A turma perde a timidez, amplia os horizontes
culturais e trabalha bem em grupo quando a arte cênica faz parte do currículo
Mesmo sem se dar conta, todos os dias ao entrar na sala de aula
você e seus alunos tomam emprestados alguns recursos da linguagem teatral. Ao
ler um conto em voz alta, os estudantes naturalmente impostam a voz e mudam a
entonação marcando os diferentes personagens. Para manter a atenção da turma em
suas explicações é bem provável que você imponha ao corpo uma postura mais
rígida, abuse dos gestos e capriche nas expressões faciais. Mas o teatro pode ser
usado também como uma ferramenta pedagógica. "Uma das grandes riquezas
dessa atividade na escola é a possibilidade do aluno se colocar no lugar do
outro e experimentar o mundo sem correr riscos", avalia Maria Lúcia Puppo,
professora de licenciatura em Artes Cênicas da Universidade de São Paulo (USP).
E são muitas as habilidades desenvolvidas com essa prática.
O contato com a linguagem teatral ajuda crianças e adolescentes
a perder continuamente a timidez, a desenvolver e priorizar a noção do trabalho
em grupo, a se sair bem de situações onde é exigido o improviso e a se
interessar mais por textos e autores variados. "O teatro é um exercício de
cidadania e um meio de ampliar o repertório cultural de qualquer
estudante", argumenta Ingrid Dormien Koudela, consultora do Ministério da
Educação na elaboração dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) na área.
A criatividade é o único recurso indispensável
"A escola não precisa de um espaço com poltronas confortáveis ou ricos
figurinos para montar uma peça", avisa a atriz e orientadora pedagógica
Beth Zalcman, da Escola Eliezer Steinbarg-Max Nordau, do Rio de Janeiro.
O professor Leandro Karnal, da Universidade de Campinas, vai no mesmo caminho
que Beth. Ele lembra que ainda durante a época colonial os jesuítas já
utilizavam o teatro como exercício escolar com bons resultados e sem grandes
recursos. "Cabe a cada professor descobrir os recursos necessários para o
trabalho que pretende desenvolver. Mas o principal é sempre a
criatividade", alerta.
A linguagem lúdica, multifacetada e pouco dependente da escrita é ideal para
colocar em cartaz com a garotada espetáculos sobre a cultura local ou os
acontecimentos cotidianos, por exemplo. A atividade desenvolve a oralidade, os
gestos, a linguagem musical e, principalmente, a corporal.
Contato com companhias profissionais é valioso
A presença efetiva da arte de representar na educação brasileira é um fenômeno
recente. O ensino de Educação Artística, regulamentado em 1971, sempre
priorizou as artes plásticas. Com o passar do tempo, a aproximação entre
escolas e grupos teatrais e o crescimento dos cursos de graduação em Artes
Cênicas pelo país contribuíram para o aumento e a valorização do teatro em sala
de aula.
Você pode incluir atividades baseadas nessa linguagem em seu planejamento e ir
além. Uma forma é fazer parcerias com grupos de teatro da região. O contato com
atores profissionais é muito rico. Ele possibilita a discussão sobre o
aproveitamento dos espaços físicos da escola e o intercâmbio de idéias e
experiências.
Vale a pena também ficar atento à programação cultural da cidade. Entre em
contato com companhias teatrais e veja a possibilidade de trazê-las para a escola.
E, se possível, leve a turma a uma sala de espetáculos para assistir a
montagens profissionais. "O hábito de ir ao teatro também deve ser
desenvolvido nas aulas de Artes", conclui Ingrid.
Os cuidados para montar um bom projeto
• Fazer teatro na escola não é simplesmente encenar uma passagem
da nossa história ou levar para o palco os personagens e a trama do livro lido
pela turma no encerramento do semestre. De acordo com Tuna Serzedelo e Maíra
Silveira, professores do Colégio São Luís, de São Paulo, trabalhar com a arte
da representação exige conhecimento técnico. Por isso, para desenvolver um
trabalho que introduza crianças e jovens nessa linguagem, os professores das
diversas disciplinas devem se associar ao de Artes. Aprenda com a experiência
da dupla.
