Neurociência da Aprendizagem
A Neurociência da Aprendizagem
Nós sabemos que, atualmente, a alfabetização tem sido um tema muito discutido nos congressos, em cursos de capacitação, entre outros. Por toda parte se fala sobre a alfabetização na tentativa de buscar soluções para os problemas do nosso país, porém, estamos enfrentando certas dificuldades no âmbito da educação.
Fonte: https://connaped.com.br/a-neurociencia-da-aprendizagem/
Para começar, eu gostaria de perguntar para você o seguinte: o que é necessário compreender para ensinar a leitura e a escrita? É uma pergunta um pouco complicada, por que são necessárias tantas coisas, não é verdade?
O primeiro ponto que eu gostaria que você refletisse comigo é se você está disposto a desconstruir. Quando eu digo desconstruir, é desconstruir conceitos e alguns achismos que, muitas vezes, impedem que você tenha sucesso nesse processo. Nós precisamos estar muito atentos a isso e repensar a nossa prática pedagógica e psicopedagógica.
Como profissional de educação precisamos, a todo momento, buscar algo que venha a nos fortalecer e permitir que o sucesso seja alcançado. Então, esteja disposto a reconstruir e refazer, se necessário, um caminho para que você possa ter sucesso no que você está fazendo.
A segunda coisa que eu quero colocar para você é que, para ensinar a leitura e a escrita, é necessário compreender como nosso cérebro funciona. É necessário saber quais são as estruturas neuronais que estão envolvidas nesse processo. Muitas vezes, nós apenas ensinamos, mas o que precisa acontecer dentro do nosso cérebro para realmente se aprender algo?
Eu também gostaria de lembrar que a alfabetização é um processo, e que não começa no primeiro ano de ensino, mas, sim, que precisa iniciar desde a educação infantil com o estímulo adequado.
Eu não digo aqui que a criança precisa ser alfabetizada na educação infantil, mas muitas habilidades precisam ser construídas a partir da educação infantil, entendendo a alfabetização como um processo. A alfabetização inicia antes da leitura e escrita, isso precisa estar claro.
É importante compreender que a alfabetização também está relacionada aos componentes sonoros da fala e, muitas vezes, ficamos concentrados apenas na escrita. Vamos abordar um pouquinho de cada um desses temas.
O QUE É NEUROCIÊNCIA DA APRENDIZAGEM?
Existe um estudo que esclarece como o cérebro trabalha com as memórias, entendendo como elas se fortalecem e como essas informações são armazenadas. Nós precisamos, enquanto professores, entender a importância da neurociência da aprendizagem e levar em conta que ela pode ser uma aliada para melhorar o aprendizado das crianças.
A criança vai para a escola para aprender e precisamos entender isso; a neurociência nos dá esse embasamento. Precisamos entender, também, que, quando falamos e pensamos em educação, falamos nas conexões neurais existentes nisso. Quanto mais você estimula, mais fortalecidas ficam todas as conexões neurais na mente dos nossos alunos.
COMO NOSSO CÉREBRO APRENDE?
Nosso cérebro aprende de diferentes formas, e uma delas é pelas sensações. Vamos imaginar as crianças. Qual a melhor forma das crianças aprenderem? Será que as crianças aprendem somente por cópia? Será que as crianças aprendem pela quantidade de exercícios? Será que é só por esse caminho?
Nós precisamos compreender que as atividades relacionadas a esse ensino precisam primeiro passar pelas sensações; precisam passar por aquilo que é significativo. Se for parar para pensar nas nossas aulas, por exemplo, qual delas teve uma repercussão melhor com seus alunos? Com certeza, foi aquela que você planejou um jogo, uma música, um contato e uma nova experiência.
Isso marca, e nós precisamos de aulas mais significativas, porque é assim que o nosso cérebro aprende. Ele também aprende pelas vivências e experiências, e quanto maior for essas duas ações, melhor o seu aluno irá aprender. Ele também aprende pela imitação, então, não devemos deixá-la de lado.
E O QUE A NEUROCIÊNCIA CONTRIBUI PARA TUDO ISSO?
Nós sabemos que as crianças aprendem dessa forma. Muitas vezes, nós nos planejamos para que isso aconteça. Mas o que a neurociência fala sobre isso? A neurociência diz que o nosso cérebro funciona como uma orquestra, ou seja, ele trabalha de forma integrada para que essa aprendizagem aconteça.
