causar desajustes e o resultado final não
fazer com que a
imagem mental do leitor seja ativada de forma corretamente,
e outra assimi-
lação, errônea, pode ser utilizada.
Seguindo ainda neste linear das substituições, existem ainda
as “nomi-
nações” e a “elipse”, onde na primeira, o sentido
inicialmente expresso por
um verbo é substituído por um nome, ou seja, um substantivo;
e, enquanto
na segunda, ou seja, na elipse, o substituto é nulo e
marcado pela flexão
verbal; como podemos perceber no seguinte exemplo retirado
do livro de
Elisa Guimarães:
“Louve-se nos mineiros, em primeiro lugar, a sua presença
suave. Mil
deles não causam o incômodo de dez cearenses.
__Não grita, ___ não empurram< ___ não seguram o braço da
gente,
___ não impõem suas opiniões. Para os importunos inventaram
eles uma
palavra maravilhosamente definidora e que traduz bem a sua
antipatia para
essa casta de gente (...)” (Rachel de Queiroz. Mineiros. In:
Cem crônicas
escolhidas. Rio de Janeiros, José Olympio, 1958, p.82).
Porém é preciso especificar que para que haja a elipse o
termo elíptico
deve estar perfeitamente claro no contexto. Este conceito e
os demais já
ditos anteriormente são primordiais para a compreensão e
produção textu-
al, uma vez que contribuem para a economia de linguagem,
fator de grande
valor para tais feitos.
Ao abordar os conceitos de coesão e coerência, a autora
procura pri-
meiramente retomar a noção de que a construção do texto é
feita através
de “referentes linguísticos” (p.38) que geram um conjunto de
frases que irão
constituir uma “microestrutura do texto” (p.38) que se
articula com a estrutu-
ra semântica geral. Porém, a dificuldade de se separar a
coesão da coe-
rência está no fato daquela está inserida nesta, formando
uma linha de
raciocínio de fácil compreensão, no entanto, quando ocorre
uma incoerên-
cia textual, decorrente da incompatibilidade e não exatidão
do que foi
escrito, o leitor também é capaz de entender devido a sua
fácil compreen-
são apesar da má articulação do texto.
A coerência de um texto não é dada apenas pela boa
interligação entre
as suas frases, mas também porque entre estas existe a
influência da
coerência textual, o que nos ajuda a concluir que a coesão,
na verdade, é
efeito da coerência. Como observamos em Nova Gramática
Aplicada da
Língua Portuguesa de Manoel P. Ribeiro (2004, 14ed):
A coesão e a coerência trazem a característica de promover a
inter-
relação semântica entre os elementos do discurso,
respondendo pelo que
chamamos de conectividade textual. “A coerência diz respeito
ao nexo
entre os conceitos; e a coesão, à expressão desse nexo no
plano linguísti-
co” (VAL, Maria das Graças Costa. Redação e textualidade,
1991, p.7)
No capítulo que diz respeito às noções de estrutura, Elisa Guimarães,
busca ressaltar o nível sintático representado pelas
coordenações e subor-
dinações que fixam relações de “equivalência” ou
“hierarquia” respectiva-
mente.
Um fato importante dentro do livro A Articulação do Texto, é
o valor atribuí-
do às estruturas integrantes do texto, como o título, o
parágrafo, as inter e
intrapartes, o início e o fim e também, as superestruturas.
O título funciona como estratégica de articulação do texto
podendo de-
sempenhar papéis que resumam os seus pontos primordiais, como
tam-
bém, podem ser desvendados no decorrer da leitura do texto.
Os parágrafos esquematizam o raciocínio do escritos, como
enuncia
Othon Moacir Garcia:
“O parágrafo facilita ao escritor a tarefa de isolar e
depois ajustar con-
venientemente as ideias principais da sua composição,
permitindo ao leitor
acompanhar-lhes o desenvolvimento nos seus diferentes
estágios”.
É bom relembrar, que dentro do parágrafo encontraremos o
chamado
tópico frasal, que resumirá a principal ideia do parágrafo
no qual esta inse-
rido; e também encontraremos, segundo a autora, dez
diferentes tipos de
parágrafo, cada qual com um ponto de vista específico.
