A Afetividade no processo de aprendizagem
Sabemos que a
afetividade já foi bastante estudada e considerada como um dos fatores na
educação, pois é através das interações sociais que se constrói a aprendizagem.
É primordial que o educador tenha uma postura de de mediador, estimulando o
processo de aprendizagem desse sujeito em construção. Os sentimentos são um dos
elementos que constituem o ser humano, de forma que não podem ser
negligenciados de maneira alguma, pois fazem parte de suas habilidades e
competências altamente valorizadas na atualidade. Nos Parâmetros Curriculares
Nacionais (PCN) ( Brasil, 1997), consta que uma educação de qualidade
deve desenvolver as capacidades inter-relacionais, cognitivas, afetivas, éticas
e estéticas, visando a construção do cidadão em todos os seus direitos e deveres.
Verificou-se a necessidade de desenvolvimento de projetos escolares que
contemple o trabalho das emoções.
A afetividade deveria ser a
primeira preocupação dos educadores éticos, porque é um elemento que condiciona
o comportamento, o caráter e a atividade cognitiva da criança. E o amor não é
contrário ao conhecimento podendo tornar-se lucidez, necessidade e alegria de
aprender. Quando se ama o mundo, esse amor ilumina e ajuda a revelá-lo e a
descobri-lo
Entende-se que a escola é a continuação
do lar, na verdade há crianças que passam mais tempo na escola que com suas
famílias, sendo que esta não pode se limitar a fornecer somente conhecimentos
conceituais e curriculares, mas também contribuir para o desenvolvimento da
personalidade de seus alunos em sua totalidade é um imprescindível papel do
educador. A maior influência no processo escolar é exercida pelo professor que
tem o papel de mediador “ Facilitador” e que precisa ter o conhecimento de como
se dá o desenvolvimento emocional e comportamental da criança em todas as suas
manifestações.
Crescer é também estabelecer
vínculos que não sejam somente vínculos de dependência. É no âmbito familiar a
partir dos vínculos entre as pessoas destes primeiros convívios que se inicia a
relação do ensinar e o aprender e que também se inicia o Alfabetizar. A base
destas relações é vincular e afetiva, pois o bebê utiliza uma forma de
comunicação emocional com um adulto para mobilizá-lo a ganhar os cuidados que
necessita. Dessa forma o que sustenta a etapa inicial do processo de
aprendizagem é o vínculo afetivo estabelecido entre a criança e o adulto (KLEIN
1996). Fernandez (1991), diz que a aprendizagem é repleta de afetividade, já
que ocorre a partir das interações sociais, e nos diz ainda que, aprendizagem é
uma mudança comportamental resultante da experiência, é uma forma de adaptação
ao meio onde esse indivíduo está inserido.
O afeto é essencial para o
funcionamento equilibrado do nosso corpo nos dando confiança, coragem,
motivação, interesse, além de tornar mais fácil a socialização. A criança
precisa sentir-se segura para poder desenvolver seu aprendizado, e é necessário
que o professor tenha consciência de como seus atos são extremamente
significativos nesse processo, porque essa relação aluno-professor é permeada
de afeto, e as emoções são estruturantes da inteligência do indivíduo (WALLON,
(1995).
Freire (1997), afirma a
importância dos componentes afetivos na construção do conhecimento. Ele diz que
devemos evitar o medo dos nossos sentimentos, de nossas emoções, de nossos
desejos e o medo de que esses ponham a perder nossa cientificidade; diz ainda
que, o que sabemos, sabemos com o corpo inteiro, com a mente, com os
sentimentos, com a intuição e com as emoções. A afetividade constitui um fator muito
importante no processo de desenvolvimento humano, e é na relação com o outro,
por meio desse outro, que o indivíduo poderá se delimitar como pessoa e manter
o processo em permanente construção.
Confira ainda: A Afetividade na Educação Infantil.
Importantes teóricos da
Psicologia e Educação, a exemplo de Vigotsky , Wallon, Piaget, entre outros,
produziram conhecimentos relevantes acerca da afetividade como parte integrante
na constituição do sujeito. Conforme Galvão (2004), o teórico Henri Wallon
trouxe uma respeitosa contribuição não só para os estudos de aprendizagem, mas
também para o entendimento da dinâmica vivencial do ser humano no processo de
constituição da sua personalidade.
Wallon (1995), desenvolveu seus
estudos sobre afetividade em uma teoria baseada numa perspectiva
histórico-cultural, afirmando em sua teoria da Psicogênese da Pessoa Completa,
que a dimensão afetiva, ao longo de todo o desenvolvimento do indivíduo, tem um
papel fundamental para a construção da pessoa e do conhecimento. Foi também o
primeiro teórico a abordar especificamente as emoções dentro da sala de aula, e
ver os conflitos com uma visão positiva, assim como pontuar questões referentes
à importância dos movimentos corporais da criança neste contexto.
