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sexta-feira, 25 de julho de 2014
terça-feira, 22 de julho de 2014
Deus e o diabo de Guimarães Rosa
Jornal da UFRJ março
2006 p.24 (por Joana Jahara)
Deus e o diabo de Guimarães Rosa
Há
50 anos Guimarães Rosa revolucionava a literatura brasileira com “Grande Sertão: Veredas”. Considerado pelos críticos como o principal romance
brasileiro do século XX, o livro inventou uma nova língua para traduzir a
epopeia sertaneja. A história do amor proibido de Riobaldo, o narrador, por
Diadorim, é o centro da narrativa, que além de técnica e linguagem
surpreendentes, produz uma análise profunda dos conflitos psicológicos
presentes na história.
João
Guimarães rosa nasceu um Cordisburgo, centro-norte de Minas Gerais, em 1908.
Formou-se em Medicina e clinicou pelo interior do estado. Mas, a profissão não
foi o seu forte, nem a diplomacia, atividade que se dedicou a partir de 1934,
levado pelo domínio e interesse por idiomas. Em sua autoanálise, define que
“chegamos novamente a um ponto em que o homem e sua biografia resultam em algo
completamente novo. Sim, fui médico, rebelde, soldado. Foram etapas importantes
de minha vida e, a rigor, esta sucessão constitui um paradoxo. Como médico,
conheci o valor do sofrimento; como rebelde, o valor da consciência; como
soldado, o valor da proximidade da morte.” Guimarães faleceu aos 59 anos, em
decorrência de um enfarte, três dias após tomar posse na Academia Brasileira de
Letras.
O
lançamento do romance “Grande Sertão: Veredas”,
em 1946, causou um grande impacto na crítica. Essa, acostumada a um outro tipo
de obra , de linguagem coloquial sóbria e narrativa de caráter social e
temática nordestina, de autores como Graciliano Ramos, Jorge Amado, Raquel de Queiroz,
José Lins do Rego, entre outros da segunda geração modernista, chocou-se com as
inovações linguísticas do livro.Guimarães rosa, considerado um poeta da
terceira geração, foi acusado de se dedicar excessivamente à forma, à linguagem
, em detrimento do conteúdo.
Eduardo
Coutinho, professor do Departamento de Ciência da Literatura da Faculdade de
letras/ UFRJ e estudioso de Guimarães, afirma que a acusação de ser conservador
e alienado foi revista pela crítica posteriormente: “em princípio, não se havia
percebido que essas inovações formais implicavam em algo muito mais amplo”. “A
sua proposta era de caráter estético-político, onde a intenção era de parar,
pensar e refletir sobre as estruturas estabelecidas, verdades até então consideradas
inquestionáveis”.
Exemplos
de trechos do livro não faltam para entender que as inovações postas por
Guimarães rosa ocorrem em todos os estratos da linguagem. Seja no plano do
léxico, da sintaxe, da morfologia e também do fonético. “Em uma análise de caso
morfolexical (morfológico e de vocabulário), logo no início do livro, o leitor
se depara com a palavra sozinhozinho. Ele a estranha, porque ela não faz parte
da norma corrente da linguagem. Esse estranhamento faz com que se pare um pouco
a leitura e pense sobre qual o sentido em reduplicar o sufixo. A intenção é mostrar
que a palavra sozinho é diferente de só. Isso é fascinante no Grande Sertão,
porque são essas mudanças que alteram inclusive o plano da estrutura narrativa”,
analisa Coutinho.
O
romance é formado inteiramente a partir da linguagem e é ela que dá vazão às
ações e justifica as façanhas dos jagunços, em um tempo indeterminado, mas num
espaço definido, na fronteira entre Minas Gerais, Bahia, e Goiás. É o sertão de
Guimarães rosa, mítico, diferente do sertão circunscrito cientificamente por
Euclides da Cunha, em Os Sertões (1902), livro que, de acordo com Eduardo
Coutinho, é remetido com uma certa frequência.
Ser e não ser
Para
compreender a intenção de Guimarães rosa é preciso ir além. O ritmo do livro se
diferencia em certos momentos, ora acelerado, ora lento, na mistura entre prosa
e poesia. Elementos excludentes parecem se completar: Deus e o diabo, céu e
terra, dia e noite, amor e violência, o bem e o mal, e a morte. “É uma
formidável indagação sobre tudo isso, que vem de toda uma tradição literária.
Afinal, o diabo existe? É a pergunta que ele faz no livro. O protagonista
Riobaldo se pergunta o tempo todo sobre o estranho sentimento que nutre em
relação ao jagunço Diadorim (na verdade, uma mulher disfarçada de guerreiro
para vingar a morte do pai). Não ter percebido que era uma mulher é o que mais
o atormenta. Para Guimarães Rosa, faz parte do aprendizado saber que é preciso
haver distanciamento para enxergar uma devida situação”, afirma Eduardo
Coutinho. O Grande Sertão: Veredas
conta com a experiência biográfica do autor. Foi na região que ele cresceu.
Relatar com um distanciamento o faz entender e também descobrir situações
ocorridas quando era jovem.
O
olhar roseano desmonta toda uma tradição que sustenta a modernidade ocidental e
que vem sendo posta desde o início do século XX. Põe em xeque a perspectiva excludente da
lógica cartesiana a tradicional: ”as coisas são ou não são. Isto é ou não é. To
be or is not to be. No Grande Sertão, uma espécie de lógica inclusiva vai se
opor a esse pensamento. Ao invés do ser ou não ser, tudo passa a ser e não ser.
Com base nisso pode-se dizer da relação ente Riobaldo e Diadorim: é e não é
homossexual, é mulher e não é (inserindo o papel do sexto sentido), como todas
as dúvidas de Riobaldo que são e não são”, analisa Coutinho. O que existe é o
homem humano atravessado por espantos e perplexidades onde o bem e o mal, ao
invés de se oporem, acabem se completando. Enfim, eternas contradições humanas.
O diabo existe.
Guimarães Rosa
João Guimarães Rosa nasceu em 27
de junho de 1908 na cidade de Cordisburgo, Mina Geral. Autodidata, começou
ainda criança a estudar diversos idiomas, iniciando pelo francês, quando nem
completara sete anos. Em 1925 matriculou-se na Faculdade de Medicina da
Universidade de Minas Gerais, formando-se em 1930. No mesmo ano, casou-se com
Lígia Cabral Penna, com quem teve duas filhas.
Passou a exercer a profissão de médico no interior de Minas Gerais, onde teve um primeiro encontro com os elementos e a realidade do sertão. Durante a Revolução Constitucionalista de 1932 atuou como médico voluntário. Mais tarde foi aprovado no concurso e ingressou na Força Pública. Em 1934 foi aprovado em um concurso para o Itamaraty e exerceu diversas funções diplomáticas no exterior, tais como a de cônsul em Hamburgo, na Alemanha – onde conheceu Aracy Moebius de Carvalho (Ara), sua segunda mulher. De volta ao Brasil, em 1951, assumiu outros cargos no Itamaraty, sendo promovido em 1958 a ministro de primeira classe, cargo correspondente a embaixador.
Ao lado de sua atividade profissional, como médico ou como diplomata, Guimarães Rosa nunca deixou de escrever. Tinha também paixão por aprender outros idiomas. Seus conhecimentos nesse campo impressionavam pela amplitude: falava fluentemente alemão, francês, inglês, espanhol, italiano e esperanto, além de um pouco de russo. Lia em sueco, holandês, latim e grego. Havia estudado também a gramática das seguintes línguas: húngaro, árabe, sânscrito, lituano, polonês, tupi, hebraico, japonês, tcheco, finlandês e dinamarquês.
A estreia literária de Guimarães Rosa se deu em 1929, quando a revista “O Cruzeiro” publicou alguns contos seus, vencedores de um concurso literário da edição. Seu primeiro livro, a coletânea de contos "Sagarana", foi publicado em 1946 e chamou muita atenção pelas inovações técnicas e riqueza de simbologias.
O escritor fez, em maio de 1952, um percurso de 240 quilômetros no sertão mineiro, durante dez dias, conduzindo uma boiada. Na viagem, anotou expressões, casos, histórias, procurando apreender de forma mais profunda aquele universo com o qual tinha contato desde a infância. Seu intuito era recriar literariamente o sertão, dando voz a seus personagens. Dessa viagem resultou seu único romance, "Grande Sertão: Veredas", publicado em 1956 e tido como um dos mais importantes textos da literatura brasileira de todos os tempos.
Em 1961, Guimarães Rosa recebeu da Academia Brasileira de Letras o Prêmio Machado de Assis pelo conjunto de sua obra. Candidatou-se à Academia Brasileira de Letras, pela segunda vez, em 1963 e foi eleito por unanimidade. Mas não foi empossado imediatamente, porque adiou a cerimônia enquanto pôde. Dizia ter medo de morrer no dia do evento. Só tomou posse em 16 de novembro de 1967. Três dias depois, em 19 de novembro, morreu subitamente em seu apartamento no Rio de Janeiro, de infarto.