É necessário que nós, professores, consigamos ativar áreas de nosso cérebro para que ele possa funcionar bem e, também, para que nossos alunos possam aprender de forma significativa.
Então, precisamos nos atentar a cada uma dessas partes, mas, sempre levando em conta que o todo precisa estar integrado. Assim, nós podemos utilizar melhor essas áreas do nosso cérebro, pois todas elas precisam ser ativadas. Quando você estiver fazendo o seu planejamento da alfabetização, leve em conta o que é uma atividade, o que é uma intervenção metodológica e quais áreas do cérebro do aluno você estará ativando.
E QUAIS SÃO AS REGIÕES DO CÉREBRO QUE ESTÃO ENVOLVIDAS?
São muitas, mas eu destaquei aqui três regiões muito importantes no processo de aprendizagem: a primeira é o Sistema Límbico, que é o sistema responsável por nossas emoções, seja uma emoção boa ou emoção ruim. Vamos pensar em nós: se nós formos submetidos a uma emoção forte, seja ela boa ou ruim, vai ficar registrado em nosso cérebro.
Agora, imagine quantas experiências os seus alunos estão sendo submetidos, quantas emoções eles sentem na aula a que eles estão expostos. Será que quando você está planejando a sua aula, está levando em conta que essa emoção contribui para a aprendizagem? Isso é muito importante.
Uma outra área que precisamos estar atentos é o Hipocampo, que é onde se consolidam essas memórias. Tudo aquilo que ele aprende de forma significativa vai ficar armazenado no Hipocampo, que serve como uma caixa maior, onde as memórias podem se consolidar e ficar lá guardadas por tempos e tempos, onde o aluno irá utilizar essas memórias para todo o seu processo. Não é algo que vai ficar registrado e depois apagado, vai ficar guardado no Hipocampo, o que é significativo.
E também tem a Região Pré-Frontal, que é a sede da cognição, da atenção e da memória de curto prazo. Tudo que os alunos aprendem primeiro passa pelo Pré-Frontal. Nós precisamos entender que tudo que vamos ensinar nesse processo de alfabetização precisa produzir atenção. A criança precisa estar atenta e envolvida emocionalmente a esse processo, para que essas aprendizagens possam estar guardadas na memória de longo prazo.
Porque, se isso não acontecer, hoje você ensina, amanhã você precisa ensinar de novo, porque a criança não aprendeu. Muitas vezes os professores se questionam, “poxa, acabei de ensinar, acabei de falar e agora eu tenho que falar de novo, agora eu preciso refazer isso”, parece um andar em círculos porque o processo não avança. A metodologia, ou, talvez, a forma com que você está abordando essas atividades não esteja gerando uma ativação nessas áreas que eu julgo como as principais áreas para uma aprendizagem significativa.
Se você não envolve emoção, não vai ter um armazenamento em longo prazo. Hoje ela aprende e daqui a pouco esquece, então, precisamos envolver essas crianças da melhor forma possível no processo de alfabetização. E eu não estou falando somente de recursos de alfabetização, estou falando que precisamos atentar para metodologias que envolvam áreas cerebrais e os seus conjuntos para uma aprendizagem mais significativa.
Muitas vezes, o professor fala, “poxa, mas eu utilizo música, cantigas de roda, brincadeiras, diversifico o máximo e, mesmo assim, as crianças não aprendem”, porque muitas vezes não está só nisso, não está só no recurso e, sim, na metodologia. Precisamos compreender que uma coisa anda junto com a outra, mas não podemos ver só por um lado, ou seja, só pelo lado da diversidade de recursos e distanciar da metodologia; isso tudo precisa caminhar junto.
Portanto, quando eu falo de estratégia adequada, estou colocando um resultado prazeroso, um ensino prazeroso, e isso vai provocar alterações na qualidade das conexões sinápticas. Quanto mais envolvido esse processo estiver, maior quantidade de ligações neuronais será realizada e maior número de sinapses vai ser gerado. Então, nós precisamos entender que o ensino prazeroso provoca uma quantidade e uma qualidade de conexões para um bom funcionamento cerebral e junto com isso melhora de resultados. Nós estamos pensando em resultados, então precisamos melhorar o processo.
E aí, você vai ativar o Sistema Límbico que é a área do prazer do nosso cérebro. Quanto mais esta área do Sistema Límbico estiver sendo ativada, maior será a quantidade de memória de longo prazo. O Hipocampo vai ficar cheio de informações úteis para essa criança e ela vai realmente gerar e consolidar uma aprendizagem.
