Auguste Comte
Auguste Comte: o fundador da sociologia ou física
social
TAGS: Auguste Comte, Sociologia
Ilustração:
André Toma
A maioria
dos seres humanos, por ser dominada pela afetividade, poderia ter sua
existência moldada conforme as exigências da doutrina social do “progresso
dentro da ordem”
Lelita
Oliveira Benoit
Seduzido
pela personalidade do nobre decadente Henri de Saint-Simon (1760-1825), Auguste
Comte aceitou ser, a partir de 1817, seu secretário particular por uma quantia
mensal de 300 francos. Contudo, logo após o início da colaboração, começou a se
desenhar o desentendimento entre o mestre e o discípulo. O jovem secretário
tinha como tarefa transformar em textos o pensamento do mestre. No entanto,
começou a desenvolver ideias próprias, entrecruzando-as com aquelas que deveria
reproduzir. É dessa época a primeira e mais sintética fórmula positivista:
“Tudo é relativo, eis o único princípio absoluto”.
As raízes
contraditórias do positivismo
Foi também nesses anos de juventude que Comte escreveu um texto, até hoje pouco conhecido, intitulado A Indústria (1817). Não era um texto qualquer. O jovem escritor Comte, em estilo límpido, desenhou o projeto esperado pelo mestre Saint-Simon. Acreditava que somente aprofundadas reflexões políticas, seguidas da elaboração de um plano de “reorganização social”, poderiam erradicar a anarquia que, tendo começado em 1789, com a Revolução Francesa, permanecera até o início do século 19. A Indústria deveria se tornar a primeira pedra do edifício de uma nova e grande Enciclopédia destinada a guiar a reorganização social futura em bases não anarquistas. Em A Indústria, encontram-se reflexões que anunciam a doutrina socialista posterior (como o projeto do planejamento da economia), entrecruzadas a conceitos já propriamente do relativismo positivista. Esse projeto foi abandonado por Comte logo em 1819, mas iniciava-se ali a autêntica história da filosofia positivista.
Foi também nesses anos de juventude que Comte escreveu um texto, até hoje pouco conhecido, intitulado A Indústria (1817). Não era um texto qualquer. O jovem escritor Comte, em estilo límpido, desenhou o projeto esperado pelo mestre Saint-Simon. Acreditava que somente aprofundadas reflexões políticas, seguidas da elaboração de um plano de “reorganização social”, poderiam erradicar a anarquia que, tendo começado em 1789, com a Revolução Francesa, permanecera até o início do século 19. A Indústria deveria se tornar a primeira pedra do edifício de uma nova e grande Enciclopédia destinada a guiar a reorganização social futura em bases não anarquistas. Em A Indústria, encontram-se reflexões que anunciam a doutrina socialista posterior (como o projeto do planejamento da economia), entrecruzadas a conceitos já propriamente do relativismo positivista. Esse projeto foi abandonado por Comte logo em 1819, mas iniciava-se ali a autêntica história da filosofia positivista.
Ainda
naqueles anos de juventude, Comte escreveu outro ensaio, bem mais célebre, no
qual são desenvolvidos princípios positivistas. Intitulava–se Plano dos
Trabalhos Científicos Necessários para Reorganizar a Sociedade (1822) ou,
simplesmente, Opúsculo Fundamental. Desenha-se, nesse ensaio, um vasto
plano para reorganizar a sociedade francesa mergulhada na crise e na anarquia
posteriores à Revolução Francesa. Após aprofundadas reflexões sobre a natureza espiritual
da crise europeia, Comte procura se fazer escutar pelos cientistas que,
conforme pensava, constituíam a única autoridade respeitada na Europa decadente,
sendo o único poder capaz de dirigir a reorganização social, para convencê-los
a tomar em mãos o poder social ou, nas palavras de Comte, ensinar-lhes “a
tratar a política de maneira positiva”.
Elabora
então Comte, pela primeira vez, o mais célebre de todos os seus conceitos, a
teoria ou lei dos três estados. Segundo o positivismo, o espírito humano
necessariamente se desenvolveu no decorrer de três fases ou estados: o
teológico, o metafísico e o positivo. A expressão “o espírito humano”
significa, bem restritamente, “conhecimento científico”. Assim sendo, ao se
referir aos três estados do espírito humano, Comte nos remete, acima de tudo, a
certas fases da história das ciências. A lei dos três estados, assim concebida,
seria um conceito filosófico “compreensível para os cientistas”. De forma
sintética, Comte expõe-lhes a história do espírito humano, como se segue: “Pela
própria natureza do espírito humano, cada ramo de nossos conhecimentos está
necessariamente obrigado, em sua marcha, a passar sucessivamente por três
estados teóricos diferentes; o estado teológico ou fictício; o estado
metafísico ou abstrato; enfim, o estado científico ou positivo”.
