(CUNHA, Celso Ferreira da. Gramática da Língua Portuguesa..2ª Ed;RJ: FENAME,1975.p.137-144)
Parte II
Sujeito oculto (determinado)
É aquele que não está materialmente expresso na oração, mas pode ser identificado. A identificação se faz:
a) Pela desinência verbal:
Acordo, sempre, antes do sol.
O sujeito de acordo, indicado pela desinência-o é eu.
b) Pela presença do sujeito em outra oração do mesmo período ou de período contíguo:
Enquanto isso, o mico espiralava tronco abaixo e pulava para o vinhático, e do vinhático para o sete casacas para o jequitibá; desceu na corda quinada do cipó cruz, subiu pelo rastilho de flores solares do uma de gato, galgou as alturas de um Angelim; sumiu nas grimpas; e, dali, vaiou.
O sujeito de espiralava, pulava, desceu, subiu, galgou, sumiu e vaiou é o mico, mencionado na primeira oração, antes de espiralava.
Venâncio não se perturbou. Abriu um guarda chuva para não ser inteiramente desmentido pelas goteiras e continuou, na guarita, a falar entusiasticamente ao sol. À limpidez do azul.
O sujeito de abriu, ser desmentido e continuou a falar é Venâncio, mencionado na primeira oração, antes de perturbou.
Pode ocorrer que o verbo não tenha desinência pessoal e que o sujeito venha sugerido pela desinência de outro verbo. Por exemplo, neste período:
Antes de iniciar este livro, imaginei construí-lo pela divisão do trabalho.
O sujeito de imaginei, indicado pela desinência verbal, é eu, também sujeito de iniciar, verbo de forma infinitiva sem desinência pessoal.
Neste outro passo o verto está em forma finita:
Dessa impassibilidade guardo uma visão que não quisera também antecipar.
Eu, sujeito de guardo, é também o sujeito de quisera antecipar, perífrase em que o auxiliar de forma verbal finita não apresenta desinência pessoal.
Sujeito indeterminado
Algumas vezes o verbo não se refere a uma pessoa determinada, ou por se desconhecer quem executa a ação, ou por não haver interesse no seu conhecimento. Dizemos, então, que o sujeito é indeterminado.
Nestes casos em que o sujeito não vem expresso na oração nem pode ser identificado, põe-se o verbo:
a)ou na 3ª pessoa do plural:
Nunca lhe deram nada.
Mandaram chamar Isabela.
b) ou na 3ª pessoa do singular, com o pronome se:
Falava-se baixo, num burburinho, num zunzum.
Precisa-se de operários.
Os dois processos de indeterminação podem concorrer no mesmo período:
– Mataram uma moça! – comentava-se dentro dos bares.
Oração sem sujeito
Não deve ser confundido o sujeito indeterminado, que existe, mas não se pode ou não se deseja identificar, com a inexistência do sujeito.
Em orações como as seguintes:
Chove. Amanhece. Faz calor.
Interessa-nos o processo verbal em si, pois não o atribuímos a nenhum ser. Diz-se, então, que o verbo é impessoal: e o sujeito, inexistente.
Eis os principais casos de inexistência do sujeito:
a) Com verbos ou expressões que denotam fenômenos da natureza:
Chovia o dia inteiro, a noite inteira.
No Nordeste faz calor também
b) Com verbo haver na acepção de existir.
Há poemas perfeitos, não há poetas perfeitos.
Há dores secas, como há cóleras mudas.
c) Com os verbos fazer, haver e ir, quando indicam tempo decorrido:
Aí vai esse poema escrito faz um ano.
Mas há muitos anos que o Paraíba não repetia a façanha.
Levava a preocupação absorvente de encontrar cartas de casa porque vai para dois meses que não as recebo
d) Com o verbo ser, na indicação do tempo em geral:
Era noite fechada
É tarde, e eles não vêm!
Observações
1ª – Nas orações impessoais o verbo ser concorda em número e pessoa com o predicativo.
2ª – Também ocorre a impessoalidade nas locuções verbais. Neste caso, o verbo principal transmite sua impessoalidade ao verbo auxiliar:
Lá não pode haver mais bichos do que no meu sertão e eu, graças a Deus, ainda estou aqui, vivo.
3ª – Na linguagem coloquial do Brasil é corrente o emprego do verbo ter como impessoal, à semelhança de haver. Escritores modernos – e alguns dos maiores – não têm duvidado em alçar a construção à língua literária:
Tem noites em que me dá vontade de gritar, berrar, não sei, fico numa irritação que só vendo.
Em Pasárgada tem tudo,
É outra civilização...
4ª - Em sentido figurado, os verbos que exprimem fenômenos da natureza podem ser empregados com sujeito:
Os oficiais anoiteceram e não amanheceram na propriedade.
Também a esperança
Orvalhou os campos da minha visão involuntária..
De quando em quando rumores surdos trovejavam ao longe.
Da atitude do sujeito
Quando o verbo exprime uma ação, a atitude do sujeito com referência ao processo verbal pode ser de atividade, de passividade, ou de atividade e passividade ao mesmo tempo.
1. Neste exemplo:
A madrinha penteava o menino doente.
O sujeito a madrinha executa a ação expressa pela forma verbal penteava. O sujeito é, pois, o agente.
2. - Neste exemplo:
O menino doente era penteado pela madrinha.
A ação não é praticada pelo sujeito menino, mas pelo agente da passiva – a madrinha. O sujeito, no caso, sofre a ação; é dela o paciente.
3- Neste exemplo:
A madrinha penteava-se
A ação é simultaneamente exercida e sofrida pelo sujeito a madrinha. O sujeito é então, a um tempo. O agente e o paciente dela.
Como vemos, na voz ativa, o termo que representa o gente é o sujeito do verbo, o que representa o paciente é o objeto direto. Na voz passiva, o paciente torna-se o sujeito do verbo.
Com os verbos de estado
Quando o verbo evoca um estado, a atitude da pessoa ou da coisa que dele participa é de neutralidade. O sujeito, no caso, não é o agente nem o paciente, mas a sede do processo verbal, o lugar onde ele se desenvolve:
Pedro estava alegre, Paulo preocupado.
O velho parecia em êxtase.
Incluem-se naturalmente entre os verbos que evocam um estado, ou melhor, uma mudança de estado, os incoativos como adoecer, emagrecer, empobrecer, equivalentes a ficar doente, ficar magro, ficar pobre.
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