• Coloque a classe em contato com diversos livros de autores com estilos
variados e observe o tipo de texto (tragédia, comédia, situações do cotidiano,
mistério etc.) que mais chama a atenção do grupo.
• Em uma encenação, podem ser transmitidos conhecimentos culturais, históricos,
científicos ou morais, por exemplo, mas eles não devem ser vistos como
objetivo, e sim como conseqüência. O ideal é que os alunos se envolvam com a
trama e os personagens e sintam prazer em representar.
• Peça que os estudantes façam um mapeamento dos folguedos populares, festas,
autos e outras manifestações folclóricas que possam ser representadas na
escola.
• Evite montar um espetáculo que já esteja pronto e não busque se aproximar do
que foi encenado por alguma companhia famosa. Incentive o grupo a criar suas
próprias encenações. "Cada montagem é única", apregoa Serzedelo. O
professor dirigiu uma adaptação feita pelos próprios alunos do Ensino Médio de
O Caso dos Dez Negrinhos, da escritora inglesa Agatha Christie.
• Deixe as crianças ousarem. Maíra já trabalhou com a garotada na montagem de
uma peça que uniu elementos dos clássicos Auto da Barca do Inferno, de Gil
Vicente, e Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna. O resultado foi o
espetáculo Auto da Barca da Paulista, numa referência à famosa avenida da
capital paulista, que passa próxima ao colégio. Ações como essas, sugeridas
pelos adolescentes, têm maior chance de fazer sucesso.
• Estimule a participação de todos os estudantes, sem exigir profissionalismo.
Há os que falam baixo ou os que ficam de costas para a platéia. Mas todos podem
aprender.
• Fotografe e filme as encenações. Depois, convide a classe para analisar a
montagem. Esse exercício de auto-avaliação serve para afinar as próximas
apresentações.
Quer saber mais?
Colégio
São Luis, R. Rua Haddock Lobo, 400, 01414-902, São Paulo, SP, tel. (11)
3138 9600, internet:www.saoluis.org
Escola Eliezer Steinbarg-Max Nordau, R. das Laranjeiras, 405, 22240-002, Rio de Janeiro, RJ, tel. (21) 2556-7797, internet: www.eliezermax.com.br
BIBLIOGRAFIA
Cem Anos de Teatro em São Paulo, Sábato Magaldi e Maria Thereza Vargas, 454 págs., Ed. Senac, tel. (11) 3284-4322, 55 reais
Jogos Teatrais, Ingrid Dormien Koudela, 155 págs., Ed. Perspectiva, tel. (11) 3885-8388, 22 reais
Quando Anchieta Chegou ao Brasil (Coleção Eu Era Criança), Leandro Karnal, 32 págs., Ed. FTD, tel. 0800-158555, 12,80 reais
INTERNET
No site www.eca.usp.br/prof/ingrid/ você conhece o trabalho da professora Ingrid Dormien Koudela
A página www.ctac.gov.br/tdb apresenta um banco de dados sobre vários teatros brasileiros.
Escola Eliezer Steinbarg-Max Nordau, R. das Laranjeiras, 405, 22240-002, Rio de Janeiro, RJ, tel. (21) 2556-7797, internet: www.eliezermax.com.br
BIBLIOGRAFIA
Cem Anos de Teatro em São Paulo, Sábato Magaldi e Maria Thereza Vargas, 454 págs., Ed. Senac, tel. (11) 3284-4322, 55 reais
Jogos Teatrais, Ingrid Dormien Koudela, 155 págs., Ed. Perspectiva, tel. (11) 3885-8388, 22 reais
Quando Anchieta Chegou ao Brasil (Coleção Eu Era Criança), Leandro Karnal, 32 págs., Ed. FTD, tel. 0800-158555, 12,80 reais
INTERNET
No site www.eca.usp.br/prof/ingrid/ você conhece o trabalho da professora Ingrid Dormien Koudela
A página www.ctac.gov.br/tdb apresenta um banco de dados sobre vários teatros brasileiros.
http://revistaescola.abril.com.br/arte/pratica-pedagogica/teatro-ensina-viver-424918.shtml
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