“Mire veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não
estão sempre iguais, ainda não foram terminadas – mas que elas vão sempre
mudando. Afinam ou desafinam. Verdade maior. É o que a vida me ensinou.
João Guimarães Rosa. Grande sertão: veredas.
Há algumas décadas, pouco sabíamos sobre o cérebro. Mas dos
anos 1990 – a chamada “década do cérebro” – até agora, inúmeras pesquisas
neurocientíficas têm esquadrinhado o cérebro e posto ao nosso alcance uma
abordagem nova e, em minha opinião, muito animadora. Acredito que o mais
importante conceito dessa nova abordagem, o conceito que nos oferece um norte
para a utilização mais eficaz e, também, para a melhor e mais proveitosa
manutenção desse fabuloso órgão, é justamente o conceito de plasticidade. Se
um dia acreditamos que ao nascer trazíamos um cérebro pronto, geneticamente
definido, hoje a ciência confirma o contrário: o cérebro é um órgão em
constante e permanente mudança, passível de estar sempre em crescimento. Se
algum dia na vida você se encolheu miudinho, se sentindo meio desprovido de
inteligência, se um dia você já se achou assim meio burrinho, anime-se! (Aliás,
não se preocupe, acho que todo mundo já se sentiu assim, algum dia.) As novas
notícias da ciência trazem um alento para todos que já nos sentimos assim: “em
termos de cérebro, a realidade nunca é absoluta. O que somos agora, já não
seremos amanhã. O cérebro pode ser modelado. Tem a mesma propriedade da argila,
do barro. É a bagagem de experiência de cada dia que vai modelá-lo. Tal como no
texto de Guimarães Rosa, ainda não fomos terminados, podemos afinar ou
desafinar. Não há destino preestabelecido. Nós somos o maestro. Não há forma
definitiva. Nós somos o artesão de nós mesmos. Não é formidável?” (Fragmento
extraído do livro Te cuida – Beleza, inteligência e saúde estão na mira,
de minha autoria, Editora Vozes).
Como um
recreio, uma bela história:
AS MONJAS DE MANKATO
“A
PLASTICIDADE DO CÉREBRO não só ajuda na recuperação, mas pode desempenhar um
papel na prevenção de doenças cerebrais. Para ter prova disso, basta visitar a
escola do mosteiro das irmãs de Notre Dame, na remota Mankato, Minnesota.
Muitas freiras têm mais de 90 anos e um número surpreendente chega aos 100; em
média, vivem muito mais do que as pessoas em geral. (...)
Instigadas
por sua crença em que “mente desocupada é oficina do diabo”, as monjas
desafiavam-se obstinadamente com testes de conhecimentos vocabulares,
quebra-cabeças e debates sobre cuidados com a saúde. Realizavam seminários
semanais sobre acontecimentos correntes e escreviam com frequência em seus diários.
A irmã Marcella Zachman, tema de uma reportagem na revista Life em 1994, só
parou de dar aulas na escola do mosteiro quando completou 97 anos. A irmã Mary
Esther Boor, também apresentada na Life, ainda trabalhava na recepção aos 99
anos.
Snowdon,
que examinou mais de 100 cérebros de monjas mortas, (...) apurou que as monjas
que tinham obtido diplomas universitários, estavam lecionando na escola do
mosteiro e continuavam na velhice a exercitar suas mentes, de forma constante,
enfrentando novos desafios, viviam mais e resistiam melhor ao mal de Alzheimer
do que as monjas que tinham níveis inferiores de educação formal e passavam a
maior parte do tempo limpando os quartos ou preparando as refeições. A
conclusão de Snowdon e a de outros cientistas que estudaram o envelhecimento do
cérebro, é que qualquer atividade intelectualmente provocante estimulará o
crescimento dendrítico, aumentando o número de conexões neurais no cérebro.”
Fragmento extraído de Ratey, John
J. O cérebro – Um guia para o usuário. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002.
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