Suas principais obras são: "Sagarana" (1946), "Grande Sertão: Veredas" (1956), "Corpo de Baile" (1956; atualmente é publicada em três volumes: "Manuelzão e Miguilim", "No Urubuquaquá, no Pinhém" e "Noites do Sertão") e "Primeiras Estórias" (1962).
Passou a exercer a profissão de médico no interior de Minas Gerais, onde teve um primeiro encontro com os elementos e a realidade do sertão. Durante a Revolução Constitucionalista de 1932 atuou como médico voluntário. Mais tarde foi aprovado no concurso e ingressou na Força Pública. Em 1934 foi aprovado em um concurso para o Itamaraty e exerceu diversas funções diplomáticas no exterior, tais como a de cônsul em Hamburgo, na Alemanha – onde conheceu Aracy Moebius de Carvalho (Ara), sua segunda mulher. De volta ao Brasil, em 1951, assumiu outros cargos no Itamaraty, sendo promovido em 1958 a ministro de primeira classe, cargo correspondente a embaixador.
Ao lado de sua atividade profissional, como médico ou como diplomata, Guimarães Rosa nunca deixou de escrever. Tinha também paixão por aprender outros idiomas. Seus conhecimentos nesse campo impressionavam pela amplitude: falava fluentemente alemão, francês, inglês, espanhol, italiano e esperanto, além de um pouco de russo. Lia em sueco, holandês, latim e grego. Havia estudado também a gramática das seguintes línguas: húngaro, árabe, sânscrito, lituano, polonês, tupi, hebraico, japonês, tcheco, finlandês e dinamarquês.
A estreia literária de Guimarães Rosa se deu em 1929, quando a revista “O Cruzeiro” publicou alguns contos seus, vencedores de um concurso literário da edição. Seu primeiro livro, a coletânea de contos "Sagarana", foi publicado em 1946 e chamou muita atenção pelas inovações técnicas e riqueza de simbologias.
O escritor fez, em maio de 1952, um percurso de 240 quilômetros no sertão mineiro, durante dez dias, conduzindo uma boiada. Na viagem, anotou expressões, casos, histórias, procurando apreender de forma mais profunda aquele universo com o qual tinha contato desde a infância. Seu intuito era recriar literariamente o sertão, dando voz a seus personagens. Dessa viagem resultou seu único romance, "Grande Sertão: Veredas", publicado em 1956 e tido como um dos mais importantes textos da literatura brasileira de todos os tempos.
Em 1961, Guimarães Rosa recebeu da Academia Brasileira de Letras o Prêmio Machado de Assis pelo conjunto de sua obra. Candidatou-se à Academia Brasileira de Letras, pela segunda vez, em 1963 e foi eleito por unanimidade. Mas não foi empossado imediatamente, porque adiou a cerimônia enquanto pôde. Dizia ter medo de morrer no dia do evento. Só tomou posse em 16 de novembro de 1967. Três dias depois, em 19 de novembro, morreu subitamente em seu apartamento no Rio de Janeiro, de infarto.
Suas principais obras são: "Sagarana" (1946), "Grande Sertão: Veredas" (1956), "Corpo de Baile" (1956; atualmente é publicada em três volumes: "Manuelzão e Miguilim", "No Urubuquaquá, no Pinhém" e "Noites do Sertão") e "Primeiras Estórias" (1962).
Bibliografia:
"Grande Sertão: Veredas" - Resumo da obra de Guimarães Rosa
A obra, uma das mais importantes
da literatura brasileira, é elogiada pela linguagem e pela originalidade de
estilo presentes no relato de Riobaldo, ex-jagunço que relembra suas lutas,
seus medos e o amor reprimido por Diadorim.
O romance "Grande Sertão: Veredas" é considerado uma das mais significativas obras da literatura brasileira. Publicada em 1956, inicialmente chama atenção por sua dimensão – mais de 600 páginas – e pela ausência de capítulos. Guimarães Rosa fundiu nesse romance elementos do experimentalismo linguístico da primeira fase do modernismo e a temática regionalista da segunda fase do movimento, para criar uma obra única e inovadora.
Resumo
Durante a primeira parte da obra, o narrador em primeira pessoa, Riobaldo, faz um relato de fatos diversos e aparentemente desconexos entre si, que versam sobre suas inquietações sobre a vida. Os temas giram em torno das clássicas questões filosóficas ocidentais, tais como a origem do homem, reflexões sobre a vida, o bem e o mal, deus e o diabo. Porém, Riobaldo não consegue organizar suas ideias e expressa-las de modo satisfatório, o que gera um relato bastante caótico. Até que em certo ponto aparece Quelemén de Góis, que o ajuda em parte, e Riobaldo dá início à narrativa propriamente dita.
Riobaldo começa a rememorar seu passado e conta sobre sua mãe e como conhecera o menino Reinaldo, que se declarava ser “diferente”. Riobaldo admira a coragem do amigo. Quando sua mãe vem a falecer, ele é levado para viver com seu padrinho na fazenda São Gregório, onde conhece Joca Ramiro, grande chefe dos jagunços. Selorico Mendes, o padrinho, coloca-o para estudar e após um tempo Riobaldo começa a lecionar para Zé Bebelo, um fazendeiro da região. Pouco tempo depois, Zé Bebelo, que queria por fim na atuação dos jagunços pela região, convida Riobaldo para fazer parte de seu bando, o que esse aceita. Assim começa a história da primeira guerra narrada em "Grande Sertão: Veredas".
O romance "Grande Sertão: Veredas" é considerado uma das mais significativas obras da literatura brasileira. Publicada em 1956, inicialmente chama atenção por sua dimensão – mais de 600 páginas – e pela ausência de capítulos. Guimarães Rosa fundiu nesse romance elementos do experimentalismo linguístico da primeira fase do modernismo e a temática regionalista da segunda fase do movimento, para criar uma obra única e inovadora.
Resumo
Durante a primeira parte da obra, o narrador em primeira pessoa, Riobaldo, faz um relato de fatos diversos e aparentemente desconexos entre si, que versam sobre suas inquietações sobre a vida. Os temas giram em torno das clássicas questões filosóficas ocidentais, tais como a origem do homem, reflexões sobre a vida, o bem e o mal, deus e o diabo. Porém, Riobaldo não consegue organizar suas ideias e expressa-las de modo satisfatório, o que gera um relato bastante caótico. Até que em certo ponto aparece Quelemén de Góis, que o ajuda em parte, e Riobaldo dá início à narrativa propriamente dita.
Riobaldo começa a rememorar seu passado e conta sobre sua mãe e como conhecera o menino Reinaldo, que se declarava ser “diferente”. Riobaldo admira a coragem do amigo. Quando sua mãe vem a falecer, ele é levado para viver com seu padrinho na fazenda São Gregório, onde conhece Joca Ramiro, grande chefe dos jagunços. Selorico Mendes, o padrinho, coloca-o para estudar e após um tempo Riobaldo começa a lecionar para Zé Bebelo, um fazendeiro da região. Pouco tempo depois, Zé Bebelo, que queria por fim na atuação dos jagunços pela região, convida Riobaldo para fazer parte de seu bando, o que esse aceita. Assim começa a história da primeira guerra narrada em "Grande Sertão: Veredas".
O bando dos jagunços liderado por Hermógenes entra em guerra contra Zé Bebelo e os soldados do governo, mas logo Hermógenes foge da batalha. Riobaldo resolve desertar do bando de Zé Bebelo e encontra Reinaldo, que faz parte do bando de Joca Ramiro. Ele decide então juntar-se ao grupo também.
A amizade entre Riobaldo e Reinaldo se fortalece com o passar do tempo e Reinaldo o confidencia em segredo seu nome verdadeiro: Diadorim. Em certo momento dá-se a batalha entre o bando de Zé Bebelo e de Joca Ramiro, onde Zé Bebelo é capturado. Então, ele é julgado pelo tribunal composto dos líderes dos jagunços, dos quais Joca Ramiro é o chefe supremo. Hermógenes e Ricardão são favoráveis à pena capital. No fim do julgamento, porém, Joca Ramiro sentencia a soltura de Zé Bebelo, sob a condição de que ele vá para Goiás e não volte até segunda ordem. Após o julgamento, Riobaldo e Reinaldo juntam-se ao bando de Titão Passos, que também lutou ao lado de Hermógenes.
Após longo período de paz e bonança no sertão, um jagunço chamado Gavião-Cujo vai até o grupo de Titão informar que Joca Ramiro foi traído e morto por Hermógenes e Ricardão, que ficam conhecidos como “os judas”. Nesse ponto da narrativa, Riobaldo tem um caso amoroso com a prostituta Nhorinhá e, posteriormente, com Otacília, por quem se apaixona. Diadorim dica com raiva e durante uma discussão com Riobaldo ameaça-o com um punhal.
