Fonte: sosescola.com
A
afetividade no processo de aprendizagem
por
Henri Wallon.
Sabemos
que as emoções podem interferir no processo de aprendizagem e que é dever do educador
mediador estimula-las de maneira correta, para que a criança aprenda a
desenvolver suas habilidades expressivas e motoras, trabalhando a convivência
social, a autoconfiança, o autocontrole, a tomada de decisões, desenvolvendo a
ética, a responsabilidade e o respeito.
Henri
Wallon (1879-1962)
O
pioneiro deste conceito de aprendizagem ligado as emoções ou especificamente a
afetividade foi o pesquisador Henri Wallon, que propôs colocar a afetividade em
sua teoria como um dos aspectos centrais do desenvolvimento da criança.
Grandes
estudiosos, como Jean Piaget (1896-1980) e Lev Vygotsky (1896-1934), já
atribuíam importância à afetividade no processo evolutivo, mas foi o educador
francês Henri Wallon (1879-1962) que se aprofundou na questão. Ao estudar a
criança, ele não coloca a inteligência como o principal componente do
desenvolvimento, mas defende que a vida psíquica é formada por três dimensões -
motora, afetiva e cognitiva -, que coexistem e atuam de forma integrada.
"O que é conquistado em um plano atinge o outro mesmo que não se tenha
consciência disso".
Wallon
propõe e defende que o processo de evolução depende tanto da capacidade
biológica do sujeito quanto do ambiente, que o afeta de alguma forma. Ele nasce
com um equipamento orgânico, que lhe dá determinados recursos, mas é o meio que
vai permitir que essas potencialidades se desenvolvam.
Assim
como Piaget, Wallon divide o desenvolvimento em cinco etapas, são elas:
impulsivo-emocional; sensório-motor e projetivo; personalismo; categorial; e
puberdade e adolescência. Ao longo desse processo, a afetividade e a
inteligência se alternam. No primeiro ano de vida, a função que predomina é a
afetividade. O bebê a usa para se expressar e interagir com as pessoas, que
reagem a essas manifestações e intermediam a relação dele com o ambiente.
Depois, na etapa sensório-motora e projetiva, a inteligência prepondera. É o
momento em que a criança começa a andar, falar e manipular objetos e está
voltada para o exterior, ou seja, para o conhecimento. Essas mudanças não
significam, no entanto, que uma das funções desaparece.
As
três manifestações da afetividade segundo Wallon
Wallon
mostra que a afetividade é expressa de três maneiras: por meio da emoção, do
sentimento e da paixão. Essas manifestações surgem durante toda a vida do
indivíduo, mas, assim como o pensamento infantil, apresentam uma evolução, que
caminha do sincrético para o diferencial. A emoção, segundo o educador, é a
primeira expressão da afetividade. Ela tem uma ativação orgânica, ou seja, não
é controlada pela razão. Quando alguém é assaltado e fica com medo, por
exemplo, pode sair correndo mesmo sabendo que não é a melhor forma de
reagir.
O sentimento, por sua vez, já tem um caráter mais cognitivo. Ele é a representação da sensação e surge nos momentos em que a pessoa já consegue falar sobre o que lhe afeta - ao comenta um momento de tristeza, por exemplo. Já a paixão tem como característica o autocontrole em função de um objetivo. Ela se manifesta quando o indivíduo domina o medo, por exemplo, para sair de uma situação de perigo.
Pelo fato de ser mais visível que as outras duas manifestações, a emoção é tida por Wallon como a forma mais expressiva de afetividade e ganha destaque dentro de suas obras. Ao observar as reações emotivas, ele encontra indicadores para analisar as estratégias usadas em sala de aula (leia a questão de concurso acima). "Se o professor consegue entender o que ocorre quando o aluno está cansado ou desmotivado, por exemplo, é capaz de usar a informação a favor do conhecimento, controlando a situação", explica Laurinda. Não é possível falar em afetividade sem falar em emoção, porém os dois termos não são sinônimos. Na próxima reportagem da série, você vai conhecer mais a fundo as teorias de Wallon sobre essa importante expressão, tida como o primeiro recurso de interação do indivíduo com o meio.
O sentimento, por sua vez, já tem um caráter mais cognitivo. Ele é a representação da sensação e surge nos momentos em que a pessoa já consegue falar sobre o que lhe afeta - ao comenta um momento de tristeza, por exemplo. Já a paixão tem como característica o autocontrole em função de um objetivo. Ela se manifesta quando o indivíduo domina o medo, por exemplo, para sair de uma situação de perigo.