Eu lembro cada vez que eu planejava uma aula com uma brincadeira, as crianças já perguntavam “tia, o que nós vamos brincar no outro dia, nós vamos brincar do que amanhã?”. Por que eles perguntavam isso? Porque eles estavam ansiosos para as novidades e os desafios que eles seriam submetidos. O nosso cérebro ele precisa ser estimulado dessa forma, precisa ser desafiador.
Quando a criança vai para escola e já sabe o que vai acontecer, já sabe quais são os exercícios que o professor vai passar, já sabe qual vai ser o processo que ele vai ser submetido, isso vai gerando um desinteresse, então, nós, professores, precisamos nos renovar e as crianças também precisam se sentir renovadas.
Então as atividades precisam ser prazerosas e desafiadoras, porque se não trouxermos desafios diários, nós não vamos contribuir para que as redes neurais e as sinapses estejam sendo realizadas, então, precisamos nos atentar muito para esse processo. De toda a neurociência, eu posso resumir que precisamos estimular a atenção e a memória envolvendo prazer. Se não for assim, ou seja, se não for prazeroso, não há aprendizagem que se consolide.
E QUAL A SUA POSIÇÃO ENQUANTO PROFESSOR NA ATUALIDADE? O QUE O PROFESSOR PRECISA SABER?
O professor precisa identificar o seu aluno, precisa compreender que ainda que você tenha uma turma de 30, 35 crianças, cada um é único nesse processo. Você precisa compreender que ele é um ser pensante e precisa aprender a formular as suas hipóteses e estar atuante nesse processo, ou seja, ele não pode depender de você, integralmente. Nesse processo, o aluno tem que ter independência, e precisamos entender que ele aprende de forma pessoal. Ainda que você ensine para todos da mesma forma, cada um vai ter o seu estilo de aprendizagem. Eles são especiais, e cada um deles tem a sua característica e precisa ser respeitada.
Uma das coisas mais comuns é ver o professor achando que ele vai ensinar da mesma forma para todo mundo. Você precisa entender que cada criança é uma criança, que cada um está submerso dentro do seu universo. Seu cérebro vai ter uma maior inclinação para um determinado estilo de aprendizagem, por isso a necessidade de diversificarmos cada vez mais.
É necessário adotar uma metodologia que possa alcançar a maioria das crianças; sendo assim, precisamos aprender a maneira como o aluno aprende, e não o contrário; ou seja, precisamos entender a maneira como ele aprende e ensinar da maneira como ele aprende.
Quando você faz isso, você percebe a individualidade de cada aluno. Eu sempre estive atenta na sala de aula para diversidade. Quando o aluno pergunta, “mas como é isso? Eu não entendi”, eu tento ensiná-lo do melhor jeito que ele possa aprender.
E QUAIS SÃO OS FATORES QUE VIABILIZAM ESSA APRENDIZAGEM?
O primeiro fator é você conhecer e usar todo o conhecimento trazido da neurociência. Eu sei que a nossa formação é falha nesse processo, tanto é que, por isso, nós estamos aqui, falando todos esses dias com diferentes profissionais sobre o processo de aprendizagem e o que a neurociência traz para essa aprendizagem.
Então saber disso é importante para entendermos tudo, pois é o fator principal que está atrelado a todo o processo de aprendizagem. Uma outra coisa essencial é envolver a família do aluno a este processo. Esse é um ponto muito difícil e delicado dos professores tratarem, mas é importante que seja falado, pois, sem uma integração nesse processo, tudo fica mais difícil ainda.
Precisamos envolver a família para que haja um facilitador nessa aprendizagem e respeitar as características do cérebro do aluno como nós acabamos de falar. A aprendizagem, principalmente da leitura e escrita, não se dá de forma natural, então, o professor precisa estar atuando diretamente nisso como mediador desse processo, porque se isso não acontece, a aprendizagem acaba ficando com falhas. E isto não se dá pela criança, e, sim, pelo papel do mediador nessa participação.
Também se faz importante escolher um método adequado. Hoje, quando eu pergunto para os meus colegas sobre o método que utiliza para alfabetizar os seus alunos, escuto muitas respostas diferentes, dentre elas, que não existe um método, ou que se trabalha com vários métodos, método fônico, método sensorial, enfim, é necessário que você estabeleça o seu método. Qual o método que você está usando?