Os jagunços se reúnem para combater “os judas” e assim começa a segunda guerra, organizada sob novas lideranças: de um lado Hermógenes e Ricardão, assassinos de Joca Ramiro e traidores do bando; de outro, os jagunços liderados por Zé Bebelo, que retorna para vingar a morte de seu salvador. Em certo momento da narrativa os dois bandos se unem para tentar fugir do cerco armado pelos soldados do governo, mas o bando de Zé Bebelo foge em surdina do local e deixam Hermógenes e seu bando lutando sozinhos contra os soldados. Riobaldo entrega a pedra de topázio a Diadorim, o que simboliza a união entre os dois, mas esse recusa dizendo que devem esperar o fim da batalha.
Quando o grupo de Zé Bebelo chega às Veredas-Mortas, em dado momento Riobaldo faz um pacto com o diabo para que possam vencer o bando de Hermógenes. Sob o nome Urutu-Branco, ele assume a chefia do bando e Zé Bebelo deserta do grupo. Riobaldo pede para um jagunço entregar a pedra de topázio à Otacília, o que firma o compromisso de casamento entre os dois.
O bando liderado por Riobaldo (ou Urutu-Branco) segue em caça por Hermógenes, chegando até sua fazenda já em terras baianas. Lá eles aprisionam a mulher de Hermógenes e, não o encontrando, voltam para Minas Gerais. Em um primeiro momento, acham o bando de Ricardão e Urutu-Branco o mata. Por fim, encontram o grupo de Hermógenes no Paredão e há uma grande e sangrenta batalha. Diadorim enfrenta Hermógenes em confronto direto e ambos morrem. Riobaldo descobre, então, que Diadorim é na realidade a filha de Joca Ramiro, e se chama Maria Deodorina da Fé Bittancourt Marins.
Lista de personagens.
Riobaldo: é o personagem que narra a própria vida, desde a juventude, antes de virar jagunço. Nessa época, estudou e aprendeu a ler e a escrever, tornando-se professor de Zé Bebelo, seu futuro chefe. Quando entra para a vida de jagunço, a personagem é batizada de Tatarana, que significa “lagarta de fogo”, apelido dado em homenagem à sua exímia pontaria. Em um dado momento da narrativa, depois de um suposto pacto com o Diabo, Riobaldo-Ta tarana toma a liderança do grupo, sendo rebatizado de “Urutu Branco”.
Diadorim: personagem-chave do romance é tida como homem durante quase toda a narrativa. Apenas nas últimas páginas o narrador conta que, depois de sua morte, quando o corpo é despido e lavado, descobre-se que se tratava de uma mulher. Diadorim havia conhecido Riobaldo, quando ainda eram jovens, em uma travessia do rio São Francisco. Nessa ocasião, ela já vivia disfarçada de menino e dizia chamar-se Reinaldo. Esse nome era secreto no meio da jagunçagem, utilizado apenas nos momentos em que ela e Riobaldo estavam a sós. Quando Riobaldo reencontra Reinaldo/Diadorim, tempos depois, passa para o bando de Joça Ramiro, motivado pela presença de Reinaldo. Riobaldo apaixona-se profundamente por Diadorim, o que provoca nele vários sentimentos contraditórios e de repressão, já que a paixão homossexual era uma relação impossível de ser aceita no meio jagunço.
Joca Ramiro: grande chefe político e guerreiro, lidera a primeira guerra narrada no romance, e seu assassinato origina a segunda guerra. Em oposição a Hermógenes, Joca Ramiro é o grande guerreiro, o líder sábio, justo, corajoso. Aparece como encarnação das virtudes.
Zé Bebelo: personagem intrigante. Dono de uma oratória verborrágica, tinha ambições políticas, mas, segundo o narrador, começara tarde essa busca pelo poder. Zé Bebelo é extremamente orgulhoso e gaba-se de nunca se ter deixado comandar por ninguém. Conhece Riobaldo quando esse ainda não era jagunço e aprende com ele um pouco de português. Quando Riobaldo lhe toma a chefia, Zé Bebelo reconhece a força do oponente e decide deixar o grupo. Riobaldo tem uma relação diferenciada com Zé Bebelo, conservando sempre certo apreço por esse personagem.
Hermógenes: para Riobaldo, Hermógenes era o “Cão”, o “Demo”. É o personagem mais odiado pelo narrador. Na primeira guerra, quando estão lutando do mesmo lado, Riobaldo já revela seu ódio por ele; na segunda guerra, quando Hermógenes e Ricardão assassinam Joça Ramiro, esse sentimento se acentua. No romance, Hermógenes é a personificação do mal.
Ricardão: enquanto Zé Bebelo guerreava por ambições políticas e Hermógenes era motivado por sua natureza assassina, Ricardão tinha interesse apenas na questão financeira. Fazendeiro rico guerreava para depois poder enriquecer em paz.
"Grande Sertão: Veredas" - Análise da obra de Guimarães Rosa
Literatura
A
obra, uma das mais importantes da literatura brasileira, é elogiada pela
linguagem e pela originalidade de estilo presentes no relato de Riobaldo,
ex-jagunço que relembra suas lutas, seus medos e o amor reprimido por Diadorim.
O romance "Grande Sertão: Veredas" é considerado uma das mais significativas obras da literatura brasileira. Publicada em 1956, inicialmente chama atenção por sua dimensão – mais de 600 páginas – e pela ausência de capítulos. Guimarães Rosa fundiu nesse romance elementos do experimentalismo linguístico da primeira fase do modernismo e a temática regionalista da segunda fase do movimento, para criar uma obra única e inovadora.
Narrador
O foco narrativo de "Grande Sertão: Veredas" está em primeira pessoa. Riobaldo, na condição de rico fazendeiro, revive suas pelejas, seus medos, seus amores e suas dúvidas. A narrativa, longa e labiríntica, por causa das digressões do narrador, simula o próprio sertão físico, espaço onde se desenrola toda a história.
A obra, na verdade, apresenta o diálogo entre Riobaldo e um interlocutor, que não se manifesta diretamente. Portanto, só é possível identificá-lo e caracterizá-lo por meio dos próprios comentários feitos por Riobaldo.
Tempo
Nessa narrativa, pode haver dificuldade de compreensão sobre a passagem do tempo. O motivo são a estrutura do romance, que não se divide em capítulos, e a narrativa em primeira pessoa, que permite digressões do narrador, alternando assim o tempo da narrativa a seu bel-prazer. No entanto, podemos dividir a obra, segundo alguns fatos marcantes do enredo, para facilitar a leitura:
1ª parte: introdução dos principais temas do romance: o povo; o sertão; o sistema jagunço; Deus e o Diabo; e Diadorim. Nesse primeiro momento, Riobaldo introduz também a figura do interlocutor, que, como foi dito, não aparece diretamente na obra.
2ª parte: inicia-se in medias res, ou seja, no meio da narrativa. Durante a segunda guerra, Riobaldo e Diadorim, chefiados por Medeiro Vaz, tentam vingar a morte de Joça Ramiro.
3ª parte: a narrativa retorna à juventude de Riobaldo, quando ele conheceu o “menino Reinaldo”, e, para o desespero de Riobaldo, que não sabe nadar, ambos atravessam o rio São Francisco numa pequena embarcação.
4ª parte: conflito entre Riobaldo e Zé Bebelo, no qual esse último perde a chefia, e Riobaldo-Tatarana é rebatizado como “Urutu Branco”.
5ª parte: epílogo. Riobaldo retoma o fio da narração do início, contando ao interlocutor seu casamento com Otacília e como herdou as fazendas do padrinho. Ele termina sua narrativa com a palavra “travessia”, que é seguida pelo símbolo do infinito.
Espaço
O espaço geral da obra é o sertão. Os nomes citados podem causar estranheza e confundir os leitores que desconhecem a região. É preciso entender, no entanto, que essa confusão criada pelos diversos nomes e regiões é proposital. Ela torna o enredo uma espécie de labirinto, como se fosse uma metáfora da vida. A travessia desse labirinto, por analogia, pode ser interpretada como a travessia da existência.
Podem ser listados alguns espaços da narrativa em que importantes ações do enredo se desenvolvem.
Chapadão do Urucúia: local da travessia do rio São Francisco, onde Riobaldo e Reinaldo/Diadorim se conhecem.
Fazenda dos Tucanos: espaço onde o bando liderado por Zé Bebelo fica preso, cercado pelo bando de Hermógenes, depois de cair em uma tocaia. Esse episódio da Fazenda dos Tucanos é marcante, por causa da sensação de claustrofobia descrita no texto. Preso na casa da fazenda por vários dias, o grupo liderado por Zé Bebelo é alvejado pelos inimigos.
