Quando estamos diante de um novo conhecimento (desafio), nos
sentimos “desequilibrados” intelectualmente. Buscamos, a
partir das nossas
experiências anteriores, desenvolver ações destinadas a
atribuir significaçõesaos elementos do ambiente com os quais interagimos
(assimilação). Quando
esses conhecimentos não são suficientes para dar conta do
desafio (estado de
equilíbrio), precisamos ampliar ou modificar nossas ações
(físicas ou mentais)
para atingirmos o novo conhecimento (acomodação).
Quando jogamos uma bola de soprar para uma criança
(desafio), ela fará
uso do esquema pegar (postura de braço, mãos e dedos) que já
é conhecido por ela, atribuindo ao balão o significado de ―objeto que se
pega (assimilação). Porém, o esquema pegar precisará ser modificado para se ajustar às características do objeto: a abertura dos braços,
dos dedos e a força
utilizada para segurá-lo é diferente da que se utiliza para
pegar uma bola de
plástico, de papel ou de couro (acomodação). Posteriormente, ao ser
desafiada a pegar uma bola de gude, mais uma vez os seus
esquemas terão
que se modificar (acomodação) ao novo objeto.
Pense em um aluno que já consegue fazer uma adição e que na
escola
estamos apresentando para ele a multiplicação
(desafio/desequilíbrio). Com
certeza saber somar parcelas iguais (assimilação) é um esquema mental
necessário para a multiplicação. Porém não é o suficiente.
Ele precisará
modificar esse esquema para compreender o conceito de
multiplicação
(acomodação) e, consequentemente, distinguir o momento de
utilizá-la.
Para Piaget, o desenvolvimento é um processo contínuo,
caracterizado
por quatro fases diversas (etapas ou períodos). Em cada
etapa, a criança
constrói certas estruturas cognitivas, que se constituem em
uma forma
específica de pensar e atuar no mundo. Ele as denominou
de sensóriomotora (do nascimento aos dois anos de idade,
aproximadamente), pré-
operatória (de dois até aproximadamente sete anos), operatório-concreta
(dos sete anos até os doze, aproximadamente) e operatório-formal (a partir
dos treze anos).
Para Cláudia Davis, o modelo piagetiiano, que pretende ser
universal, é
fortemente marcado pela maturação, pois é ela a responsável
pelo fato das
crianças sempre apresentarem determinadas características
psicológicas em uma mesma faixa etária. Essas características não se
confundiriam com a
aprendizagem.
Um outro conceito muito importante na teoria piagetiana é o
conceito de
autonomia, que é a capacidade de agir por si mesmo, levando
em
consideração regras sociais e fatos relevantes para decidir
e agir da melhor
forma para todos. Esse conceito se opõe ao de heteronomia que significa
dependência na forma de agir e pensar. Sendo assim, a grande
finalidade da
escola seria contribuir para a formação de sujeitos
autônomos.
A
CONCEPÇÃO HISTÓRICO-CULTURAL
Para Vygotsky, desenvolvimento e aprendizagem são
processos que estão interrelacionados, apesar de não se
confundirem. A aprendizagem precede o desenvolvimento. Na
medida em que o sujeito aprende, ele se desenvolve e esse
desenvolvimento leva a novas aprendizagens.
Na teoria histórico-cultural, a educação escolar assume
papel relevante, pois apesar de afirmar que o aprendizado do
sujeito começa muito antes de se frequentar a escola,Vygostsky diz: “Aprendizado não é desenvolvimento;
entretanto, o aprendizado
adequadamente organizado resulta em desenvolvimento mental e
põe em movimento vários processos de desenvolvimento que, de
outra forma, seriam impossíveis de acontecer.
Logo, “o aprendizado
escolar produz algo fundamentalmente novo
no desenvolvimento da criança”.
O conceito de zona de
desenvolvimento proximal é uma das grandes
contribuições de Vygotsky para a prática educativa. Para ele
há, pelo menos, dois níveis de desenvolvimento: o real e o potencial (ou
proximal).
No nível real, as funções mentais da criança já se
estabeleceram como
resultado de certos ciclos completados, ou seja, são
conhecimentos que já
estão consolidados. Ela não precisa de ajuda para resolver
uma determinada
situação. Já o nível potencial refere-se àquilo que a
criança consegue fazer,
porém, com a ajuda de pessoas mais experientes (adultos ou
crianças).
Assim sendo, para Vygotsky (1991), zona de desenvolvimento
proximal
é: “A distância entre o nível de desenvolvimento real, que
se costuma determinar através da
solução independente de problemas e o nível de
desenvolvimento potencial, determinado
através da solução de problemas sob a orientação de um
adulto ou em colaboração com
companheiros mais capazes.”
Aquilo que hoje é desenvolvimento potencial será amanhã
desenvolvimento real. O desenvolvimento é um processo
dinâmico e contínuo.
Vygostky ressalta a importância do outro no processo de
aprendizagem.
Somos capazes de aprender porque estamos o tempo todo sendo
mediados
pelo outro (através da pessoa física, do livro, do filme, da
TV etc.) que nos apresenta o mundo‖, ou seja,
somos inseridos na cultura, levados à apropriação dos conhecimentos que estão
disponíveis na sociedade.
A linguagem tem papel fundamental nesse processo, pois é através dela que interagimos com as outras pessoas e internalizamos os novos conceitos.
Em linhas gerais, são essas as teorias cognitivas que
embasam o trabalho pedagógico.
Adotar esta ou aquela será decisivo para planejar as ações
educativas e
escolher as práticas mais coerentes com o que se pensa e
o que se deseja
para a sociedade.
Internalizar, de forma simplificada, significa apropriar-se do que é social de forma
particular.
Ao contrário do senso comum que, em geral, não admite
contradição, ―a
grande força da teoria vem daquilo que é, também, a sua
deficiência: a sua
parcialidade, no sentido de que não resolve todos os
problemas de uma vez,
mas aponta um pedaço da verdade, sabendo que é um pedaço e
compreendendo que está sujeita a revisões, estimulando,
assim, a dúvida e o debate‖. (Gandim).
“Não existe nada mais prático do que uma boa teoria”.
(Kurt Lewin)