E há ainda uma certa confusão, pois, muitos dizem que “eu trabalho com métodos construtivistas, sociointeracionista”, o construtivista e o sociointeracionista não são método de ensino, são teorias de aprendizagem. Nós nos apossamos dessa teoria e aplicamos aos nossos métodos. Então, assim, é necessário que você tenha sua identidade. Qual método que você escolheu para alfabetizar, já que esse é o nosso ponto nessa palestra?
SISTEMA NEURONAL DE LEITURA. QUE SISTEMA É ESSE?
Como eu disse no início, nosso cérebro é uma caixa repleta de surpresas e cada parte dele ativa determinada função. Nós temos a parte que está relacionada à fala, à parte motora da fala, outra que está relacionada à interpretação, a parte das sensações, entre muitas outras. Por exemplo, a parte da atenção é o lobo frontal, da audição está lá na área temporal, da visão é o lobo occipital e assim vai; todas as áreas estão envolvidas nesse processo.
Mas nós destacamos aqui que, quando se fala de leitura, precisamos ativar áreas específicas como, por exemplo, a área occipitotemporal dos processos visuoespaciais e formas de escrita. Então, é aquela área que está aqui mais atrás do nosso cérebro, responsável pelo reconhecimento visuoespacial das letras, as diferentes formas de escrita, entre outras.
Tem a área de Wernecke que está relacionada a compreensão dos processos fonológicos. Então todas essas áreas trabalhando em conjunto precisam ser ativadas no sistema de leitura e eu digo, também, no de escrita. É necessário entender se o método que você escolheu para trabalhar está ativando essas áreas.
Segundo muitos neurocientistas que vêm desenvolvendo pesquisa no campo da aprendizagem da alfabetização, eles destacam algumas metodologias que trabalham de forma global, ou seja, uma aprendizagem mais visual do que auditiva.
Então, quando se estimula muito a parte visual, se estimula pouco a memória de longo prazo e outras áreas, como por exemplo, aquelas que estão relacionadas aos processos fonológicos de compreensão. Logo, precisamos nos atentar se a metodologia que estamos usando está recrutando áreas responsáveis pelo processo.
O neurocientista francês Stanislas Dehaene, que estudou recentemente o cérebro e todo esse processo, escreveu o livro “Os neurônios da leitura”, e é importante que você possa ter acesso à essas informações para que possa compreender que o nosso cérebro aprendeu a ler a partir da reciclagem de alguns neurônios, porque ele não foi projetado para leitura e escrita, mas, devido à neuroplasticidade e todo estímulo dado a ele, ao longo do tempo, ele acabou recrutando áreas cerebrais e neurônios especificamente para aprendizagem de todo esse processo.
Por isso que a leitura e a escrita não são uma coisa muito simples. Precisamos compreender, de fato, o que ativar e o que fazer, e a leitura despertou no nosso cérebro a capacidade de perceber diferenças sutis nessas informações que são ensinadas, na leitura e na escrita.
Outra coisa que o nosso cérebro também aprendeu foi mobilizar áreas para aprendizagem em diferentes idiomas. Então, você ativa essas áreas, independente da nacionalidade ou do idioma que está aprendendo, e isso é muito interessante. Então, independente de onde estejamos e a aprendizagem de leitura e escrita diante da cultura que estamos sendo submetidas, as áreas cerebrais ativadas são as mesmas.
Outra coisa que precisamos saber sobre aprendizagem de leitura e escrita é que, nas pesquisas do Stanislau Dahaene, a alfabetização é muito mais rápida quando se ensina que as letras representam diferentes sons. Nesse primeiro item que destacamos aqui, começamos a perceber que não adianta ensinar o nome de letra.
Se eu ensino que o nome da letra é A, B, C, D, isso não me garante que vou estar ensinando o que elas significam dentro de uma palavra. O que a criança precisa compreender? Que as letras significam sons. Quando eu faço o processo de decodificação e codificação, estou entendendo que, apesar dessa letra ter um nome, ela tem um som atrelado.
Precisamos entender a combinação dessas letras e desses grafemas e o que elas representam. Precisamos, também, compreender que a leitura e a escrita acontecem numa direção. Na nossa cultura, ela acontece da esquerda para a direita, é assim que nós lemos, e precisamos ensinar isso também.