O estado
teológico permaneceu enquanto a humanidade, por meio de seus sábios, fazia
poucas observações realmente positivas, ou seja, fundadas em observações
efetivas dos fenômenos naturais. Como então os fatos conhecidos eram poucos,
somente era possível ligá-los por meio de “fatos inventados”. Desse modo,
naquele estágio inicial das ciências, para explicar as leis que regem os
fenômenos naturais, os sábios recorreriam a “agentes sobrenaturais”. Mas, de
qualquer modo, ao menos provisoriamente, as explicações teológicas ajudaram a
inteligência humana a sair do estado de torpor e debilidade, próprio da ignorância
primitiva, e se aventurar em novas observações, em busca de novos
conhecimentos.
O segundo
momento ou estado do desenvolvimento das ciências é chamado pelo positivismo de
“metafísico” e teria um “caráter bastardo”. Aliás, a palavra “bastardo” parece
bastante adequada para qualificar o estado metafísico: diz-se que é bastardo
aquilo que é híbrido, que resulta, como nos conhecimentos metafísicos, de
enunciações que entrecruzam ideias teológicas com ideias positivistas. Na
história do espírito humano, o estado metafísico teria ocorrido quando a
ciência fazia tentativas de ligar os fatos por meio de ideias que não são
completamente sobrenaturais, mas que não são inteiramente naturais e que são
causados por “entidades ou abstrações personificadas”. Por exemplo, para
explicar os fenômenos observados no mundo físico, orgânico e bruto, os sábios
metafísicos recorrem à natureza, ou seja, a uma espécie de entidade metafísica
ou abstração personificada, relativa ao conjunto dos fatos físicos. Na verdade,
escreve Comte, o espírito humano, quando no estágio metafísico, se bem que
procurando limitar a absurda pretensão de tudo conhecer, restringindo-se aos
fatos observáveis, ainda assim tem injustificáveis ambições de conhecer “pelas
causas absolutas”.
O que
caracterizaria o último estado teórico – o estado positivo – seria que, em sua
vigência, os sábios passam a admitir que há limites intransponíveis para a
capacidade humana de conhecimento. Imbuídos de tal genuíno espírito positivo,
explica-nos Comte, os sábios pretendem, no exercício da ciência, apenas
conhecer o que está dado – os fatos e suas leis positivas –, sem se preocupar
com a explicação pelas causas e os fins últimos. Desse modo, o conhecimento
científico não poderia avançar além de limites claramente estabelecidos, ou
seja, nada se poderia conhecer senão as leis de coor-?denação e sucessão dos
fenômenos naturais, deduzidas dos fenômenos observáveis.
Segundo
Comte, o estado positivo seria o definitivo; tendo-o atingido, o espírito
humano não alcançaria patamar mais elevado. Aliás, a história do
desenvolvimento progressivo das ciências seria ela própria um fato positivo e
observável na história interna de cada ciência. Teria sido com base nessas
observações epistemológicas que o positivismo pôde estabelecer a própria lei
dos três estados.
Portanto,
os estados do espírito humano reduzem-se a modos ou métodos de conhecimento, e
a lei dos três estados da ciência foi pensada por Comte, antes de tudo, como
uma categoria epistemológica, ou seja, relativa à filosofia das ciências. Como
veremos a seguir, é sobre esse fundamento epistemológico que é pensada e
construída a física social ou sociologia, nas páginas da obra mais
importante de Comte, publicada em quatro volumes, o Curso de Filosofia
Positiva (1830-1842).
As raízes
biológicas da doutrina positivista do “progresso dentro da ordem”
Refletindo sobre a filosofia positivista, Herbert Marcuse, em seu livro Razão e Revolução, observa que, do ponto de vista da filosofia ocidental, desde os gregos, a expressão “filosofia positivista” não passa de uma contradição nos termos, pois nela desaparece o conteúdo negativo que sempre foi o cerne da filosofia ocidental. Nesse sentido, física social ou sociologia nada mais são do que a continuidade da filosofia positivista; as três palavras recobrindo um único significado: a afirmação daquilo que é, sem sombras negativas, sem obscuridades. Portanto, podemos dizer que o Curso de Filosofia Positiva concretiza o plano filosófico destinado aos cientistas da Europa, sendo ao mesmo tempo a exposição da física social e da sociologia. Já em sua juventude, Comte tinha lido e discutido o célebre livro Esboço para um Quadro Histórico dos Progressos do Espírito Humano, escrito por seu antecessor e inspirador, o teórico e ativista da época do Iluminismo Marie Jean Antoine Nicolas de Caritat, marquês de Condorcet (1743-1794).