Pelo fato de ser mais visível que as outras duas manifestações, a emoção é tida por Wallon como a forma mais expressiva de afetividade e ganha destaque dentro de suas obras. Ao observar as reações emotivas, ele encontra indicadores para analisar as estratégias usadas em sala de aula (leia a questão de concurso acima). "Se o professor consegue entender o que ocorre quando o aluno está cansado ou desmotivado, por exemplo, é capaz de usar a informação a favor do conhecimento, controlando a situação", explica Laurinda. Não é possível falar em afetividade sem falar em emoção, porém os dois termos não são sinônimos. Na próxima reportagem da série, você vai conhecer mais a fundo as teorias de Wallon sobre essa importante expressão, tida como o primeiro recurso de interação do indivíduo com o meio.
Trecho
de livro
"O
espaço não é primitivamente uma ordem entre as coisas, é antes uma qualidade
das coisas em relação a nós próprios, e nessa relação é grande o papel da
afetividade, da pertença, do aproximar ou do evitar, da proximidade ou do
afastamento."
Henri Wallon no livro Do Ato ao Pensamento.
Henri Wallon no livro Do Ato ao Pensamento.
Conceito de Afetividade
O
termo se refere à capacidade do ser humano de ser afetado positiva ou
negativamente tanto por sensações internas como externas. A afetividade é um
dos conjuntos funcionais da pessoa e atua, juntamente com a cognição e o ato
motor, no processo de desenvolvimento e construção do conhecimento.
A
teoria de desenvolvimento de Henri Wallon
Algumas
considerações iniciais:
•
É difícil abranger, com uma só teoria, toda a complexidade dos fenômenos
estudados; se, por um lado, ela ilumina alguns aspectos desses fenômenos,
outros ficam obscurecidos.
•
Os conceitos, princípios e direções expressos na teoria de desenvolvimento de
Henri Wallon são instrumentos que nos auxiliam na compreensão do processo de
constituição da pessoa, no movimento que vai do bebê ao adulto de sua espécie,
conforme os modelos que a cultura do seu tempo disponibiliza.
•
A teoria de desenvolvimento de Henri Wallon é um instrumento que pode ampliar a
compreensão do professor sobre as possibilidades do aluno no processo
ensino-aprendizagem e fornecer elementos para uma reflexão de como o ensino
pode criar intencionalmente condições para favorecer esse processo,
proporcionando a aprendizagem de novos comportamentos, novas ideias, novos
valores. Na medida em que a teoria de desenvolvimento descreve características
de cada estágio, está também oferecendo elementos para uma reflexão para tornar
o processo ensino-aprendizagem mais produtivo, propiciando ao professor pontos
de referência para orientar e testar atividades adequadas aos alunos concretos
que tem em sua sala de aula. A identificação das características de cada
estágio pelo professor permitirá planejar atividades que promovam um
entrosamento mais produtivo entre essas características, conforme se apresentem
em seus alunos concretos, e as atividades de ensino.
•
Daí a importância de o professor encarar a teoria como um conjunto
sistematizado de proposições hipotéticas a serem constantemente testadas, verificadas
no confronto com os resultados do processo ensino-aprendizagem do aluno, na
situação concreta de sala de aula. Assim, ao lado dos conhecimentos teóricos,
assumem relevância a sensibilidade, a curiosidade, a atenção, o questionamento
e a habilidade de observação do professor sobre o que se passa no processo
ensino-aprendizagem.
•
Nesse sentido, uma teoria de desenvolvimento assume três funções paralelas e
complementares: dá previsibilidade à rotina, oferece subsídios para o
questionamento e o enriquecimento da prática e da própria teoria, possibilita
alternativas de ação com maior autonomia e segurança.