Liso do Sussuarão: local da tentativa frustrada de travessia do bando de Medeiro Vaz (segunda parte) e conseqüente retirada.
Local da narração: fazenda de Riobaldo, localizada na beira do rio São Francisco, “a um dia e meio a cavalo”, no norte de Andrequicé.
Paredão: espaço da batalha final, onde Diadorim morre e termina a guerra.
Veredas Mortas: local do possível pacto de Riobaldo.
Comentário do professor
Comentário do prof. Charles Casemiro, da Oficina do Estudante:
"Grande Sertão: Veredas" é uma narrativa do pós-modernismo brasileiro (geração de 45). Consiste em um longo diálogo/monólogo em que o protagonista, Riobaldo, velho jagunço que trocara a vida da jagunçagem pela tranquilidade da fazenda, narra a sua vida a um jovem doutor que chegou a suas terras. O texto nos dá apenas pistas sobre as reações do ouvinte-doutor sem, porém, permitir nenhuma fala.
O núcleo das memórias do narrador Riobaldo não é, todavia, sua aventura na jagunçagem, mas, principalmente, o caso amoroso que manteve com Maria Deodorina da Fé Betancourt Marins, a Diadorim, que, sendo filha única de um fazendeiro-jagunço, Joca Ramiro, travestiu-se de homem para viver em meio aos jagunços.
O outro núcleo da história mostra como Hermógenes, um dos jagunços acabou matando o chefe do bando Joca Ramiro, fugindo depois com uma parte da jagunçagem. Riobaldo assumiu então a direção do grupo que restou, tomando como braço direito "o seu Diadorim". Buscando justiça e vingança, Riobaldo se propõe a dar a alma ao diabo em troca de encontrar e matar Hermógenes. O que ocorreu.
Nessa obra de Rosa, "o sertão é o mundo" e, de modo especial, um mundo que pode ser registrado, manipulado e transformado: é um mundo mítico, ativo, interativo. Se o interesse especial de Rosa pelo espaço natural e cultural do sertanejo salta aos olhos dos leitores em cada trecho de sua obra, esse interesse, porém, aparece, não ocasionalmente, apenas como o fio da meada, como pretexto apenas para uma discussão maior sobre o ser humano e sobre o mundo, na verdade, sobre a relação sempre tensa, que se estabelece entre o ser humano e o mundo.
Existe, nesse sentido, uma ponte de ligação, de transcendência entre o regional sertanejo e o universal humano na obra rosiana que, muito propriamente, se dá no campo da linguagem e não apenas nos outros campos. A linguagem de Rosa constitui assim um universo novo, ao passo que reinventa a vida sertaneja, as falas sertanejas, as angústias, as felicidades, as descobertas, os encontros e os desencontros sertanejos e humanos. Mais diretamente, podemos dizer que, para Guimarães Rosa, o sertão é um mundo – um espaço existencial – e um mundo confundido com linguagem original, poética e criadora, no sentido de que tudo pode ser visto – espaço e linguagem – como universo ainda virgem, de puro de sentido.
Das cenas roseanas brotam espaços existenciais, interativos, vivos, por vezes personificados, verdadeiramente panteístas; brota um universo folclórico, cercado de transcendência; brota a vida enquanto existência exterior e interior, e a morte enquanto limitação; brotam assim belos, o amor, a comunhão, os rompimentos, os medos, as certezas, as angústias, as esperanças, as desilusões, as descobertas, as perdas, Deus, o Demônio, o bem e o mal, as tensões entre o sujeito sertanejo e o sertão, entre o sujeito sertanejo e o outro, entre o sertão e o mundo, entre o mundo e a linguagem.
O romance "Grande Sertão: Veredas" é considerado uma das mais significativas obras da literatura brasileira. Publicada em 1956, inicialmente chama atenção por sua dimensão – mais de 600 páginas – e pela ausência de capítulos. Guimarães Rosa fundiu nesse romance elementos do experimentalismo linguístico da primeira fase do modernismo e a temática regionalista da segunda fase do movimento, para criar uma obra única e inovadora.
Narrador
O foco narrativo de "Grande Sertão: Veredas" está em primeira pessoa. Riobaldo, na condição de rico fazendeiro, revive suas pelejas, seus medos, seus amores e suas dúvidas. A narrativa, longa e labiríntica, por causa das digressões do narrador, simula o próprio sertão físico, espaço onde se desenrola toda a história.
A obra, na verdade, apresenta o diálogo entre Riobaldo e um interlocutor, que não se manifesta diretamente. Portanto, só é possível identificá-lo e caracterizá-lo por meio dos próprios comentários feitos por Riobaldo.
Tempo
Nessa narrativa, pode haver dificuldade de compreensão sobre a passagem do tempo. O motivo são a estrutura do romance, que não se divide em capítulos, e a narrativa em primeira pessoa, que permite digressões do narrador, alternando assim o tempo da narrativa a seu bel-prazer. No entanto, podemos dividir a obra, segundo alguns fatos marcantes do enredo, para facilitar a leitura:
1ª parte: introdução dos principais temas do romance: o povo; o sertão; o sistema jagunço; Deus e o Diabo; e Diadorim. Nesse primeiro momento, Riobaldo introduz também a figura do interlocutor, que, como foi dito, não aparece diretamente na obra.
2ª parte: inicia-se in medias res, ou seja, no meio da narrativa. Durante a segunda guerra, Riobaldo e Diadorim, chefiados por Medeiro Vaz, tentam vingar a morte de Joça Ramiro.
3ª parte: a narrativa retorna à juventude de Riobaldo, quando ele conheceu o “menino Reinaldo”, e, para o desespero de Riobaldo, que não sabe nadar, ambos atravessam o rio São Francisco numa pequena embarcação.
4ª parte: conflito entre Riobaldo e Zé Bebelo, no qual esse último perde a chefia, e Riobaldo-Tatarana é rebatizado como “Urutu Branco”.
5ª parte: epílogo. Riobaldo retoma o fio da narração do início, contando ao interlocutor seu casamento com Otacília e como herdou as fazendas do padrinho. Ele termina sua narrativa com a palavra “travessia”, que é seguida pelo símbolo do infinito.
Espaço
O espaço geral da obra é o sertão. Os nomes citados podem causar estranheza e confundir os leitores que desconhecem a região. É preciso entender, no entanto, que essa confusão criada pelos diversos nomes e regiões é proposital. Ela torna o enredo uma espécie de labirinto, como se fosse uma metáfora da vida. A travessia desse labirinto, por analogia, pode ser interpretada como a travessia da existência.
Podem ser listados alguns espaços da narrativa em que importantes ações do enredo se desenvolvem.
Chapadão do Urucúia: local da travessia do rio São Francisco, onde Riobaldo e Reinaldo/Diadorim se conhecem.
Fazenda dos Tucanos: espaço onde o bando liderado por Zé Bebelo fica preso, cercado pelo bando de Hermógenes, depois de cair em uma tocaia. Esse episódio da Fazenda dos Tucanos é marcante, por causa da sensação de claustrofobia descrita no texto. Preso na casa da fazenda por vários dias, o grupo liderado por Zé Bebelo é alvejado pelos inimigos.
Liso do Sussuarão: local da tentativa frustrada de travessia do bando de Medeiro Vaz (segunda parte) e conseqüente retirada.
Local da narração: fazenda de Riobaldo, localizada na beira do rio São Francisco, “a um dia e meio a cavalo”, no norte de Andrequicé.
Paredão: espaço da batalha final, onde Diadorim morre e termina a guerra.
Veredas Mortas: local do possível pacto de Riobaldo.
Comentário do professor
Comentário do prof. Charles Casemiro, da Oficina do Estudante:
"Grande Sertão: Veredas" é uma narrativa do pós-modernismo brasileiro (geração de 45). Consiste em um longo diálogo/monólogo em que o protagonista, Riobaldo, velho jagunço que trocara a vida da jagunçagem pela tranquilidade da fazenda, narra a sua vida a um jovem doutor que chegou a suas terras. O texto nos dá apenas pistas sobre as reações do ouvinte-doutor sem, porém, permitir nenhuma fala.
O núcleo das memórias do narrador Riobaldo não é, todavia, sua aventura na jagunçagem, mas, principalmente, o caso amoroso que manteve com Maria Deodorina da Fé Betancourt Marins, a Diadorim, que, sendo filha única de um fazendeiro-jagunço, Joca Ramiro, travestiu-se de homem para viver em meio aos jagunços.
O outro núcleo da história mostra como Hermógenes, um dos jagunços acabou matando o chefe do bando Joca Ramiro, fugindo depois com uma parte da jagunçagem. Riobaldo assumiu então a direção do grupo que restou, tomando como braço direito "o seu Diadorim". Buscando justiça e vingança, Riobaldo se propõe a dar a alma ao diabo em troca de encontrar e matar Hermógenes. O que ocorreu.