Refletindo sobre a filosofia positivista, Herbert Marcuse, em seu livro Razão e Revolução, observa que, do ponto de vista da filosofia ocidental, desde os gregos, a expressão “filosofia positivista” não passa de uma contradição nos termos, pois nela desaparece o conteúdo negativo que sempre foi o cerne da filosofia ocidental. Nesse sentido, física social ou sociologia nada mais são do que a continuidade da filosofia positivista; as três palavras recobrindo um único significado: a afirmação daquilo que é, sem sombras negativas, sem obscuridades. Portanto, podemos dizer que o Curso de Filosofia Positiva concretiza o plano filosófico destinado aos cientistas da Europa, sendo ao mesmo tempo a exposição da física social e da sociologia. Já em sua juventude, Comte tinha lido e discutido o célebre livro Esboço para um Quadro Histórico dos Progressos do Espírito Humano, escrito por seu antecessor e inspirador, o teórico e ativista da época do Iluminismo Marie Jean Antoine Nicolas de Caritat, marquês de Condorcet (1743-1794).
Com base
nos conceitos condorcetianos, vinha construindo uma das pedras fundamentais do
abrangente campo teórico do positivismo, o conceito de desigualdade. Mas o
olhar comtiano, de qualquer modo, manifestava a gênese do declínio do século
18. Segundo comenta Comte, seria necessário abandonar as teses revolucionárias
de Condorcet sobre o desaparecimento da desigualdade, por meio de novas
revoluções, posteriores à Revolução Francesa. Na verdade, escreve Comte, os
seres humanos são, entre si, naturalmente desiguais e assim deve permanecer a
sociedade por eles formada, em todas as épocas.
Mas esse
“natural”, que determina o caráter de imutabilidade da desigualdade, é muito
mais a manifestação de um dado fisiológico do que uma constatação pura e
simples de uma realidade social. Na verdade, para Comte, a desigualdade tem sua
fonte na natureza fisiológica do homem e assim se torna objeto privilegiado de
uma nova ciência. Até agora, existiu uma “física dos corpos brutos” (ou seja: a
astronomia, a física propriamente dita, e, em certo sentido, a química) e uma
“física dos corpos organizados” (ou seja, a biologia, como história natural,
fisiologia e anatomia). Contudo, no século 19, transpassado por permanente
anarquia política, se colocava uma física social como estudo das leis
imutáveis da sociedade, ou seja, as “leis do progresso dentro da ordem”.
Em outras
palavras, isso quer dizer que, como totalidade orgânico-biológica, a sociedade
deve ser objeto de uma ciência positiva e ser estudada com a mesma objetividade
e neutralidade com que os astrônomos, físicos, químicos e biólogos tratam seus
respectivos objetos. Contudo, somente a partir de 1830, com os quatro volumes
do Curso de Filosofia Positiva (1830-1842), esse vínculo entre a
desigualdade-cérebro se revela nos textos de Comte com peso determinante.
Naqueles
anos de juventude de Comte, viajava pelo Europa um famoso médico e anatomista
austríaco, Franz Joseph Gall (1758-1828), ministrando aqui e ali cursos de
fisiologia e anatomia e chegando a certas conclusões que eram consideradas
contrárias à religião cristã. Em suas aulas, Gall demonstrava que as funções
fisiológicas do cérebro podem ser descritas como sendo a sede das faculdades
intelectuais e morais. A cranologia e sua “teoria das localizações”, que mais
tarde serão chamadas de frenologia por Forster e Spurzheim, foi
inteiramente desenvolvida por Gall. Ironicamente comentou Hegel, na Fenomenologia
do Espírito (1806), que os frenólogos, entre os quais Gall, pensavam que “a
razão é um osso”. Recomenda Hegel que os frenólogos abrissem seus próprios
crânios para verificar a veracidade de tais afirmações! Ironia à parte, Comte
entusiasmou-se com a frenologia, expondo uma versão particular dessa doutrina
no Curso de Filosofia Positiva. A frenologia aparece ali como fundamento
da classificação social ou da ordem social.
