TEORIAS PEDAGÓGICAS E DIDÁTICA
Sandra Regina dos Reis
Fonte:UNOPAR -março 2021
Iniciaremos nosso estudo diferenciado teoria educacional, teoria pedagógica,organização do trabalho pedagógico e didática. |
A teoria educacional trata dos fins da educação e da relação da educação e sociedade, apontando as relações que se estabelecem entre essas duas realidades. A teoria pedagógica se propõe a objetivar e orientar o trabalho do professor e da instituição escolar no processo de ensino e aprendizagem. A organização do trabalho pedagógico ou a organização pedagógica do trabalho se inclui dentro da teoria pedagógica com uma especificidade de condução do processo de trabalho em sala de aula. A didática é uma parte ou uma dimensão da organização do trabalho pedagógico que se refere mais especificamente ao fazer do professor enquanto ensinante e ao fazer do aluno enquanto aprendente. A didática possibilita a articulação entre ensino e sociedade, buscando a compreensão de qual concepção de homem e sociedade fundamentam determinada forma de se organizar os objetivos, os conteúdos, os procedimentos, os recursos e a avaliação da aprendizagem. Mas, então, o que estuda a didática? Na formação do professor, a didática consiste em uma disciplina que discute o processo de ensino e aprendizagem, possibilitando uma reflexão sobre o papel social da escola, em uma visão contextualizada e histórica. Para Libâneo (2002, p. 8) a didática consiste em uma disciplina que se dedica ao estudo do “[...] processo de ensino no qual os objetivos, os conteúdos, os métodos e as formas de organização da aula se combinam entre si, de modo a criar as condições e os modos de garantir aos alunos uma aprendizagem significativa”. O ensino pode ser definido como um processo de comunicação com propósitos bem definidos, sendo uma ação intencional, que acontece através de ações planejadas, possibilitando a construção do conhecimento necessário à inserção social. O trabalho em sala de aula está associado às concepções sobre educação que o professor acredita. A sala de aula é um espaço rico de interações, onde todos podem ter acesso ao conhecimento se respeitada suas individualidades.
Para saber mais, leia “O essencial da didática e o trabalho de professor – em busca de novos caminhos” de José Carlos Libâneo, disponível em: http://www.ucg.br/site_docente/edu/libaneo/pdf/didaticadoprof.pdf |
Considerando que o campo da didática é o ensino, compete a ela, investigar os nexos entre ensino e aprendizagem para propor princípios, formas, diretrizes comuns e fundamentais ao ensino (Libâneo, 2002). Porém, para compreendermos a didática precisamos situá-la no tempo, isto é, conhecer sua evolução no contexto da história da educação. A didática desde os seus primórdios percorreu um longo caminho, do ponto de vista de sua teoria e prática, sendo voltada na escola tradicional para conteúdos e regras, caracterizada por um formalismo lógico. Falar em didática tradicional é lembrar autores como Comênio, que escreveu o livro denominado “Didática Magna” sendo considerado, dessa forma, o pai da Didática. Comênio (1592-1670) defende um método único e define a didática como a arte de ensinar tudo a todos. Comênio partia do princípio que a educação deve oferecer a sabedoria, a moralidade, a religião e levar o homem a felicidade eterna com Deus, pois é um direito natural das pessoas. Acreditava que a assimilação dos conhecimentos não acontecia de forma instantânea e valorizava a percepção sensorial dos alunos, sendo que o planejamento de ensino deveria obedecer à natureza infantil, ou seja, cada conteúdo de uma vez. No tocante ao Brasil, Veiga (2000) caracteriza o percurso histórico da didática dividindo-o em dois momentos: de 1549 até 1930 e o segundo de 1930 até a atualidade. O período inicial da Didática de 1549 a 1930 iniciou com a vinda dos padres jesuítas ao Brasil. “A educação não era considerada um valor social importante. A tarefa educativa estava voltada para a catequese e instrução dos indígenas, entretanto, para a elite colonial, outro tipo de educação era oferecido”. (VEIGA, 2000, p. 34). A educação dos jesuítas era contrária ao senso crítico e pregava formas dogmáticas de pensamento, privilegiando a memória e a formação do caráter. Pregavam uma educação não crítica, valorizando a memória e o raciocínio e privilegiando formação dos padres e a didática era voltada para um conjunto de regras. Com a expulsão dos jesuítas, inicia-se uma nova fase com Marquês de Pombal que é marcada pela educação laica, na qual professores leigos assumem o ensino por meio das aulas régias. O ensino permaneceu centrado no professor, transmissor da cultura geral de forma enciclopédica. A didática nesse período estava centrada no “intelecto, na essência, atribuindo um caráter dogmático aos conteúdos, os métodos são princípios universais e lógicos” (VEIGA, 2000, p. 36). O método aplicado era o de Hebart que propunha os como passos: a preparação, a apresentação, a comparação, a assimilação, a generalização e a aplicação.