Nessa obra de Rosa, "o sertão é o mundo" e, de modo especial, um mundo que pode ser registrado, manipulado e transformado: é um mundo mítico, ativo, interativo. Se o interesse especial de Rosa pelo espaço natural e cultural do sertanejo salta aos olhos dos leitores em cada trecho de sua obra, esse interesse, porém, aparece, não ocasionalmente, apenas como o fio da meada, como pretexto apenas para uma discussão maior sobre o ser humano e sobre o mundo, na verdade, sobre a relação sempre tensa, que se estabelece entre o ser humano e o mundo.
Existe, nesse sentido, uma ponte de ligação, de transcendência entre o regional sertanejo e o universal humano na obra rosiana que, muito propriamente, se dá no campo da linguagem e não apenas nos outros campos. A linguagem de Rosa constitui assim um universo novo, ao passo que reinventa a vida sertaneja, as falas sertanejas, as angústias, as felicidades, as descobertas, os encontros e os desencontros sertanejos e humanos. Mais diretamente, podemos dizer que, para Guimarães Rosa, o sertão é um mundo – um espaço existencial – e um mundo confundido com linguagem original, poética e criadora, no sentido de que tudo pode ser visto – espaço e linguagem – como universo ainda virgem, de puro de sentido.
Das cenas roseanas brotam espaços existenciais, interativos, vivos, por vezes personificados, verdadeiramente panteístas; brota um universo folclórico, cercado de transcendência; brota a vida enquanto existência exterior e interior, e a morte enquanto limitação; brotam assim belos, o amor, a comunhão, os rompimentos, os medos, as certezas, as angústias, as esperanças, as desilusões, as descobertas, as perdas, Deus, o Demônio, o bem e o mal, as tensões entre o sujeito sertanejo e o sertão, entre o sujeito sertanejo e o outro, entre o sertão e o mundo, entre o mundo e a linguagem.
Bibliografia:
segunda-feira, 21 de julho de 2014
A ortodoxia de Hamlet
por G. K. Chesterton* Traduzido do inglês por Márcia Xavier de Brito
Eu gosto demais de teatro para me tornar um crítico teatral; e
acho que nessa questão, estou junto das pessoas que nunca abrem a boca. Se
alguém quer saber o que é a democracia política, a resposta é simples; é uma
tentativa desesperada e quase impraticável de chegar às opiniões das melhores
pessoas – isto é, das pessoas que não confiam em si mesmas. Um homem pode subir
a qualquer posto em uma oligarquia. Mas a oligarquia é simplesmente a premiação
da impudência. Uma oligarquia diz que o vitorioso pode ser qualquer tipo de
homem, contanto que não seja um homem humilde.
Um homem em um estado oligárquico (como o nosso) pode ficar
famoso por ter dinheiro, ou por ter um bom olho para cores, ou por ter sucesso
social, financeiro ou militar. Mas não pode ficar famoso por ser humilde, como
os grandes santos.
Consequentemente, todos os homens simples e hesitantes são
mantidos completamente fora da corrida; e os cafajestes representam o homem
comum, embora na verdade sejam uma minoria entre os homens comuns. Assim é,
especialmente, com o teatro. É completamente falso dizer que o povo não gosta
de Shakespeare. A parte do povo que não gosta de Shakespeare é simplesmente a
parcela do povo que se despopularizou. Se uma certa multidão de cockneys fica
entediada com Hamlet, os
cockneys não estão entediados por que são complexos e engenhosos demais para Hamlet. Eles sentem que aquela excitação das
tavernas, do ringue de apostas, do jornal barato, do teatro de variedades
local, é mais complexa e engenhosa do que Hamlet; e é mesmo.
SAIBA +
|
Veja mais textos traduzidos do escritor
emhttp://www.chestertonbrasil.org/
|
No senso mais estrito da palavra, os cockneys são artísticos
demais para gostar deHamlet. Eles
estimularam e cansaram demais seus sentimentos artísticos para que possam gozar
algo que é simplesmente belo. Eles são estetas; e um esteta, por definição, é
um homem experiente o bastante para admirar uma bela pintura, mas não
inexperiente o bastante para vê-la. Mas se você realmente levasse pessoas
simples, camponeses honestos, criados velhos e bondosos, vagabundos sonhadores,
ladrões cordiais e bandoleiros para verHamlet, eles simplesmente sentiriam pena de Hamlet. Isto é, eles simplesmente perceberiam
o fato de que é uma grande tragédia.
Há uma pequena questão, por exemplo, na qual acho que o público
se enganou sobre Hamlet, não sozinho, mas pela influência dos críticos. Há uma
questão na qual os não-educados provavelmente estariam certos, se apenas não
fossem pervertidos pelos educados. A questão é: todos no mundo moderno falam de
Hamlet como um cético. O mero fato de ver a peça representada muito fina e
vivamente pela senhorita Marlowe e pelo Sr. Sother simplesmente varreu os
últimos farrapos desta heresia pra fora da minha mente. O que é realmente
interessante em Hamlet é que ele não era de modo algum um cético. Ele nunca
duvidava, a não ser no sentido em que todo homem são duvida, incluindo papas e
cruzados. O ponto essencial é bem claro. Se Hamlet fosse um pouquinho cético,
não haveria a tragédia de Hamlet. Se tivesse qualquer ceticismo a
exercitar, poderia tê-lo feito já no caso do altamente improvável fantasma de
seu pai. Poderia ter chamado aquela eloquente pessoa de uma alucinação, ou de
outra coisa que nada quer dizer, casado com Ofélia, e seguir comendo pão com
manteiga. Este é o primeiro ponto evidente.
A tragédia de Hamlet não é que Hamlet seja um cético. A tragédia
de Hamlet é ele ser um filósofo bom demais para ser um cético. Seu intelecto é
tão claro que ele vê de imediato a possibilidade racional dos fantasmas. Mas o
erro rematado de considerar Hamlet um cético tem muitos outros exemplos. A
teoria toda surgiu do costume de citar passagens empoladas fora de seus
contextos, como o “ser ou não ser”, ou (muito pior) a passagem em ele que diz,
com um gesto quase grosseiro de cansaço, “Ora, para vós então não é; pois nada
é bom ou mau, a não ser por força do pensamento”. Hamlet diz isso por que não
aguenta mais a companhia de dois homens tolos; mas se alguém deseja ver como a
atitude de Hamlet é exatamente a contrária, pode vê-lo na mesma conversação. Se
alguém deseja ouvir as palavras de um homem que, no sentido mais definitivo,
não é um cético, aqui estão elas:
“Esta bela estrutura, a terra, me parece um
promontório estéril; este magnífico dossel, o ar, vede este esplêndido
firmamento suspenso, este majestoso teto trabalhado com um fogo de ouro, apenas
me parece uma repulsiva e pestilenta congregação de vapores… Que obra de arte é
um homem, que nobre na razão, que infinito nas faculdades, na expressão e nos
movimentos, que determinado e admirável nas ações; que parecido a um anjo de
inteligência, que semelhante a um deus! A beleza do mundo; a flor dos animais;
e contudo, para mim, que é esta quintessência do pó?”
Estranhamente, ouvi esta passagem citada como uma passagem
pessimista. Talvez seja a passagem mais otimista em toda a literatura humana. É
a expressão absoluta do fato essencial da fé de Hamlet; sua fé de que, embora
ele não possa ver que o mundo é bom, ele certamente é bom; sua fé de que,
embora não consiga ver o homem como a imagem de Deus, ainda assim é certamente
a imagem de Deus. O homem moderno, assim como a concepção moderna sobre Hamlet,
acredita apenas em estados de ânimo. Mas o Hamlet real, como a Igreja Católica,
acredita na razão. Muitos bons otimistas louvaram o homem quando sentiram que o
homem era louvável. Só Hamlet louvou o homem quando sentia vontade de chutá-lo
como a um macaco. Muitos poetas, como Shelley e Whitman, foram otimistas quando
se sentiram otimistas. Só Shakespeare foi otimista quando se sentiu pessimista.
Isto é a definição de uma fé. Fé é aquilo capaz de sobreviver a um estado de
ânimo. E Hamlet tem isso do início ao fim. Cedo ele protesta contra uma lei que
reconhece: “Oh, não tivesse o Eterno posto a sua lei contra o suicídio!”
Antes do fim, declara que de nossa desastrada conduta será feita alguma coisa,
“por mais que nós lhe demos a demão de início”.