Este autor definiu muito bem a
diferença entre emoção e afetividade, conceituando emoção como elemento
mediador entre o orgânico e o psíquico. Desta forma compreende-se a emoção como
o primeiro forte vínculo da criança com o mundo, assim como uma forma de
expressão adaptativa com o seu meio. Já a afetividade corresponde a um momento
mais tardio do desenvolvimento, sendo este marcado por elementos subjetivos que
moldam a qualidade das relações com sujeitos e objetos. Logo, pode-se dizer que
a afetividade sinaliza a entrada da criança no universo simbólico,
proporcionando também a origem da atividade cognitiva. Segundo ele, afetividade
refere-se à capacidade, à disposição do ser humano de ser afetado pelo mundo
externo/interno por sensações ligadas a tonalidades agradáveis ou
desagradáveis. Ser afetado é reagir com atividades internas/externas que a
situação desperta.
E a visão dualista do homem
enquanto corpo/mente, matéria/espírito, afeto/cognição, têm dificultado a
compreensão das relações entre ensino e aprendizagem e da própria totalidade,
sendo que se faz necessário conhecê-la melhor.
Contribuições de Henri Wallon
para a educação
Para esse autor, o termo
afetividade corresponde às primeiras expressões de sofrimento e de prazer que a
criança experimenta, sendo essas manifestações de tonalidades afetivas ainda em
estágio primitivo, de base orgânica. Ao se desenvolver, a afetividade passa a
ser fortemente influenciada pela ação do meio ambiente, tanto que este autor
defende uma evolução progressiva da afetividade, cujas manifestações vão se
distanciando da base orgânica, e tornando-se cada vez mais relacionadas ao
social (WALLON, 1941/2007).
Wallon (1995), diz ainda que a
constituição biológica da criança, ao nascer, não será a única lei de seu
destino, ela passará pelas transformações das circunstâncias da vida e também
das suas escolhas pessoais. Ou seja, o desenvolvimento humano não depende
apenas do potencial herdado geneticamente, mas o meio onde ele está inserido
poderá desencadear modificações genotípicas. Ele também afirma que as emoções
aparecem desde o nascimento do indivíduo, e são a exteriorização da afetividade
e a expressão corporal e motora. Tem um poder plástico e contagioso e são os
primeiros contatos com o mundo físico.
Esse importante teórico da área
da educação propôs grandes contribuições estruturais no sistema educacional
francês, apontando três momentos marcantes e sucessivos na evolução da
afetividade: a emoção, os sentimentos e a paixão; os quais resultam de fatores
orgânicos e sociais e correspondem a configurações diferentes. Na emoção, há o
predomínio da ativação fisiológica; no sentimento, ativação representacional e
na paixão a ativação do autocontrole. Emoções são sistemas de atitudes
reveladas pelo tônus muscular, são altamente orgânicas, alteram a
respiração e os batimentos cardíacos. A emoção dá rapidez às respostas do
organismo, para fugir ou atacar quando não há tempo para pensar; ela é apta
para suscitar reflexos condicionados. Ela estimula mudanças que tendem a
diminuí-la ao propiciar o desenvolvimento cognitivo; e atitude é a combinação
entre o nível de tensão muscular e a intenção.
O autor afirma que o estudo da
criança exige o estudo do meio em que ela se desenvolve, e esse meio deverá
corresponder às suas necessidades e as suas aptidões sensório-motoras e
posteriormente psicomotoras.
Para ele, os sentimentos
correspondem à expressão representacional da afetividade, não implicando em
reações diretas e instantâneas como nas emoções; opõem-se ao arrebatamento,
tendem a reprimir e impor controle para quebrar sua potência. Os sentimentos
são manifestações mais evoluídas e aparecem mais tarde na criança quando se
inicia as representações. Quando adultos os indivíduos tem maiores recursos de
expressão porque primeiro observam, refletem antes de agir, sabem onde, como e
quando se expressar (WALLON, 1941/2007).
O estudo do processo da
aprendizagem na teoria de Wallon (1995), é dividido em conjuntos ou
domínios funcionais para explicar didaticamente o que é inseparável, a
pessoa. São divididos em etapas do desenvolvimento do psiquismo humano. Esses
domínios são: os da afetividade, do ato motor, do conhecimento e da pessoa.
O conjunto afetivo são as funções
responsáveis pelas emoções, sentimentos e pela paixão.
O conjunto ato motor oferece a
possibilidade de deslocamento do corpo no tempo e no espaço, as reações
corporais que garantem o equilíbrio corporal, bem como o apoio tônico para as emoções
e os sentimentos se expressarem.
O conjunto cognitivo oferece um
conjunto de funções que permite a aquisição e a manutenção do conhecimento por
meio de imagens, noções, idéias e representações.
O conjunto funcional – a pessoa-
expressa a integração em todas as suas inúmeras possibilidades.
Todos os conjuntos inicialmente
se revelam de uma forma nebulosa, global, difusa, sem distinção das relações
que as unem, mas em cada estágio um dos conjuntos predomina, ficando mais
evidenciado, embora os outros também estejam presentes numa relação
complementar.