Aprofunde seu conhecimento, lendo o texto “A trajetória histórica da didática “ de Amélia Domingues de Castro, disponível em: http://www.crmariocovas.sp.gov.br/pdf/ideias_11_p015-025_c.pdf |
Assista ao vídeo Didática Geral: A Identificação da Didática, disponível em: http://youtu.be/pDMjytkuJJw
Agora que assistiu ao vídeo, reflita como a didática evoluiu e como os avanços nesse campo tem contribuído para o processo de ensino e aprendizagem.
Vamos agora, dar sequência ao nosso estudo, conehcendo mais um pouquinho sobre a didática e as tendências pedagógica.
O segundo período da história da didática marcado por Veiga (2000), que se inicia na década de 30 e estende-se até a atualidade. No período de 1930 a 1945, ocorreram transformações de cunho socioeconômico, e se iniciou no Brasil o período republicano marcado pelas concepções humanistas. Em 1932, o Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova contou com a participação de vários educadores como Lourenço Filho e Anísio Teixeira. Caracterizou-se como um movimento de reação ao desinteresse político da época pela educação, sendo influenciado por ideias humanistas e pelas ideias de Dewey. A escola nova é respaldada em princípios psicológico, voltado ao desenvolvimento humano. Valoriza a pedagogia experimental, na qual os conteúdos cognitivos se deslocam para os métodos e processos pedagógicos, o centro do processo de ensino passa a ser o aluno. Preocupa-se com o interesse, a espontaneidade, a qualidade. Ensinar é criar condições de aprendizagem. O importante não é aprender, mas aprender a aprender. O professor assume o papel de estimulador e orientador da aprendizagem. Essas ideias perdem força no período de 1937 a 1945 com a ditadura Militar de Getúlio Vargas. Porém, ressurgem com o movimento desenvolvimentista e a educação popular de Paulo Freire no final dos anos 50 e início dos anos 60. Novamente são abortadas com a ditadura militar dos anos 60 e 70. Nesse período, o Brasil importa modelos de educação por meio de diversos acordos com os Estados Unidos, baseados na tendência tecnicista “inspirada nos princípios da racionalidade, eficiência e produtividade”. Ocorre a fragmentação do trabalho pedagógico (VEIGA, 2000, p. 34). O tecnicismo na educação é marcados pela visão da escola como empresa (centrado no fordismo), pela racionalidade técnica, pela valorização do planejamento, pela divisão de tarefas entre quem planeja e quem executa, pela tecnologia educacional e por questões metodológicas colocadas acima do próprio conhecimento. A didática assume um caráter técnico e prescritivo, sendo encarada como mero repasse de técnicas e formas de ensinar. Com esse perfil, é introduzida como disciplina nos cursos de formação de professores. Acentua-se ainda mais a desvinculação entre teoria e prática e “o formalismo didático por meio dos planos elaborados de acordo com normas prefixadas. A Didática é concebida como estratégia para alcance dos produtos previstos para o processo ensino e aprendizagem” (VEIGA, 2000, p. 41). Surgem no Brasil, na década de 80 as teorias crítico-reprodutivistas ou progressistas que buscam combater o caráter reprodutor da escola. Nessas, a didática deixa em segundo lugar a dimensão técnica e o senso crítico, passa a ser objetivo de professores e alunos. A perspectiva dialética traz desafios como a superação do formalismo didático priorizando a articulação e o trabalho dialético, avançando na reflexão. A educação não é mais ou processo de facilitação ou transmissão, mas de mediação, voltando-se para as camadas desfavorecidas economicamente. A didática vai além dos “métodos e das técnicas, procurando associar escola-sociedade, teoria-prática, conteúdo-forma, técnico-político, ensino-pesquisa” (VEIGA, 2000, p. 39). Assim, a didática busca recuperar suas atividades pedagógicas, analisando a realidade social e buscando mudanças na docência, através de seu compromisso com a formação.
Aprofunde seu conhecimento, lendo o texto “Tendências Pedagógicas” disponível em http://academico.ifam.edu.br/Uploads/MATERIAIS_AULAS/29039-Tend%C3%AAncias_Pedag%C3%B3gicas.pdf |
Resumo:
Nessa webaula você foi levado a conhecer um pouco sobre a didática e as teorias pedagógicas. Fizemos um breve passeio pelo contexto histórico, a fim de conhecer a história da didática e conceituá-la. Situamos o surgimento das teorias pedagógicas nas tendências pedagógicas que marcaram cada época e que ainda são presentes até os dias de hoje.
Referências
LIBÂNEO, José Carlos. Didática: velhos e novos temas. Edição do autor. Maio de 2002. Disponível em: http://www.iesp-rn.com.br/ftpiesp/Disciplinas%20PROISEP/M%F3dulo%203/2-DID%C1TICA_DO_ENSINO/Texto%20Complementar%20-%20Did%E1tica%20-%20Velhos%20e%20novos%20temas.pdf
VEIGA, Ilma Passos Alencastro (Coord.). Repensando a didática. 16. ed. Campinas: Papirus, 2000.
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