No que diz respeito ao tópico Inicio e fim, Elisa Guimarães
preferiu a-
bordá-los de forma mútua já que um é consequência ou
decorrência do
outro; ficando a organização da narrativa com uma forma de
estrutura
clássica e seguindo uma linha sequencial já esperada pelo
leitor, onde o
início alimenta a esperança de como virá a ser o texto,
enquanto que o fim
exercer uma função de dar um destaque maior ao fechamento do
texto, o
que também, alimenta a imaginação tanto do leito, quanto do
próprio autor.
No geral, o que diz respeito ao livro A Articulação do Texto
de Elisa
Guimarães, ele nos trás um grande número de informações e
novos concei-
tos em relação à produção e compreensão textual, no entanto,
essa grande
leva de informações muitas vezes se tornam confusas e acabam
por des-
prenderem-se uma das outras, quebrando a linearidade de todo
o texto e
dificultando o entendimento teórico.
A REFERENCIAÇÃO / OS REFERENTES / COERÊNNCIA E COESÃO
A fala e também o texto escrito constituem-se não apenas
numa se-
quência de palavras ou de frases. A sucessão de coisas ditas
ou escritas
forma uma cadeia que vai muito além da simples
sequencialidade: há um
entrelaçamento significativo que aproxima as partes
formadoras do texto
falado ou escrito. Os mecanismos linguísticos que
estabelecem a conectivi-
dade e a retomada e garantem a coesão são os refeerentes
textuais. Cada
uma das coisas ditas estabelece relações de sentido e
significado tanto
com os elementos que a antecedem como com os que a sucedem,
constru-
indo uma cadeia textual significativa. Essa o o o coeesão,
que dá unidade ao
texto, vai sendo construída e se evidencia pelo emprego de
diferentes
procedimentos, tanto no campo do léxico, como no da
gramática. (Não
esqueçamos que, num texto, não existem ou não deveriam
existir elemen-
tos dispensáveis. Os elementos constitutivos vão construindo
o texto, e são
as articulações entre vocábulos, entre as partes de uma
oração, entre as
orações e entre os parágrafos que determinam a
referenciação, os contatos
e conexões e estabelecem sentido ao todo.)
Atenção especial concentram os procedimentos que garantem ao
texto
coesão e coerência. São esses procedimentos que desenvolvem
a dinâmi-
ca articuladora e garantem a progressão textual.
A coesão é a manifestação linguística da coerência e se
realiza nas re-
lações entre elementos sucessivos (artigos, pronomes
adjetivos, adjetivos
em relação aos substantivos; formas verbais em relação aos
sujeitos;
tempos verbais nas relações espaço-temporais constitutivas
do texto etc.),
na organização de períodos, de parágrafos, das partes do
todo, como
formadoras de uma cadeia de sentido capaz de apresentar e
desenvolver
um tema ou as unidades de um texto. Construída com os
mecanismos
gramaticais e lexicais, confere unidade formal ao texto.
1. Considere-se, inicialmente, a coesão apoiada no léxico.
Ela pode
dar-se pela reiteração, pela substituição e pela associação.
É garantida com o emprego de:
• enlaces semânticos de frases por meio da repetição. A
mensagem-
tema do texto apoiada na conexão de elementos léxicos sucessi-
vos pode dar-se por simples iteração (repetição). Cabe,
nesse ca-
so, fazer-se a diferenciação entre a simples redundância
resultado
da pobreza de vocabulário e o emprego de repetições como
recur-
so estilístico, com intenção articulatória. Ex.: “As contas
do patrão
eram diferentes, arranjadas a tinta e contra o vaqueiro, mas
Fabia-
no sabia que elas estavam erradas e o patrão queria enganá-
lo.Enganava.” Vidas secas, p. 143);
• substituição léxica, que se dá tanto pelo emprego de
sinônimos
como de palavras quase sinônimas. Considerem-se aqui além
das
palavras sinônimas, aquelas resultantes de famílias
ideológicas e
do campo associativo, como, por exemplo, esvoaçar, revoar,
voar;
• hipônimos (relações de um termo específico com um termo de
sen-
tido geral, ex.: gato, felino) e hiperônimos (relações de um
termo
de sentido mais amplo com outros de sentido mais específico,
ex.:
felino, gato);
• nominalizações (quando um fato, uma ocorrência, aparece em
forma de verbo e, mais adiante, reaparece como substantivo,
ex.:
consertar, o conserto; viajar, a viagem). É preciso
distinguir-se en-
tre nominalização estrita e. generalizações (ex.: o cão <
o animal)
e especificações (ex.: planta > árvore > palmeira);
• substitutos universais (ex.: João trabalha muito. Também o
faço. O
verbo fazer em substituição ao verbo trabalhar);
• enunciados que estabelecem a recapitulação da ideia
global. Ex.:
O curral deserto, o chiqueiro das cabras arruinado e também
dd- - - e-
serto, a casa do vaqueiro fechada, tudo anunciava abandono
(VV- - - i-
das Secas, p.11). Esse enunciado é chamado de anáfora
concep-
tual. Todo um enunciado anterior e a ideia global que ele
refere
são retomados por outro enunciado que os resume e/ou
interpreta.
