Consultora
em tecnologia e educação aborda as tecnologias educacionais como um desafio
para as novas formas de ensinar e aprender
Em
um mundo cada vez mais digital, com uma enxurrada de informações enviadas e
recebidas a cada instante, através de meios tecnológicos diversos, é preciso
saber aproveitar o aprendizado. Em sala de aula, o desafio dos docentes é
aprender a usufruir as chamadas TDICs – Tecnologias Digitais de Informação e de
Comunicação – incorporando-as nas práticas educativas. Mas como unir tecnologia
e educação para dar uma aula? Confira a nossa entrevista com Maria Aparecida
José, consultora em Tecnologia e Educação. Cidinha, como é conhecida no
ambiente profissional, fala sobre a importância do uso das tecnologias
integradas ao currículo e sobre como a cultura digital pode modificar o
processo da aprendizagem.
TecEduc
– Como se configura a cultura digital frente às inúmeras possibilidades
propiciadas pelos meios de comunicação? Existe uma nova forma de busca pelo
conhecimento?
Cidinha
– A cultura digital se constitui no uso dos diferentes dispositivos
digitais e das linguagens que se constroem em torno do que denominamos mundo
digital. A comunicação se traduz por diferentes formatos digitais – vídeos,
áudios, animações, imagens – que convergem para múltiplos contextos, sejam os
das redes sociais, dos ambientes de aprendizagem ou dos aplicativos que
conectam pessoas em tempo real, por exemplo. Então, de fato, existe uma nova
forma de busca pelo conhecimento, que está mais acessível, mais distribuído e
digitalmente mais armazenado em comparação com as antigas formas, como os
livros, enciclopédias ou bibliotecas. Hoje, lidamos mais com recursos abertos,
com licenças livres, tanto de aplicativos quanto de conteúdos. Somos mais
propensos a sermos produtores na rede do que meros usuários. No entanto, apesar
de tudo estar mais próximo a nós, a um “clique” do mouse, quais fontes são
fidedignas em relação ao universo que se abre diante de nós e como desenvolver
a educação nessa perspectiva é nossa problematização atual.
TecEduc
– Qual é o grau de inserção, de apropriação e de construção da prática
pedagógica em meio a essa cultura? Como podemos visualizar o cenário pedagógico
a partir das tecnologias nas escolas?
Cidinha
– Se já somos os construtores da cultura digital a cada momento em que nos
utilizamos das tecnologias para produzir a vida social, por que, em sala de
aula, a incorporação de contextos digitais de aprendizagem ainda não
potencializa novas práticas pedagógicas? Sabe-se que a presença das interfaces
digitais na mediação das aprendizagens não necessariamente altera o cenário
pedagógico escolar. Mas, se o currículo dialogar com a cultura digital,
reconstruindo, a partir disso, a cultura de aprendizagem até então constituída
na cultura escolar, estaremos, de fato, caminhando em direção a mudanças
significativas nos modos de ensinar e de aprender. Esse é o sentido da inserção
e da apropriação das tecnologias, como possibilidade para outras práticas em
educação.
TecEduc
– Levando em conta a disseminação dos conteúdos digitais, a ampliação da
mobilidade e a popularização das redes sociais, como os docentes podem associar
o ensino a essas potencialidades?
Cidinha
– Já é inquestionável que as tecnologias devem ser adotadas e utilizadas
em integração com o currículo. O que fora da escola produz cultura digital,
como as redes sociais, que colocam pessoas em conexão, produzindo conteúdos, é
um dos exemplos que nos ajuda a refletir. Vamos observar que a disseminação e a
ampliação da mobilidade e da conectividade são a base para se falar em cultura
digital. A escola “off-line” no sentido da articulação com o mundo digital
permanecerá assim, se não for compreendida como igualmente produtora de
conhecimento na sociedade contemporânea. Não há mais espaço para conteúdos que
esvaziem o protagonismo de professores e alunos no uso das tecnologias em sala
de aula.
TecEduc
– Neste contexto digital, como é a receptividade dos alunos às novas formas de
aprendizado? E como as salas de aula podem ser enriquecidas com a evolução da
tecnologia na educação?
Cidinha
– Estamos em convivência com uma geração de múltiplas interfaces digitais.
Por diferentes caminhos elas se comunicam, produzem, criam, recriam, consolidam
pertencimentos aqui ou ali, nos inúmeros espaços digitais que têm à disposição.
Por outro lado, ainda há um descompasso entre o mundo da escola e o mundo que
para os adolescentes e jovens é de estrutura digital. Uma mensagem pode ser trocada
instantaneamente, mas isso é entretenimento. Ou é currículo escolar? Quando uma
mensagem é da ordem do currículo, da aprendizagem e quando se caracteriza como
algo fora do que costumamos legitimar? Quem dará o tom da diferença nas
aprendizagens diante de contextos semelhantes? Assim, falar na integração do
currículo às tecnologias, na verdade, é buscar equacionar essas novas formas
que, embora sob um mesmo dispositivo digital, se revelam totalmente separadas
em relação à cultura de ensinar e de aprender.
TecEduc
– Como é possível formar um aluno para produzir em rede, frente a uma sociedade
que, muitas vezes, relativiza a autoria e estimula a apropriação indébita e
indiscriminada de conteúdos disponíveis na Internet?
Cidinha – Com
a ampliação de uso das tecnologias em nossas vidas também se ampliam as
possibilidades de acesso ao conhecimento, por diferentes fontes, sequer
imaginadas antes dos conhecidos “buscadores”. O aluno em sua relação com as
interfaces digitais não só é um buscador, ou como se diz, um navegador. Nos
tempos de conectividade e mobilidade, do “tudo ao mesmo tempo agora”, eles se
tornam protagonistas que alimentam e são alimentados com informações através da
rede. Publicam e publicizam seus conteúdos. E nos cabe, por outro lado, ao estimular
esse protagonismo, formar para a ética do compartilhamento e da autoria. Nesse
sentido, nós professores, ao integrarmos as tecnologias à sala de aula, devemos
considerar que, na cultura digital, nossos alunos podem ser buscadores,
navegadores, autores e intérpretes e isso não depende das tecnologias e sim do
processo educativo que com elas estabelecemos.
TecEduc
– Você considera que os docentes já estão atentos à importância da cultura
digital no universo pedagógico? Como os professores devem encarar o desafio de
associar a cultura digital ao currículo educacional?
Cidinha – As
reflexões em torno do uso das tecnologias na educação já ultrapassaram a mera
discussão de sua importância, avançando no sentido de sua intencionalidade
pedagógica. No entanto, não são os artefatos da cultura digital que estão em
pauta, pois surge um novo dispositivo a cada obsoletismo funcional de outro e
isso se dá de forma muito dinâmica e acelerada. A questão a considerar é
relacionada ao currículo, ao desenvolvimento de práticas pedagógicas mediadas
por tecnologias. O ensino da geografia, por exemplo, pode ser o mesmo diante
das novas possibilidades de se ver o espaço, seja por GPS ou por mapas
interativos? Certamente as tecnologias reestruturam o modo como vivemos e isso não
é privilégio da vida social em si, é fundamentalmente parte do processo
educativo que integra a vida como um todo.
Fonte:
http://www.positivoteceduc.com.br/palavra-do-especialista/importancia-da-cultura-digital-na-aprendizagem/
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