Se Hamlet fosse um cético, teria tido uma vida fácil. Não teria
sabido que seus estados de ânimo eram estados de ânimo. Ele os teria chamado
Pessimismo ou Materialismo, ou qualquer outro nome imbecil. Mas Hamlet era uma
grande alma, grande o suficiente para saber que ele não era o mundo. Ele sabia
que havia uma verdade além de si mesmo, portanto acreditava firmemente nas
coisas mais diferentes de si, em Horácio e no fantasma. Ao longo de toda a
história, podemos ler sua convicção de que ele está errado. E isto, para uma
mente clara como a dele, é apenas outro modo de dizer que existe algo que é
certo. O verdadeiro cético nunca pensa que está errado; pois o cético real não
acredita que exista um errado. Ele despenca através de chão após chão, num
universo sem fundo. Mas Hamlet era o próprio inverso de um cético. Ele era um
pensador.
Escritor inglês falecido em 1936. Entre
suas obras, estão São Tomás de Aquino, Hereges e O homem que era quinta-feira.
Hamlet
Hamlet, o
Príncipe da Dinamarca, obra dramática shakespereana mais adaptada e encenada
nos palcos de todo o mundo, é hoje uma das mais importantes e renomadas
tragédias do dramaturgo inglês William Shakespeare. Ela foi provavelmente
escrita entre 1599 e 1602, mas não há até hoje uma data comprovada da gênese
deste clássico da dramaturgia.
Tendo
como cenário a Dinamarca, mais precisamente o castelo de Elsinor, esta peça
traz sua versão do destino do Príncipe Hamlet, obrigado a empreender um
drástico ato de revanche contra seu tio Cláudio, acusado de assassinar o pai do
jovem para tomar o poder, depois de desposar a cunhada. O órfão, porém, não
apresenta nenhuma inclinação para cometer tal crime, que deveria ser
meticulosamente planejado e calculado, exigindo um sangue-frio de que o nobre
não dispõe.
Sua
posição, no entanto, o leva a se sentir na obrigação de percorrer este caminho
sem volta. Este ponto propicia uma das várias interpretações a que esta rica
história dá margem, a que aborda justamente os dilemas éticos e morais de
Hamlet, que supostamente justificariam sua vacilação no momento de levar
adiante seus planos.
Esta
peça é originalmente acessível aos estudiosos por meio das três primeiras
variantes que remanesceram no transcorrer do tempo, as cópias conhecidas como o
Primeiro Quarto (Q1), o Segundo Quarto (Q2) e o First Folio (F1). Entre elas é
possível detectar algumas diferenças, tanto em relação à extensão do texto,
quanto ao conteúdo, que se modifica ligeiramente de uma para outra. Afirma-se
que o bardo inglês teria criado Hamlet a partir da lenda de Amleto, que
permaneceu viva através do historiador Saxo Grammaticus em sua obra Gesta
Danorum, do século XIII. Posteriormente ela foi resgatada por François de
Belleforest, no século XVI, aparecendo logo depois em uma obra do teatro
isabelino denominada Ur-Hamlet.
Quanto à
composição desta obra, pode-se dizer que ela é a criação de Shakespeare mais
extensa, elaborada e árdua, construída com 4042 linhas, 29551 vocábulos, a
maior parte do texto transcrita poeticamente, uma porcentagem menor escrita em
prosa. Nesta história o inglês vai fundo na revelação da fronteira entre a
insanidade real e a pretensa loucura, enfocando questões como a traição, a
revanche, o incesto, a devassidão, princípios morais, entre outras.
A imagem
de Hamlet, mergulhado em uma loucura que não se sabe até que ponto é
verdadeira, trajado constantemente de preto, cultivando um luto sem fim, como
protesto ao assassinato de seu pai, configurando assim uma visão funesta,
imortalizou-se ao longo do tempo, tornando-se popular em todas as partes. Seu
ancestral dilema, ‘ser ou não ser’, confessado a uma caveira, foi incorporado à
história cultural e artística da Humanidade. As personagens femininas,
Gertrudes, a rainha-mãe, e Ofélia, a noiva prometida, têm sido resgatadas por
uma linhagem crítica mais feminista.
Considerada
uma das tragédias mais conhecidas e célebres da Inglaterra, Hamlet ocupa desde
1879 o primeiro lugar entre as peças mais requisitadas da Royal Shakespeare
Company, sendo a mais interpretada da história do teatro. São inúmeras as obras
e os estudos escritos sobre esta criação de Shakespeare. Vários autores famosos
discorreram sobre ela, entre eles Machado de Assis, Goethe, Charles Dickens e
James Joyce, além de um número sem fim de críticos literários e criadores de todo
o mundo.
Fontes
http://pt.wikipedia.org/wiki/Hamlet
http://educaterra.terra.com.br/voltaire/artigos/hamlet.htm
http://pt.wikipedia.org/wiki/Hamlet
http://educaterra.terra.com.br/voltaire/artigos/hamlet.htm
O teatro ensina a viver
A turma perde a timidez, amplia os horizontes
culturais e trabalha bem em grupo quando a arte cênica faz parte do currículo
Mesmo sem se dar conta, todos os dias ao entrar na sala de aula
você e seus alunos tomam emprestados alguns recursos da linguagem teatral. Ao
ler um conto em voz alta, os estudantes naturalmente impostam a voz e mudam a
entonação marcando os diferentes personagens. Para manter a atenção da turma em
suas explicações é bem provável que você imponha ao corpo uma postura mais
rígida, abuse dos gestos e capriche nas expressões faciais. Mas o teatro pode ser
usado também como uma ferramenta pedagógica. "Uma das grandes riquezas
dessa atividade na escola é a possibilidade do aluno se colocar no lugar do
outro e experimentar o mundo sem correr riscos", avalia Maria Lúcia Puppo,
professora de licenciatura em Artes Cênicas da Universidade de São Paulo (USP).
E são muitas as habilidades desenvolvidas com essa prática.
O contato com a linguagem teatral ajuda crianças e adolescentes
a perder continuamente a timidez, a desenvolver e priorizar a noção do trabalho
em grupo, a se sair bem de situações onde é exigido o improviso e a se
interessar mais por textos e autores variados. "O teatro é um exercício de
cidadania e um meio de ampliar o repertório cultural de qualquer
estudante", argumenta Ingrid Dormien Koudela, consultora do Ministério da
Educação na elaboração dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) na área.
A criatividade é o único recurso indispensável
"A escola não precisa de um espaço com poltronas confortáveis ou ricos
figurinos para montar uma peça", avisa a atriz e orientadora pedagógica
Beth Zalcman, da Escola Eliezer Steinbarg-Max Nordau, do Rio de Janeiro.
O professor Leandro Karnal, da Universidade de Campinas, vai no mesmo caminho
que Beth. Ele lembra que ainda durante a época colonial os jesuítas já
utilizavam o teatro como exercício escolar com bons resultados e sem grandes
recursos. "Cabe a cada professor descobrir os recursos necessários para o
trabalho que pretende desenvolver. Mas o principal é sempre a
criatividade", alerta.
A linguagem lúdica, multifacetada e pouco dependente da escrita é ideal para
colocar em cartaz com a garotada espetáculos sobre a cultura local ou os
acontecimentos cotidianos, por exemplo. A atividade desenvolve a oralidade, os
gestos, a linguagem musical e, principalmente, a corporal.
Contato com companhias profissionais é valioso
A presença efetiva da arte de representar na educação brasileira é um fenômeno
recente. O ensino de Educação Artística, regulamentado em 1971, sempre
priorizou as artes plásticas. Com o passar do tempo, a aproximação entre
escolas e grupos teatrais e o crescimento dos cursos de graduação em Artes
Cênicas pelo país contribuíram para o aumento e a valorização do teatro em sala
de aula.
Você pode incluir atividades baseadas nessa linguagem em seu planejamento e ir
além. Uma forma é fazer parcerias com grupos de teatro da região. O contato com
atores profissionais é muito rico. Ele possibilita a discussão sobre o
aproveitamento dos espaços físicos da escola e o intercâmbio de idéias e
experiências.
Vale a pena também ficar atento à programação cultural da cidade. Entre em
contato com companhias teatrais e veja a possibilidade de trazê-las para a escola.
E, se possível, leve a turma a uma sala de espetáculos para assistir a
montagens profissionais. "O hábito de ir ao teatro também deve ser
desenvolvido nas aulas de Artes", conclui Ingrid.
Os cuidados para montar um bom projeto
• Fazer teatro na escola não é simplesmente encenar uma passagem
da nossa história ou levar para o palco os personagens e a trama do livro lido
pela turma no encerramento do semestre. De acordo com Tuna Serzedelo e Maíra
Silveira, professores do Colégio São Luís, de São Paulo, trabalhar com a arte
da representação exige conhecimento técnico. Por isso, para desenvolver um
trabalho que introduza crianças e jovens nessa linguagem, os professores das
diversas disciplinas devem se associar ao de Artes. Aprenda com a experiência
da dupla.
• Coloque a classe em contato com diversos livros de autores com estilos
variados e observe o tipo de texto (tragédia, comédia, situações do cotidiano,
mistério etc.) que mais chama a atenção do grupo.
