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sábado, 5 de novembro de 2011

Redação


Curso de redação
De ABREU, Antônio Suárez
Por Netinha.
Parte II

Coesão textual e concordância transfrástica

         Uma preocupação que deve ser levada em conta, ao construir a coesão textual, é promover a concordância entre o termo da sentença A e o termo que o retoma, na sentença B. Sequências como:

         Os jogadores chegaram há dois dias. Ele deverá treinar ainda amanhã;
         Os jogadores chegaram há dois dias. Esse atleta deverá treinar ainda amanhã.
         Os jogadores chegaram há dois dias. Deverá treinar ainda amanhã.
        
         São malformadas justamente por falta desse tipo de concordância. Na terceira sequência, em que a coesão textual se faz por elipse, o verbo deveria concordar com os jogadores.
         A falta da concordância transfrástica ocupa um lugar de destaque, produzindo sequências malformadas como:

         As reservas de bauxita foram encontradas em levantamento aéreo e possui alto teor de pureza, avaliada em 25 milhões de toneladas.
         O povo brasileiro teria melhores condições de vida, teriam uma vida mias digna.

         Há casos, entretanto, em que o elemento que promove a coesão, na sentença B, pode retomar apenas parte da referência contida no termo da sentença A. É o que acontece, por exemplo, em sequência como:

         Comprei dois velocípedes para as crianças. O do Roberto é o mais bonito.
         Organizar duas viagensa do presidente francês ao Brasil, no começo do ano, e depois a do presidente brasileiro à França – são duas primeiras tarefas que esperam o novo embaixador francês no Brasil.

         Outro tipo de falha, muito comum em redações escolares, relativa à falta de concordância transfrástica, é representada por sequência como:

         Muita gente pensa que o Brasil ainda é um país subdesenvolvido, mas eles estão completamente enganados.

         O interessante, nesse caso, é que, se apenas providenciarmos a correta concordân- cia transfrástica, teremos ainda uma sequência malformada?

         Muita gente pensa que o Brasil é um país subdesenvolvido, mas ela está completamente enganada.

         Isso se dá porque a expressão muita gente é indefinida e os pronomes pessoais são definidos. A solução normalmente encontrada é aplicar a coesão por elipse, uma vez que, nesse caso, se subentende que o que ficou apagado é a mesma expressão indefinida?

         Muita gente pensa que o Brasil ainda é um país subdesenvolvido, mas está completamente enganada.


         Outra maneira de fazer a coesão, nesta situação, é repetir o pronome indefinido ou a expressão indefinida (ou parte dela), modificando esses termos por um demonstrativo, como em:

         Muita gente pensa que o Brasil ainda é um país subdesenvolvido, mas essa gente está completamente enganada
.
         Compare as frases a seguir:

         Alguém telefonou à sua procura, mas esse alguém não deixou nome.
         Alguém telefonou à sua procura, mas essa pessoa não deixou nome.

         A utilização da coesão lexical também pode produzir textos aceitáveis. A presença do indefinido ou da expressão indefinida na segunda sentença garante a gramaticalidade da sequência, juntamente com o pronome demonstrativo, que garante a coesão.
         Ainda com relação à concordância transfrástica, um comportamento comum de pessoas que não têm prática em redigir é fazer uso abusivo do pronome qual, no lugar de que, sem sequência como:

         Os candidatos de São Paulo os quais não possuem comprovante de inscrição deverão trazer a cédula de identidade.
         O computador emitirá uma etiqueta de preço a qual deverá ser colada no produto.

         O pronome qual comumente aparece no lugar de que pelo fato de que qual traz consigo o número e o gênero do termo que está substituindo, que torna mais fácil a concordância do verbo na oração subordinada.

         Os candidatos de São Paulo que não possui comprovante de inscrição deverão trazer a cédula de identidade.

         É preferível, entretanto, que frase com as anteriores, sejam evitadas, uma vez que não se enquadram nos padrões gerais da língua portuguesa, e sejam substituídas por versões como:

         Os candidatos de São Paulo que não possuem comprovante de inscrição deverão trazer a cédula de identidade.
         O computador emitirá uma etiqueta de preço que deverá ser colada no produto. (respeitada, é claro, a concordância correta do verbo).

         Uma observação final a esse respeito é que, algumas vezes, a repetição pura e simples de um termo de uma sentença A em uma sentença B, sem a utilização dos mecanismos de coesão, é o resultado de um ato ilocucional que a retórica chama de anáfora:
         A justiça divina julgará os culpados desse crime. A justiça divina os encontrará, um a um, onde quer que se escondam. A justiça divina os castigará exemplarmente. (p.21 – 25)











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