Na “Lição
45” do Curso de Filosofia Positiva, Comte expõe a teoria frenológica de
Gall, que considera de valor decisivo para o progresso da biologia. A
frenologia, como nos explica Comte, era uma tentativa de estudar, do ponto de
vista positivo, “a inteligência humana”. De fato, segundo Gall, as faculdades
intelectuais e morais teriam origem orgânica, devendo, por conseguinte, ser
objeto dos estudos fisiológicos.
É fácil
imaginar o escândalo causado então pela frenologia. De acordo com os
ensinamentos de Gall, não existiria, propriamente falando, o “eu”, a
“consciência”, a “alma” ou qualquer outra forma de subjetividade humana. Cada
capacidade intelectual ou sentimento moral seria, segundo Gall, de natureza
puramente fisiológica, constituindo diversos “órgãos cerebrais” contíguos, mas
distintos entre si. A unidade a que chamamos “eu”, “alma”, “consciência” seria,
portanto, uma ilusão ou tão somente fantasmas metafísicos. Na verdade, tais
unidades metafísicas nada têm de misteriosas, sendo explicáveis como sendo o
resultado da participação conjunta, nos nossos atos morais e pensamentos, de
diversos órgãos cerebrais.
Desde a
juventude, nas cartas ao amigo Valat, Comte manifestou grande entusiasmo pela
obra de Gall e acreditou que, com o advento da teoria frenológica, começava se
apagar o último vestígio da metafísica ocidental, de Descartes em diante. Com
as descobertas frenológicas, também o estudo das faculdades intelectuais e
morais do homem teria chegado ao seu estado positivo, escreveria Comte nas
obras de maturidade, ou seja, no Curso de Filosofia Positiva e também no
Prefácio do Sistema de Política Positiva (1851-1854).
Havia,
contudo, divergências entre os frenólogos, a principal delas aquela relativa às
“localizações das faculdades humanas”. O próprio Comte toma partido em uma
dessas polêmicas, sobre a existência de um “órgão do roubo”. O desejo inato de
se apropriar das coisas alheias – escreve Comte – “é uma aberração do
sentimento da propriedade, este sim, verdadeiramente natural ao homem”. De
qualquer modo, Comte acreditava que, no futuro, quando as análises anatômicas
do cérebro fossem mais precisas e sofisticadas, com certeza poderíamos então
definir exatamente a localização fisiológico-cerebral dos sentimentos morais e
das capacidades intelectuais humanas.
De acordo
com os estudos anatômicos de Gall, tinha sido possível saber, sobretudo, que as
faculdades propriamente humanas – as faculdades intelectuais –, se comparadas
ao restante da escala animal, seriam as mais fracas entre todas. Segundo a
frenologia, como nos explica Comte, a porção mais volumosa e animal do cérebro
humano localiza-se na parte posterior do crânio. Ora, exatamente como ocorreria
nos outros animais superiores, aquela parte maior do cérebro seria o simples
prolongamento da coluna vertebral. Com essa descoberta frenológica, seria
possível concluir que, nos seres humanos, como ocorre nos outros animais superiores,
a sede dos sentimentos morais ou afetividade localiza-se na região cerebral
posterior e mais volumosa. Em contrapartida, a parte do cérebro “mais humana”,
que se localizaria na região frontal do crânio, além de menos volumosa, seria
também, segundo a expressão de Comte, a menos enérgica. Segundo Gall e seu
discípulo Comte, naquela região cerebral de menor extensão e de atividade mais
fraca é que estariam localizadas as faculdades intelectuais superiores.
A
estática sociológica ou teoria positiva da ordem
Fundamentando-se em tais questionáveis descobertas da teoria frenológica das localizações cerebrais, Comte desenvolveu conceitos centrais da estática sociológica (ou teoria positiva da ordem). No Curso de Filosofia Positiva, ele afirma que a maioria dos seres humanos jamais desenvolverá a parte frontal – e mais humana – do cérebro e, além disso, sede das faculdades intelectuais superiores. A maioria ficará limitada eternamente aos desenvolvimentos da afetividade e dos sentimentos morais, cujos órgãos estão localizados na região cerebral posterior, mais volumosa e mais animal.
Fundamentando-se em tais questionáveis descobertas da teoria frenológica das localizações cerebrais, Comte desenvolveu conceitos centrais da estática sociológica (ou teoria positiva da ordem). No Curso de Filosofia Positiva, ele afirma que a maioria dos seres humanos jamais desenvolverá a parte frontal – e mais humana – do cérebro e, além disso, sede das faculdades intelectuais superiores. A maioria ficará limitada eternamente aos desenvolvimentos da afetividade e dos sentimentos morais, cujos órgãos estão localizados na região cerebral posterior, mais volumosa e mais animal.