• Em uma encenação, podem ser transmitidos conhecimentos culturais, históricos,
científicos ou morais, por exemplo, mas eles não devem ser vistos como
objetivo, e sim como conseqüência. O ideal é que os alunos se envolvam com a
trama e os personagens e sintam prazer em representar.
• Peça que os estudantes façam um mapeamento dos folguedos populares, festas,
autos e outras manifestações folclóricas que possam ser representadas na
escola.
• Evite montar um espetáculo que já esteja pronto e não busque se aproximar do
que foi encenado por alguma companhia famosa. Incentive o grupo a criar suas
próprias encenações. "Cada montagem é única", apregoa Serzedelo. O
professor dirigiu uma adaptação feita pelos próprios alunos do Ensino Médio de
O Caso dos Dez Negrinhos, da escritora inglesa Agatha Christie.
• Deixe as crianças ousarem. Maíra já trabalhou com a garotada na montagem de
uma peça que uniu elementos dos clássicos Auto da Barca do Inferno, de Gil
Vicente, e Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna. O resultado foi o
espetáculo Auto da Barca da Paulista, numa referência à famosa avenida da
capital paulista, que passa próxima ao colégio. Ações como essas, sugeridas
pelos adolescentes, têm maior chance de fazer sucesso.
• Estimule a participação de todos os estudantes, sem exigir profissionalismo.
Há os que falam baixo ou os que ficam de costas para a platéia. Mas todos podem
aprender.
• Fotografe e filme as encenações. Depois, convide a classe para analisar a
montagem. Esse exercício de auto-avaliação serve para afinar as próximas
apresentações.
Quer saber mais?
Colégio
São Luis, R. Rua Haddock Lobo, 400, 01414-902, São Paulo, SP, tel. (11)
3138 9600, internet:www.saoluis.org
Escola Eliezer Steinbarg-Max Nordau, R. das Laranjeiras, 405, 22240-002, Rio de Janeiro, RJ, tel. (21) 2556-7797, internet: www.eliezermax.com.br
BIBLIOGRAFIA
Cem Anos de Teatro em São Paulo, Sábato Magaldi e Maria Thereza Vargas, 454 págs., Ed. Senac, tel. (11) 3284-4322, 55 reais
Jogos Teatrais, Ingrid Dormien Koudela, 155 págs., Ed. Perspectiva, tel. (11) 3885-8388, 22 reais
Quando Anchieta Chegou ao Brasil (Coleção Eu Era Criança), Leandro Karnal, 32 págs., Ed. FTD, tel. 0800-158555, 12,80 reais
INTERNET
No site www.eca.usp.br/prof/ingrid/ você conhece o trabalho da professora Ingrid Dormien Koudela
A página www.ctac.gov.br/tdb apresenta um banco de dados sobre vários teatros brasileiros.
Escola Eliezer Steinbarg-Max Nordau, R. das Laranjeiras, 405, 22240-002, Rio de Janeiro, RJ, tel. (21) 2556-7797, internet: www.eliezermax.com.br
BIBLIOGRAFIA
Cem Anos de Teatro em São Paulo, Sábato Magaldi e Maria Thereza Vargas, 454 págs., Ed. Senac, tel. (11) 3284-4322, 55 reais
Jogos Teatrais, Ingrid Dormien Koudela, 155 págs., Ed. Perspectiva, tel. (11) 3885-8388, 22 reais
Quando Anchieta Chegou ao Brasil (Coleção Eu Era Criança), Leandro Karnal, 32 págs., Ed. FTD, tel. 0800-158555, 12,80 reais
INTERNET
No site www.eca.usp.br/prof/ingrid/ você conhece o trabalho da professora Ingrid Dormien Koudela
A página www.ctac.gov.br/tdb apresenta um banco de dados sobre vários teatros brasileiros.
http://revistaescola.abril.com.br/arte/pratica-pedagogica/teatro-ensina-viver-424918.shtml
Atividades para sala de aula
Subo nesse palco...
Objetivos
Conhecer a história do teatro e dos métodos de preparação de atores através dos
tempos.
Introdução
A reportagem de VEJA sobre Fátima Toledo é bastante esclarecedora sobre os
métodos de preparação de atores para o cinema e o teatro brasileiros na
atualidade. O texto nos conta que essa profissional realiza uma tarefa bastante
valorizada na indústria cinematográfica em todo o mundo. Os especialistas
acreditam que Fátima criou um método e está por trás de filmes nacionais de
grande sucesso de bilheteria como Cidade de Deus e Tropa de Elite. Aproveite a
oportunidade e analise com seus alunos um pouco da história do teatro e das técnicas
que consagraram atores de Hollywood.
Atividades
1ª aula - Solicite aos jovens uma
pesquisa sobre o nascimento do teatro na Grécia antiga. Eles descobrirão que a
arte teria surgido naquela civilização em função das manifestações em homenagem
ao deus do vinho, Dionísio. A cada nova safra de uva, era realizada uma festa
em agradecimento ao deus, marcada por procissões. Com o passar do tempo, elas
ficaram conhecidas como "Ditirambos" e tornaram-se cada vez mais
elaboradas. Até que apareceram os "diretores de coro" - os
organizadores da festança. Nelas, os participantes cantavam, dançavam e
apresentavam diversas cenas da vida e das peripécias de Dionísio. Reuniam-se de
20 mil a 30 mil pessoas nas cidades, enquanto, em manifestações rurais,
o número de pessoas era menor. O primeiro diretor de coro foi Téspis, que
desenvolveu o uso de máscaras no palco. Por causa da imensa platéia, era
impossível que todos escutassem os relatos. Mas com os apetrechos os
espectadores podiam visualizar o sentimento da cena e dos personagens
representados.
O coro, por sua vez, narrava a história com o auxílio de música e balé. Ele era
o intermediário entre o ator e os espectadores e trazia os pensamentos e
sentimentos à tona, além de revelar a conclusão e a moral da peça. Também podia
haver o "corifeu", um representante do coro que se comunicava com a
platéia. Em uma dessas procissões, Téspis inovou ao subir em um tablado e, assim,
tornou-se o primeiro respondedor de coro. Em razão disso, originaram-se os
diálogos e Téspis foi considerado o primeiro ator grego.
2ª aula - Encomende aos meninos uma
pesquisa na internet sobre os métodos de preparação de atores. Eles encontrarão
vários - um dos mais conhecidos foi desenvolvido pelo russo Constantin
Stanislavsky (1863-1938). Nascido em uma família rica, decidiu ser ator a
partir dos 14 anos e ajudou a fundar o Teatro de Arte de Moscou. Quando começou
a atuar, ele estava às voltas com duas formas distintas de representação que
marcaram a evolução dessa arte no século XIX: o teatro tradicional (bastante
estilizado, em que o ator exibia gestos "quase falsos") e a técnica
recém-surgida de representação realista.
O diretor observou, então, os atores consagrados de seu tempo, além de contar
com sua própria experiência. Constatou que alguns intérpretes agiam de forma
natural e intuitiva - mas também percebeu que não havia nada escrito sobre esse
tipo de atuação. Resolveu, portanto, criar um sistema batizado com seu nome,
que passou a ser reconhecido pelas gerações futuras como O Método e ainda hoje
serve de base para a formação de todo bom ator.
O núcleo desse sistema está na chamada "atuação verossímil", uma
série de técnicas e princípios que atualmente são considerados fundamentais
para o desempenho do ator. Ao contrário da percepção de naturalidade que
observara, descobriu que a atuação realista era, na verdade, muito artificial e
difícil - e que somente seria desenvolvida mediante estudos e práticas, que ele
fez questão de organizar. Desde o lendário Actor s Studio, de Nova York, uma
das instituições mais reconhecidas no meio artístico, até as escolas de atuação
brasileiras, esse método tem sido amplamente utilizado na preparação de atores.
Alguns famosos que o adotaram são: Jack Nicholson, Marilyn Monroe, James Dean,
Marlon Brando, Paul Newman, Dustin Hoffman, Robert de Niro e Al Pacino. Entre
os mais novos, o talentoso e carismático Johnny Depp.
3ª aula - Convoque os alunos para que
assistam a um trecho de um filme com um desses atores, como, por exemplo, James
Dean, em Assim Caminha a Humanidade ou Juventude Transviada. Da carreira de
Jack Nicholson, há Um Estranho no Ninho ou O Iluminado. E, de Al Pacino, não dá
para ficar de fora da trilogia de O Poderoso Chefão ou Perfume de Mulher. Peça
que analisem a atuação dos artistas. Após a exibição do trecho do filme, leia
para a classe a definição de Stanislavsky sobre seu sistema de atuação:
"Todos os nossos atos, mesmo os mais simples, aqueles que estamos
acostumados em nosso cotidiano, são desligados quando surgimos na ribalta,
diante de uma platéia de mil pessoas. Isso é por que é necessário se corrigir e
aprender novamente a andar, sentar, ou deitar. É necessário a auto-reeducação
para, no palco, olhar e ver, escutar e ouvir." Proponha aos adolescentes
que escolham uma cena de algum dos filmes listados neste plano de aula para que
a reproduzam na sala de aula.