Na
teoria psicogenética de Wallon, o eixo principal no processo de desenvolvimento
é a integração, em dois sentidos:
•
Integração organismo-meio
•
Integração cognitiva-afetiva-motora
Integração
organismo-meio
Partindo
de uma perspectiva psicogenética, a teoria de desenvolvimento de Wallon assume
que o desenvolvimento da pessoa se faz a partir da interação do potencial
genético, típico da espécie, e uma grande variedade de fatores ambientais. O
foco da teoria é essa interação da criança com o meio, uma relação complementar
entre os fatores orgânicos e socioculturais. Afirma Wallon:
Estas
revoluções de idade para idade não são improvisadas por cada indivíduo. São a
própria razão da infância, que tende para a edificação do adulto como exemplar
da espécie. Estão inscritas, no momento oportuno, no desenvolvimento que conduz
a esse objetivo. As incitações do meio são sem dúvida indispensáveis para que
elas se manifestem e quanto mais se eleva o nível da função, mais ela sofre as
determinações dele: quantas e quantas atividades técnicas ou intelectuais são à
imagem da linguagem, que para cada um é a do meio (Wallon, 1995, p. 210)
Nessa
citação, Wallon coloca a questão do desenvolvimento no contexto no qual o
indivíduo está inserido — a realização do potencial herdado geneticamente por
um indivíduo vai depender das condições do meio, que podem modificar as
manifestações das determinações genotípicas; o que é melhor explicitado na
citação que se segue:
Deste
modo, na criança, opõem-se e implicam-se mutuamente fatores de origem biológica
e social (...). O objetivo assim perseguido não é mais do que a realização
daquilo que o genótipo, ou gérmen do indivíduo, tinha em potência. O plano
segundo o qual cada ser se desenvolve depende, portanto, de disposições que ele
tem desde o momento de sua primeira formação. A realização desse plano é
necessariamente sucessiva, mas pode não ser total e, enfim, as circunstâncias
modificam-na mais ou menos. Assim, distinguiu-se do genótipo, o fenótipo, que
consiste nos aspectos em que o indivíduo se manifestou ao longo da vida. A
história de um ser é dominada pelo seu genótipo e constituída pelo seu
fenótipo. (Wallon, 1995, pp. 49-50)
No
conjunto da obra de Wallon, segundo Nadel-Brulfert (1986), aparecem três
grandes categorias de distinções entre tipos de meios:
•
a 1ª distinção refere-se ao tipo de intercâmbio entre os meios físico-químico,
biológico e social;
•
a 2ª distinção, específica da espécie humana, e complementar à primeira, indica
a superposição do meio social ao meio físico;
•
a 3ª distinção, também específica da espécie humana, refere-se a dois tipos de
meios: meio físico, espacial e temporalmente determinado, que é o das reações
sensório-motoras, dos objetivos atuais, da inteligência das situações e meio
fundado sobre a representação, no qual as situações são simbólicas e implicam a
utilização de conceitos.
Wallon
afirma que o estudo da criança exige o estudo do meio ou dos meios em que ela
se desenvolve. Sobre o meio, conjunto mais ou menos duradouro das
circunstâncias nas quais se desenvolvem as pessoas, esclarece ele:
O
meio é um complemento indispensável ao ser vivo. Ele deverá corresponder a suas
necessidades e as suas aptidões sensório-motoras e, depois, psicomotoras. Não é
menos verdadeiro que a sociedade coloca o homem em presença de novos meios,
novas necessidades e novos recursos que aumentam possibilidades de evolução e
diferenciação individual. A constituição biológica da criança, ao nascer, não
será a única lei de seu destino posterior. Seus efeitos podem ser amplamente
transformados pelas circunstâncias de sua existência, da qual não se exclui sua
possibilidade de escolha pessoal... Os meios em que vive a criança e aqueles
com que ela sonha constituem a "forma" que amolda sua pessoa. Não se
trata de uma marca aceita passivamente. (Wallon, 1975, pp. 164, 165, 167)
Integração
afetiva-cognitiva-motora
Duas
afirmações de Wallon são esclarecedoras da discussão que vamos fazer sobre
afetividade, de per si:
As
necessidades de descrição obrigam a tratar separadamente alguns grandes
conjuntos funcionais, o que não deixa de ser um artifício.
Os domínios funcionais entre os quais se dividirão o estudo das etapas que a criança percorre serão, portanto, os da afetividade, do ato motor, do conhecimento e da pessoa. (Wallon, 1995, pp. 131 e 135)
Os domínios funcionais entre os quais se dividirão o estudo das etapas que a criança percorre serão, portanto, os da afetividade, do ato motor, do conhecimento e da pessoa. (Wallon, 1995, pp. 131 e 135)
Os
conjuntos ou domínios funcionais são, portanto, constructos de que a teoria se
vale para explicar o psiquismo, para explicar didaticamente o que é
inseparável: a pessoa.
O
conjunto afetivo oferece as funções responsáveis pelas emoções, pelos
sentimentos e pela paixão — e será detalhado oportunamente.
O
conjunto ato motor oferece a possibilidade de deslocamento do corpo no tempo e
no espaço, as reações posturais que garantem o equilíbrio corporal, bem como o
apoio tônico para as emoções e sentimentos se expressarem.