Se faz necessário entender que a mesma forma gráfica pode representar diferentes sons, dependendo da posição que ela esteja nesse processo. Daqui a pouquinho vamos falar mais sobre essa flexibilidade. Precisamos entender, também, essa correspondência letra e som e a fonética de cada uma delas; assim, o nosso cérebro aprende melhor.
Precisamos desenvolver a consciência fonológica, mas, o que é consciência fonológica? É percepção dos componentes sonoros da fala e seus níveis, seja ele no nível de palavra, de sílaba, de fonema, entre outros, e devemos estimular isso desde muito cedo nas crianças. Quando a criança entende, está aberta a porta da aprendizagem.
Quanto mais próxima for a correspondência letra/som, mais fácil o indivíduo automatiza esse processo. Quando ele entende o som correspondente a letra, o processo fica mais claro e rápido para o aluno.
ALFABETIZAÇÃO PROPRIAMENTE DITA: COMO FAZER ISSO? COMO ISSO ACONTECE?
Primeiro, nós precisamos entender que a alfabetização é um sistema notacional de escrita alfabética e ortográfica que tem regras e que essas regras influenciam os significados das palavras. Por exemplo, as palavras “dívida e divida”; palavras visualmente escritas iguais, porém, com significados completamente diferente.
Por que isso acontece? O que fez a diferença? Exatamente. O acento. O acento fez a diferença no significado. Tipos de letra, quantidade de letra, posição da letra, grafia da letra, acentuação e a ortografia, ela faz que haja flexibilidade nesse processo.
Então, um acento ou uma vírgula pode afetar todo um significado. Precisamos entender que o sistema de escrita alfabética, é um sistema de regras e que essas regras são importantes para se fazer entender.
Podemos dar o exemplo das placas de trânsito. Ela comunica algo e independente do lugar onde ela estiver, ela vai estar falando sempre a mesma coisa. É o que diferencia do sistema notacional.
E esse sistema de escrita, como é aprendido? Ele é aprendido pela construção de hipóteses. O sistema de escrita alfabética passa por um processo de hipótese. O aluno vai formulando hipóteses a partir da estimulação que recebe, e essa formulação de hipótese, passam por esse processo e o professor precisa entender como tudo isso acontece. Uma boa dica de pesquisa: a profissional Emilia Ferreiro.
Bem, e você precisa entender, também, que necessita de um ensino metodológico direto. Sem isto, você não vai conseguir um avanço satisfatório nesse processo de ensino da leitura e da escrita, porque a criança não vai compreender tão facilmente como se dá o sistema de escrita alfabética e vai partir para a memorização, apenas.
Ainda sobre a alfabetização, é necessário compreender que esse sistema de escrita, não se dá naturalmente; ele não é inato como a fala. Não é deixar a criança sozinha para que o tempo passe e ela vai ter contato com o letramento; não, não é assim.
O sistema de escrita alfabética deve ser compreendido como algo que precisa ser estimulado, nós precisamos entender o tempo para que esse estímulo seja realizado e precisamos saber como deve ser estimulado; já a fala não. A fala já acontece naturalmente. A fala é silábica e a escrita é alfabética.
Precisamos entender que uma coisa é diferente da outra para entender esse processo. Eu falo silabando, mas eu escrevo letra por letra, e isso, no processo de aprendizagem das crianças, fica muito confuso. Eles escrevem representando uma letra para cada sílaba que ele fala, e o professor diz que falta letra e ele não consegue compreender que letras que faltam e como ele vai fazer isso.
Então, é necessário que o professor domine todo esse processo de formulação de hipóteses para que ele possa instrumentalizar o seu aluno e estimular ele da melhor forma. Compreendendo isso, ele vai fazer com que a estimulação da consciência fonológica, da correspondência letra e som seja melhor compreendida pelo seu aluno, e dessa forma, a aprendizagem vai se tornando mais significativa e ele vai avançando em suas hipóteses.
Então para concluir esse slide, nós temos ali a consciência fonológica e fonêmica como estimulações, como habilidades essenciais para que essa alfabetização aconteça. E aí nós temos um exemplo da fala que é silábica, a criança fala “festa” e escreve festa das diferentes formas que você possa imaginar.