Com esse recurso, evitam-se as repetições e faz-se o
discurso a-
vançar, mantendo-se sua unidade.
2. A coesão apoiada na gramática dá-se no uso de:
• certos pronomes (pessoais, adjetivos ou substantivos).
Destacam-
se aqui os pronomes pessoais de terceira pessoa, empregados
como substitutos de elementos anteriormente presentes no
texto,
diferentemente dos pronomes de 1ª e 2ª pessoa que se referem
à
pessoa que fala e com quem esta fala.
• certos advérbios e expressões adverbiais;
• artigos;
• conjunções;
• numerais;
• elipses. A elipse se justifica quando, ao remeter a um
enunciado
anterior, a palavra elidida é facilmente identificável (Ex.:
O jovem
recolheu-se cedo. ... Sabia que ia necessitar de todas as
suas for-
ças. O termo o jovem deixa de ser repetido e, assim,
estabelece a
relação entre as duas orações.). É a própria ausência do
termo que
marca a inter-relação. A identificação pode dar-se com o
próprio
enunciado, como no exemplo anterior, ou com elementos
extraver-
bais, exteriores ao enunciado. Vejam-se os avisos em lugares
pú-
blicos (ex.: Perigo!) e as frases exclamativas, que remetem
a uma
situação não-verbal. Nesse caso, a articulação se dá entre
texto e
contexto (extratextual);
• as concordâncias;
• a correlação entre os tempos verbais.
Os dêiticos exercem, por excelência, essa função de progressão
textu-
al, dada sua característica: são elementos que não
significam, apenas
indicam, remetem aos componentes da situação comunicativa.
Já os com-
ponentes concentram em si a significação. Referem os
participantes do ato
de comunicação, o momento e o lugar da enunciação.
Elisa Guimarães ensina a respeito dos dêiticos:
Os pronomes pessoais e as desinências verbais indicam os
participan-
tes do ato do discurso. Os pronomes demonstrativos, certas
locuções
prepositivas e adverbiais, bem como os advérbios de tempo,
referenciam o
momento da enunciação, podendo indicar simultaneidade,
anterioridade ou
posterioridade. Assim: este, agora, hoje, neste momento
(presente); ulti-
mamente, recentemente, ontem, há alguns dias, antes de
(pretérito); de
agora em diante, no próximo ano, depois de (futuro).
Maria da Graça Costa Val lembra que “esses recursos
expressam rela-
ções não só entre os elementos no interior de uma frase, mas
também
entre frases e sequências de frases dentro de um texto”.
Não só a coesão explícita possibilita a compreensão de um
texto. Mui-
tas vezes a comunicação se faz por meio de uma coesão
implícita, apoiada
no conhecimento mútuo anterior que os participantes do
processo comuni-
cativo têm da língua.
A ligação lógica das ideias
Uma das características do texto é a organização sequencial
dos ele-
mentos linguísticos que o compõem, isto é, as relações de
sentido que se
estabelecem entre as frases e os parágrafos que compõem um
texto,
fazendo com que a interpretação de um elemento linguístico
qualquer seja
dependente da de outro(s). Os principais fatores que
determinam esse
encadeamento lógico são: a articulação, a referência, a
substituição voca-
bular e a elipse.
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