Esse
estado pouco definido entre a animalidade e a humanidade, no qual se
encontraria a quase totalidade dos seres humanos, não era, contudo, segundo
Comte, algo que devesse causar preocupações. Do ponto de vista da harmonia, ou
seja, da ordem social, na verdade, era bom que assim fosse. A maioria dos seres
humanos, por ser dominada pela afetividade, poderia ter sua existência moldada
conforme as exigências da doutrina social do “progresso dentro da ordem”. Por
outro lado, a “elite da humanidade”, constituída pelo número reduzido daqueles
que teriam desenvolvido a parte frontal do cérebro, deveria se dedicar às
atividades intelectuais do raciocínio, vez ou outra fornecendo à sociedade
“novos Sócrates, Homeros ou Arquimedes”.
Não é
estranho, portanto, que, pouco a pouco, entrelaçando verdades positivas desse e
de todo tipo, a sociologia comtiana tenha se transformado em religião da
humanidade, nos anos posteriores a 1848. O começo contraditório abandonado
afinal se relacionou com o fim dogmático, ou como escreveu Alfred de Vigny, o
poeta predileto de Comte: “O que é uma grande vida? É um pensamento da
juventude realizado na idade madura”.
Lelita
Oliveira Benoit é professora de filosofia do
Centro Universitário São Camilo
Centro Universitário São Camilo
Perfil biográfico – Auguste
Comte (1798-1857)
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Realizando uma curiosa mescla de motivos
vindos do Iluminismo e do romantismo, Auguste Comte (Isidore Marie Auguste François
Xavier Comte), estreitamente ligado às correntes do socialismo utópico e às
grandes escolas científicas criadas pela Revolução Francesa, inaugurou uma
das vias filosóficas mais características do século 20: o positivismo.
Trata-se de um movimento orientado para a exaltação dos fatos em oposição às
ideias, das ciências experimentais em oposição às teóricas, e das leis
físicas e biológicas em oposição às construções filosóficas.Nascido em
Montpellier, ingressou aos 16 anos na Escola Politécnica, em Paris, onde se
sustentou dando aulas particulares de matemática. Foi secretário do filósofo
e economista Saint-Simon (Claude-Henri de Rouvroy, conde de Saint-Simon,
1760-1825), mas logo obteve sua independência intelectual.O período mais
fecundo para a atividade filosófica de Auguste Comte situa-se ente 1830 e
1842. Durante esse tempo, publicou os seis volumes de seu Curso de
Filosofia Positiva, que lhe deram fama não somente na França, mas
sobretudo na Inglaterra. Conta-se que ele produziu essa obra sem notas nem
outras leituras. Terminada a reflexão, ele redigia e enviava os trabalhos
para a impressão. Contudo, o Curso de Filosofia Positiva não serviu
para que ele fosse nomeado professor titular na Escola Politécnica, tal como
esperava. Ao contrário, os matemáticos dessa instituição, ofendidos porque a
obra não reconhecia à sua ciência uma posição de privilégio, o fizeram mesmo
perder o cargo de examinador. Comte, assim, viu-se novamente obrigado a viver
de suas aulas particulares. Nos últimos anos, alguns amigos e admiradores
franceses e ingleses – entre eles John Stuart Mill (1806-1873) – aliviaram
suas condições precárias com uma pequena pensão.Vítima de uma crise de
nervos, Comte atravessou um período de prostração física e mental.
Restabelecido, conheceu Clotilde de Vaux em 1845, vivendo então uma profunda
reciprocidade de sentimentos. A relação durou apenas um ano, truncada pelo
falecimento de Clotilde, mas continuou a inspirar Comte, em particular sua
extensa obra, em quatro volumes, Sistema de Política Positiva ou Tratado
de Sociologia para Instituir a Religião da Humanidade (1851-1854). Em
1852, aparecia também seu Catecismo Positivista ou Exposição
Sumária da Religião Universal.
Essas
duas obras representam a última fase do pensamento de Comte. Nelas, ele se
dedica a fundar uma nova religião, mas no sentido de uma religião da
humanidade. Alguns dos que haviam acolhido com entusiasmo sua filosofia
positivista seguiram-no na evolução “religiosa” de seu pensamento. Logo se
levantou o incômodo problema de saber se a “religião da humanidade” deveria
ser tomada como mero produto de uma mente exaltada ou como uma consequência
efetiva das concepções filosóficas sustentadas pelo autor no período
precedente.
Comte faleceu em 5 de setembro de 1857, em Paris. |