Ela não consegue relacionar que aquele sonzinho do S que têm ali naquele meio, está sozinho, e é um som que saiu e faz correspondência a uma letra. Quando a criança não compreende isso, ela vai formular com base na metodologia de memorização por exemplo, de consoante e vogal, e aí ele vai colocar sempre uma vogal ali naquele meio na tentativa de fazer com que essa palavra esteja completa, já que ele ouviu do professor que falta letra. Enfim, o que é importante compreender no processo de alfabetização é que a escrita está relacionada aos sons da fala.
O QUE NECESSITA SER ESTIMULADA NESSE SISTEMA DE ESCRITA NOS PROCESSOS MENTAIS?
No desenvolvimento da consciência fonológica, é necessário que a criança faça a percepção sonora dos componentes sonoros da fala e dos fonemas que também estão dentro da consciência fonológica. Então, a criança precisa desenvolver consciência de palavra, consciência de silaba e consciência do fonema auditivamente falando para que ela possa depois corresponder isso na sua leitura e na sua escrita.
É necessário se fazer compreender que, para cada fonema, existe no mínimo, uma letra para representá-lo. Precisamos aprender que existe essa relação e as crianças precisam compreender também, ou seja, associar, conhecer as letras e ligá-las ao som.
COMO ISSO PODE ACONTECER DE FORMA QUE O CÉREBRO APRENDA MELHOR? DE FORMA MULTISSENSORIAL.
É necessário que a criança aprenda a letra, e o som que ela faz, e que tenha uma correspondência multissensorial, articulatória. A consciência fonoarticulatória é importantíssima para concretização desse som que é abstrato.
A Renata Jardine desenvolveu suas pesquisas falando sobre a consciência fonoarticulatória, recomendo que pesquise sobre isso. É necessário atrelar a metodologia multissensorial para a aprendizagem desse som. Somente o som é uni sensorial, e a criança, muitas vezes, pode ter falha nesse processamento do som e é necessário para que ela aprenda de uma forma mais significativa que haja concretização desse som através da técnica fonoarticulatória na metodologia multissensorial: som, letra e boquinha.
MAS PARA CHEGAR ATÉ AQUI, COMO A GENTE DEVE FAZER?
Como eu disse, para chegar até a alfabetização, deve-se entender a alfabetização como um processo que é necessária uma estimulação antecedente. Aí podemos verificar as áreas do cérebro que são responsáveis por esse processo.
Na educação infantil, precisamos estimular todas as habilidades que fortalecem a alfabetização, e estão no lado direito do cérebro; justamente a área onde precisa ser muito estimulada na educação infantil. Hoje, o que estamos vendo é uma área pouco estimulada e trazendo prejuízo enorme nesse processo.
Então, do lado direito do cérebro, nós temos a área corporal, sinestésica, criativa, gestual e toda a parte não verbal, e precisa ser estimulada até os 6 anos de idade. Claro que depois disso também, mas até os 6 anos de idade principalmente, porque é uma área que está mais ativada neurologicamente.
Lá, quando a criança já está indo para o processo de alfabetização, devido as mudanças neuronais do lado esquerdo do cérebro, ele já está mais apto para receber essa estimulação mais direta da leitura e da escrita.
Então, um trabalho antecedente na educação infantil é primordial para que aconteça toda uma alfabetização de forma segura. Então, eu concluo o nosso bate papo dizendo que é necessário estimular antecipadamente. É necessário entender todo o processo fonológico, fonoarticulatório que envolvem a leitura e a escrita para uma estimulação mais adequada.
Diante de toda essa conversa, nós podemos concluir que é necessário que se compreenda qual o método que você escolheu para estimular o processo de alfabetização e saiba que esse processo precisa passar pela estimulação de diferentes áreas cerebrais e que não fica só no campo da memorização ou da visualização. Ou seja, precisa passar da parte fonológica, da correspondência letra e som, e de uma estimulação antecedente, onde possa ser estimulado todo um sistema funcional desse cérebro.
Entenda que existe uma integração de todas essas partes; ou seja, não é simples iniciar o processo de alfabetização, mas que ele precisa ser iniciado desde a educação infantil e você precisa escolher um direcionamento metodológico para que seja significativo em todo esse processo. Então, eu deixo aqui uma mensagem dizendo que “Mais importante do que saber é aprender como usar esse saber”, eu sei que nós falamos muito rapidamente de todo esse assunto, então, pesquise sobre isso, busque capacitações nesse sentido e, dessa forma, você vai trazer uma maior estruturação e melhor estimulação nessa aprendizagem para os seus alunos.
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