Teoria de
Vygotsky e o processo de aprendizagem na velhice: Tendo por base o desenvolvimento do indivíduo como resultado
de um processo sócio-histórico, enfatizando o papel da linguagem e da
aprendizagem nesse desenvolvimento, sendo essa teoria considerada
histórico-social.
4/08/2010
– por Michelle Clos na categoria ‘Artigos’.
Lev S. Vygotsky (1896-1934), professor e pesquisador foi
contemporâneo de Piaget. Construiu sua teoria tendo por base o desenvolvimento
do indivíduo como resultado de um processo sócio-histórico, enfatizando o papel
da linguagem e da aprendizagem nesse desenvolvimento, sendo essa teoria
considerada histórico-social. Sua questão central é a aquisição de
conhecimentos pela interação do sujeito com o meio.
As concepções de Vygotsky sobre o processo de formação de
conceitos remetem às relações entre pensamento e linguagem, à questão cultural
no processo de construção de significados pelos indivíduos, ao processo de
internalização e ao papel da escola na transmissão de conhecimento, que é de
natureza diferente daqueles aprendidos na vida cotidiana. O mesmo apresenta uma
visão sobre a formação das funções psíquicas superiores como internalização
mediada pela cultura.
Vygotsky necessita ser compreendido a partir de seu contexto
histórico. Também contemporâneo de Marx viu no coletivo, respostas que atendiam
seus anseios sobre como a linguagem se desenvolve.
Assim, busco nesta base teórica sobre o processo de
aprendizagem e desenvolvimento, subsídios para compreender como se dá o
processo de aprendizagem na velhice, e de algum modo, assim como o
desenvolvimento humano é contínuo, os processos de aprendizagem e a assimilação
também são. Os idosos por serem sujeitos já amadurecidos biologicamente têm
algumas peculiaridades na forma como aprendem.
Aprendem não apenas como se comunicar, mas o que e de que
modo querem se comunicar. Enfim, de acordo com Vygotsky é a relação com o meio
que favorece o aprendizado, inclusive pela questão cultural. A cultura também é
o meio no qual o processo de aprendizagem se estabelece.
A
cultura fornece ao indivíduo os sistemas simbólicos de representação da
realidade, ou seja, o universo de significações que permite construir a
interpretação do mundo real.
Ela dá o local de negociações no qual seus membros estão em
constante processo de recriação e reinterpretação de informações, conceitos e
significações.
O processo de internalização é fundamental para o
desenvolvimento do funcionamento psicológico humano. A internalização envolve
uma atividade externa que deve ser modificada para tornar-se uma atividade
interna, é interpessoal e se torna intrapessoal.
O idoso internaliza as formas culturalmente dadas numa
dimensão diferente, uma vez que traz consigo o referencial e uma bagagem
acumulada ao longo da vida. O funcionamento psicológico daquele que toma conta
da própria finitude na medida em que envelhece faz com que tenha condições de
escolher com mais sabedoria (ou não) aquilo que deseja aprender e aquilo que
não tem interesse em saber.
Isso tem uma dimensão social ampla, e se fundamenta no
contexto sócio-histórico de modo que possibilita analisar a si próprio,
perceber os próprios erros e corrigir-se. Erros que são percebidos através de
um conceito que perpassa o social, a moral, enfim, o conceito que define o
certo e o errado é determinado pelo contexto social vigente.
Vygotsky também fala da aprendizagem como elemento
fundamental ao desenvolvimento e que ambos os processos são interdependentes.
No contexto do idoso é necessário um esforço para enxergar que esse sujeito
está se desenvolvendo e não como alguém que já não tem mais o que fazer. No
mundo contemporâneo e em decorrência do pensamento capitalista e da
globalização econômica e cultural, o idoso vem sendo percebido como excedente.
Todavia existe um esforço global para que este conceito errôneo seja
desmistificado, uma vez que a produção neste estágio de vida não se perde,
apenas se transforma
É com esse entendimento que, gradualmente, vem se ampliando
as atividades de lazer, de cultura, esportivas, educacionais e de saúde para
dar suporte as novas demandas dessa faixa crescente da população.
E esse processo de transformação de conceitos deveria motivar
o idoso da atualidade a continuar seus processos de aprendizagem, de
internalização dos acontecimentos de percepção da própria subjetividade. De
acordo com Vygotsky, aprender é um processo complexo que envolve estruturas
complexas. O idoso tem maior parte de suas estruturas complexas amadurecidas,
contudo só isso não garante os processos de aprendizagem. A condição cognitiva,
definida pelo autor como “funções mentais” – pensamento, memória, percepção e
atenção – biologicamente podem ser alteradas no processo de envelhecimento humano.
Enfim, a interação social e a linguagem são elementos
fundamentais para o desenvolvimento. Nesse sentido Vygotsky define dois níveis
de desenvolvimento, o real e o potencial. No primeiro considera-se aquilo que
ao sujeito já sabe, o que já conseguiu aprender e no segundo nível, aquilo que
o sujeito tem potencial para aprender.
Entres estes dois níveis existe um espaço chamado de Zona de
Desenvolvimento Proximal, que é onde o aprendizado de fato acontece através da
mediação de outro sujeito. Ou seja, é nessa distância em que se trabalha aquilo
que o sujeito sabe e aquilo que ele é capaz de aprender sob orientação e
estimulo de um outro sujeito.
Portanto este autor entende que o sujeito não é apenas ativo,
mas interativo, que a construção do aprendizado inicia de fora para dentro e
esta relação é sempre mediada pela cultura e relacionada ao desenvolvimento
mental superior.