Os estágios são:
impulsivo-emocional, sensório-motor e projetivo, personalismo, categorial,
puberdade e adolescência. Em cada um desses estágios de desenvolvimento há uma
alternância de movimentos ou direções.
Nos estágios impulsivo-emocional
(0 a 1 ano), no personalismo (3 a 6 anos), na puberdade e adolescência (11 anos
em diante), a direção do movimento é para dentro, para o conhecimento de si, o
predomínio é afetivo.
Nos estágios sensório-motor, e
projetivo (1 a 3 anos) e no categorial (6 a 11 anos), o movimento é para fora,
para o conhecimento do mundo exterior e o predomínio é do cognitivo.
Embora nessa teoria o
desenvolvimento seja descrito até a adolescência, esse processo não termina
nessa etapa da evolução humana, porque a constituição do “eu” é um processo que
jamais acaba, perdurando por toda a vida. Somos seres Inacabados “ Paulo
Freire”.
Relação Aluno-Professor
Fernández (1991), diz que é no decorrer
do desenvolvimento que os vínculos afetivos vão se ampliando na figura do
professor e na importante relação de ensino e aprendizagem na época escolar.
Diz também, que para haver aprendizagem é necessário que haja no mínimo dois
personagens, o ensinante e o aprendente. Nessa relação é necessário confiança,
pois não aprendemos de qualquer um, mas aprendemos daquele a quem outorgamos o
direito de ensinar.
O papel do professor é de
mediador do conhecimento, é a ponte para facilitar o aprendizado. Queira ou
não, ele é um modelo na sua forma de expressar valores, resolver conflitos,
comunicar-se; na forma de ouvir, falar e de relacionar-se com os outros
professores e com os alunos. E a forma como o professor se relaciona com o
aluno se reflete nas relações do aluno com o conhecimento e na relação
aluno-aluno. Nessa relação há um antagonismo entre emoção e atividade
intelectual que Wallon chama de antagonismo de bloqueio, ele também diz que
quando não são satisfeitas as necessidades afetivas, estas resultam em
barreiras para o processo ensino-aprendizagem e, portanto, para o
desenvolvimento, tanto do aluno como do professor e que esses conflitos são
essenciais ao desenvolvimento da personalidade (WALLON, 1995).
Almeida (2001), refere que essa
natureza antagônica da relação aluno-professor oferece riquíssimas
possibilidades de crescimento e que o conflito faz parte da natureza, da vida
das espécies, porque somente ele é capaz de romper estruturas prefixadas,
limites predefinidos e atingir os planos sociais, morais, intelectuais e
orgânicos.
O educador do século XXI
necessita ter competências e habilidades para perceber e intervir em situações
que envolvam conflitos e crises emocionais, o educador deve ter consciência do
poder do contágio emocional entre as crianças e atuar nessas situações,
promovendo intervenções que possam ser administradas de forma significativa e,
possivelmente, benéfica para o grupo.
Há uma necessidade urgente de
renovação dos processos de ensino-aprendizagem que devem levar em conta a renovação
também das estruturas organizacionais. É necessário construir estratégias que
gere, tanto na sala de aula como na escola, um clima de segurança, confiança e
respeito a individualidade de cada indivíduo que, por consequência, trará
liberdade de expressão emocional, física e criativa. Escolas não são edifícios,
escolas são pessoas “ José Pacheco”. A aprendizagem está intimamente
ligada a transformações sociais e a comunidade deve se ater ao seu papel
crucial dentro da escola, porque sem a participação da mesma, não haverá
mudanças sociais e nem aprendizado.
Aprender a conviver em sociedade
é um dos objetivos da educação escolar. Para isso, é necessário ensinar a
conciliar a relação igualdade e diferença, paz e violência, aceitação e
preconceito, sendo que esse processo exigirá dos professores uma postura
democrática e não autoritária onde trabalha a criatividade e liberdade de
expressão, que são contrários ao modelo atual onde é esperado o mesmo
comportamento para todos, como se fosse possível colocar uniformes no interior
dos alunos. Até mesmo o modelo de avaliação da aprendizagem deve ser
revisto, pois não aprendemos da mesma forma e não nos comunicamos no mesmo
nível de linguagem, o que não quer dizer que não somos capazes de aprender, mas
sim que todo ser humano é único.
Vygotsky e Wallon (1992), afirmam
que a relação afetividade-inteligência possui um caráter social e fundamental
para todo o processo de desenvolvimento do ser humano. E cabe ao educador
integrar o que amamos com o que pensamos, trabalhando razão e emoção. De modo
que todo indivíduo tenha condições de usar tanto a razão quanto os sentimentos,
e aprenda a conhecer-se a si mesmo e a seus semelhantes.
O professor é o único no mundo
que tem nas mãos a argila com a qual se moldará o amanhã. Antunes (2002).
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