Veja também:
Filmografia
Gata em Teto de Zinco Quente, Richard Brooks, 1959, Warner Home Video
Quanto Mais Quente Melhor, Billy Wilder, 1959, Fox Home Video
Gata em Teto de Zinco Quente, Richard Brooks, 1959, Warner Home Video
Quanto Mais Quente Melhor, Billy Wilder, 1959, Fox Home Video
Willian Shakespeare, seu tempo e sua dramaturgia
Atividades para sala de aula
- Poeta
- William Shakespeare foi um poeta e dramaturgo inglês, tido como o maior escritor do idioma inglês e o mais influente dramaturgo do mundo. É chamado frequentemente de poeta nacional da Inglaterra e de "Bardo do Avon". Wikipédia
- Falecimento: 23 de abril de 1616,Stratford-upon-Avon, Reino Unido
- Cônjuge: Anne Hathaway (de 1582 a 1616)
-
- Plano de aula
Objetivos
Analisar, apreciar uma poesia ou peça de teatro e discutir um espetáculo teatral, se posicionando frente ao objeto artístico
Conteúdos
Crítica teatral; história do teatro
Tempo sugerido
Três aulas.
Desenvolvimento
Introdução
Se é verdade que em 1588 não havia um só teatro em Londres, não se deve
concluir que houvesse pouca atividade teatral. As Guilds não estavam ainda inteiramente
extintas, e os grupos profissionais ambulantes se multiplicavam em grande
escala; as escolas e universidades encenavam peças latinas, traduções de peças
italianas e até peças de autores locais. A Corte já vira as máscaras italianas
e pantomimas locais e, ocasionalmente, algumas companhias profissionais
estrangeiras. Autoridades também promoviam espetáculos alegóricos por ocasião
de visita de soberanos estrangeiros.
A Corte, todavia, era favorável aos atores e autores e alguns nobres consentiam
emprestar seus nomes e uma espécie de proteção às companhias de teatro. Os
puritanos começavam a atacar o drama - início de uma luta que terminaria em
1642 com o fechamento de teatros e proibição de se representar.
Foi nesse período de teatro, vigoroso e violento, que William Shakespeare
nasceu em 1564, na pacata aldeia de Stratford-on Avon, frequentou a escola
local, aprendeu um pouco de latim e deixou os estudos para ajudar seu pai nos
negócios. O certo é que ele chegou em Londres por volta de 1588 e que deixou em
sua aldeia natal sua esposa Ana Hathaway (oito anos mais velha que ele) com
quem se casou aos 18 anos com quem teve um filho. Há indícios de que começou a
trabalhar em Londres vigiando cavalos dos espectadores nas portas dos teatros, logo se tornando ator
de uma companhia e mais a frente dramaturgo.
Inicie a aula introduzindo os alunos ao universo de vida de Shakespeare, seu
contexto histórico e cultural. Levante com os alunos as peças que eles
possivelmente já leram, assistiram ou conhecem deste autor. Em geral, muitos
conhecem a peça "Romeu e Julieta", pois já viram a versão para o
cinema com o ator Leonardo Di Caprio. Pergunte também sobre a poesia dos textos
de Shakespeare. Leia uma cena de romeu e Julieta. Eles dirão que a leitura é
difícil de compreender e comentarão sobre a dificuldade de ir ao teatro por
esta questão, pois os textos em versos são muito difíceis de entender. Talvez
até lembrem de nomes de diretores consagrados como Antunes Filho, do Eduardo
Tolentino e José Celso Martinez Correa. Bem como invocarão lembranças sobre
peças estudadas em sala de aula ou feitas na própria escola. Faça a provocação
sobre por que é tão difícil entender uma poesia e como podem melhorar esse
entendimento.
Ao ouvir os apontamentos dos alunos, situe-os historicamente com relação aos
Saraus e festas onde os poetas liam seus trabalhos, bebiam muito vinho e
cortejavam suas amadas. Conte que os autores reliam as histórias conhecidas
pelas pessoas, já escritas em contos e narradas oralmente nas rodas de festas,
se apropriavam delas e escreviam suas peças.
Levante com o aluno a importância de ler em voz alta, para aprender a ouvir
novas palavras e aumentar seu vocabulário, bem como escrever redações e cartas
mais longas. É claro que se deve lembrar das novas tecnologias e refletir de
como esses conhecimentos influenciam toda a arte do século XXI.
Comente como todas essas questões e movimentos do século XXI influenciam os
artistas atuais, como podemos resgatar o valor da poesia em nossa sociedade e
pense, junto com a classe, em estratégias culturais dentro da escola para que
isto aconteça.
Abra um parênteses sobre a crítica em questão, ler juntamente com a turma a
matéria da VEJA e proponha que na próxima aula este assunto seja resgatado e
discutido.
2a aula
Nesta aula falaremos sobre a vida e a obra de Shakespeare antes de comentarmos
a matéria sobre a suposta obra do mesmo. Comente com os alunos que o autor
adquiriu fama como ator antes de se tornar célebre como autor. Supõe-se que ele
foi um bom comediante, pois seu nome aparece em várias listas de atores deste
gênero teatral e alguém escreveu que ele representava bem. Fora do palco,
gozava de simpatia de quase todos, era amável, espirituoso e bem quisto.
Tornou-se sócio de uma companhia onde montou seus maiores sucessos como autor.
Como dramaturgo é extraordinário, mais do que qualquer outro de sua época,
escreveu com maestria dramas, comédias, tragédias, peças históricas e uma infinidade
se sonetos. Dentre seus personagens mais conhecidos estão Hamlet, Romeu,
Julieta, Macbeth e Lady Macbeth, Otelo, Iago, Ofélia, Catarina, Petruchio e as
Alegres Comadres de Windsor. Aqui o professor pode estabelecer um paralelo
sobre este assunto e os conhecimentos prévios dos alunos sobre o mesmo.
Mas não só Shakespeare figurava entre os dramaturgos da época, mas é fato que
os que vieram depois dele sofrem historicamente por terem sido diretamente
apagados por sua fama. Ben Jonson, John Fletcher e John Webster teriam sido
grandes em qualquer outra época. Para comprovar esta grandeza podemos olhar
para Ben Jonson, mais erudito que Shakespeare, foi a figura mais importante
entre seus contemporâneos. Não teve grande sucesso com seus dramas, mas suas comédias
tiveram sucesso comparável ao de Shakespeare.
Nesse período não era comum a publicação das peças teatrais e muitas se
perderam ou se mantiveram inéditas em seus manuscritos. E peças como Cardenio
podem ou não terem sido escritas por Shakespeare.
Como atividade o professor pode ler com os alunos trechos das peças de
Shakespeare, poesias de poetas brasileiros e até usar letras de músicas para
mostrar a poesia que há nelas. Podemos dar como exemplos as letras das músicas
de Vinícius de Moraes e Chico Buarque de Holanda. Proponha ao grupo que escreva
uma carta, uma poesia ou uma letra de música, com estes cunhos poéticos
apresentados.
3ª aula
Nesta aula o professor poderá ressaltar que, na época de Shakespeare, era muito
comum escrever um drama, uma tragédia ou uma comédia, tendo como base uma
história conhecida; como os gregos, que utilizavam de sua mitologia nas peças
dramáticas.
A paródia surge a partir de uma nova interpretação, em geral cômica, da
recriação de uma obra já existente e, em geral, consagrada. Seu objetivo é
adaptar a obra original a um novo contexto, passando diferentes versões para um
lado mais despojado, e aproveitando o sucesso da obra original para passar um
pouco de alegria. A paródia pode ter intertextualidade.
Neste momento, retome a matéria da VEJA, e comente o quadro "Porque
Cardenio não é Shakespeare". Proponha uma reflexão com os alunos: como se
descobre que uma obra (poesia, música ou peça teatral) é ou não de um autor?
Com esta reflexão, aponte questões como autoria, plágio e direitos autorais.
Avaliação
Tendo em vista as discussões e participação nas aulas anteriores, levante quais as perguntas que os alunos fariam aos atores e ao diretor de uma peça de Shakespeare.
Bibliografia
Cheney,
Sheldon. Artigo: Shakespeare e seu
tempo. Cadernos de Teatro no. 92, Rio de Janeiro 1982.
Gassner,
John. Mestres do Teatro I São Paulo, Editora Perspectiva, série estudos,
1997.
Heliodora,
Barbara. Falando de Shakespeare. São
Paulo, Editora Perspectiva, série estudos, 1998.
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