Vygotsky vê o sujeito em sua completude o e a partir de
conceitos individuais. Diz que o sujeito aprende a significar tudo aquilo que o
cerca a partir de sua capacidade de compreensão e da mediação com a cultura.
Assim, na minha prática profissional, acredito no idoso como um sujeito em sua
totalidade, que não depende apenas de seu potencial genérico para aprender, mas
é a todo o momento influenciado na mediação sociedade e sujeito.
Acredito que se vygotsky tivesse vivido mais anos, talvez
tivesse buscado compreender a velhice também como uma fase de aprendizado,
observando o que fica mais vulnerável no complexo sistema do corpo humano e que
de modo direto afetaria nos processos de internalização e nas funções mentais.
Símbolos, linguagem, significados, sentido, são termos
comumente encontrados no pensamento deste autor. Aqui é interessante mencionar
o que Vygotsky entende por significado e sentido, para compreendermos uma
pequena parcela daquilo que o mesmo buscava desvendar no que se refere à
linguagem.
Assim, velhice tem como significado uma etapa de vida que
acontece mais ao fim do ciclo de vida humano. Contudo para parte dos idosos
institucionalizados o sentido da velhice é depreciativo, decadente, triste;
enquanto para idosos que residem com familiares a velhice pode também ter o
sentido de continuidade, experiência e sabedoria.
Assim, para realizarmos uma aprendizagem eficiente e eficaz é
necessário que compreendamos qual o sentido atribuído pelo sujeito a
determinado signo. A família é o ambientem mais propicio para a realização de
trocas e aprendizagem simbólica e afetiva. Contudo se a família não se faz
presente e ativa devemos buscar substitutos equivalentes
Enfim, quando buscamos subsídios para entender a prática
psicopedagógica em espaços fora do âmbito escolar, nos defrontamos com um
desafio: a produção de conhecimento e a busca por dados novos sobre outras
situações.
Relacionar as idéias de Vygotsky num cotidiano profissional
no qual os sujeitos envolvidos têm mais de 60 anos é uma tarefa estimulante e
delicada. Mas este processo é importante quando se busca ampliar os horizontes
da prática profissional do psicopedagogo.
Entender
que na infância o sujeito vai se constituindo e se construindo em todos os
aspectos é de fácil aceitação, assim como é tranquila a compreensão de que a
criança é aquela que necessita aprender a viver em sociedade. Contudo
não parece simples a compreensão de que o velho não pára de aprender, mas
recicla e renova as formas de assimilação e captação de informações.
Assim, para realizarmos uma aprendizagem eficiente e eficaz é
necessário que compreendamos qual o sentido atribuído pelo sujeito a
determinado signo. A família é o ambientem mais propicio para a realização de
trocas e aprendizagem simbólica e afetiva. Contudo se a família não se faz
presente e ativa devemos buscar substitutos equivalentes.
Enfim, quando buscamos subsídios para entender a prática
psicopedagógica em espaços fora do âmbito escolar, nos defrontamos com um
desafio: a produção de conhecimento e a busca por dados novos sobre outras situações.
Relacionar as idéias de Vygotsky num cotidiano profissional
no qual os sujeitos envolvidos têm mais de 60 anos é uma tarefa estimulante e
delicada. Mas este processo é importante quando se busca ampliar os horizontes
da prática profissional do psicopedagogo.
Entender que na infância o sujeito vai se constituindo e se
construindo em todos os aspectos é de fácil aceitação, assim como é tranquila a
compreensão de que a criança é aquela que necessita aprender a viver em
sociedade. Contudo não parece simples a compreensão de que o velho não pára de
aprender, mas recicla e renova as formas de assimilação e captação de
informações.
Falar
em potencial e real, bem como de zona proximal é entender que esta é uma
dinâmica contínua na vida dos sujeitos de todas as idades. Toda via o idoso nem
sempre necessita de alguém “mais velho”, mas de alguém com um conhecimento
diferente daquele que o mesmo construiu ao longo da própria vida. Aprender
(com) e ensinar seus iguais é uma constante na vida daqueles que se relacionam
com outros idosos. No contexto social brasileiro atual ouso dizer que o idoso
luta diariamente para resinificar sua existência, contudo, os conceitos cristalizados na
história destes sujeitos dificilmente serão modificados, uma vez que já
construíram bases sólidas nos processos mentais superiores.
Outra peculiaridade na realidade do idoso são as doenças
degenerativas neurológicas. A doença de Alzheimer, por exemplo, atinge no
cérebro o campo específico da linguagem e da memória, de modo que o idoso passa
a perder gradualmente a capacidade de escrita, fala. Outras demências também
afetam o idoso, todavia, nenhuma destas situações os incapacita para a
linguagem universal do afeto.
Enfim, Vygotsky traz uma belíssima contribuição à sociedade,
na medida em que busca conhecer e explicar os caminhos que a mente humana faz
para aprender e se desenvolver. Esta é uma pequena reflexão ante o imenso
universo de conceitos, idéias e contribuições deixadas por Vygotsky.
Teoria de Vygotsky e o processo de aprendizagem
na velhice: Obras consultadas
·
ESSA, V. H. Teorias de Aprendizagem. Curitiba: IESDE, 2006.
·
TAILLE, Y.; OLIVEIRA, M. K.; DANTAS, H. Piaget, Vygotsky,
Wallon: Teorias Psicogenéticas em discussão. 18. ed. São Paulo: Summus, 1992.
·
ZACHARIAS, V.L. Vygostsky e a educação. Disponível em:
http://www.centrorefeducacional.com.br/vygotsky.html. Acesso em: 17 fev. 2007.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Oi! Deixe aqui seu recadinho, obrigada.