O
conjunto cognitivo oferece um conjunto de funções que permite a aquisição e a
manutenção do conhecimento por meio de imagens, noções, ideias e
representações. É ele que permite ainda registrar e rever o passado, fixar e
analisar o presente e projetar futuros possíveis e imaginários.
A
pessoa — o quarto conjunto funcional — expressa a integração em todas as suas
inúmeras possibilidades.
Outras
características do processo de desenvolvimento como um todo que vão se
expressar no desenvolvimento do conjunto afetivo:
• do
sincretismo para a diferenciação
Todos
os conjuntos funcionais revelam-se inicialmente de forma sincrética, isto é,
apresentam uma forma nebulosa, global, difusa, sem distinção das relações que
as unem.
• da
alternância na predominância dos conjuntos
Em
cada estágio de desenvolvimento (Wallon propõe os seguintes estágios: impulsivo-emocional
— 0 a 1 ano; sensório-motor e projetivo — 1 a 3 anos; personalismo — 3 a 6
anos; categorial — 6 a 11 anos; puberdade e adolescência — 11 anos em diante),
um dos conjuntos predomina; isto é, fica mais em evidência, embora os outros
também estejam presentes numa relação recíproca e complementar. Assim é que o
conjunto afetivo está mais evidenciado nos estágios do personalismo, e da
puberdade e adolescência.
• da
alternância de direções
Em
cada estágio de desenvolvimento há uma alternância de movimentos ou direções.
No impulsivo-emocional, personalismo, puberdade e adolescência o movimento é
para dentro, para o conhecimento de si. Já no sensório-motor e projetivo e
categorial o movimento é para fora, para o conhecimento do mundo exterior.
Aproximando
esses dois princípios: alternância funcional e predominância
funcional podemos afirmar que, quando a direção é para si mesmo
(centrípeta), o predomínio é do afetivo. E quando a direção é para o mundo
exterior (centrífuga), o predomínio é do cognitivo.
Na
discussão sobre afetividade, cabe uma observação de Kirouac (1994), ao analisar
a problemática da área da psicologia da emoção. O estudo da emoção, considerado
marginal, supérfluo, não científico durante muito tempo, sofre uma mudança de
interesse a partir da década de 70, quando surgem estudos empíricos e teóricos
aceitando os estados internos como variáveis explicativas do comportamento.
Tais estudos vão tratar de dimensões críticas da emoção: emoção como
experiência subjetiva e como comportamento expressivo; os mecanismos
fisiológicos e as situações indutoras das emoções. As dificuldades maiores
enfrentadas pelos estudiosos dessa área referem-se à falta de consenso nas
definições, à falta de precisão e clareza na linguagem, e ao fato de diferentes
enunciados abordarem apenas um aspecto limitado da emoção. Apesar de todas as
dificuldades enumeradas, há um certo acordo para discriminar emoções de outros
processos afetivos:
•
Processos afetivos são todos os estados que fazem apelo a sensações de prazer/desprazer
ou ligados a tonalidades agradáveis/desagradáveis;
•
Emoção é um estado afetivo, comportando sensações de bem-estar ou mal-estar que
têm um começo preciso, é ligado a um objeto específico e de duração
relativamente breve e inclui ativação orgânica.
A
discussão trazida por Kirouac (ibid.) reforça a necessidade do refinamento de
conceitos e proposições. Considerando que um dos papéis da teoria é tornar as
definições cada vez mais claras, vamos nos centrar na teoria de desenvolvimento
de Henri Wallon para uma elucidação mais precisa.
Afetividade
—
Refere-se à capacidade, à disposição do ser humano de ser afetado pelo mundo
externo/interno por sensações ligadas a tonalidades agradáveis ou
desagradáveis;
—
Ser afetado é reagir com atividades internas/externas que a situação desperta;
—
A teoria aponta três momentos marcantes, sucessivos na evolução da afetividade:
emoção, sentimento e paixão;
—
Os três resultam de fatores orgânicos e sociais, e correspondem a configurações
diferentes;
—
Na emoção, há o predomínio da ativação fisiológica, no sentimento, da ativação
representacional, na paixão, da ativação do autocontrole.
Emoção
—
É a exteriorização da afetividade, ou seja, é a sua expressão corporal, motora.
Tem um poder plástico, expressivo e contagioso; é o primeiro recurso de ligação
entre o orgânico e o social: estabelece os primeiros laços com o mundo humano e
através dele com o mundo físico;
—
Emoções são sistemas de atitudes, reveladas pelo tônus. Atitude é a expressão
da combinação entre tônus (nível de tensão muscular) e intenção; cada atitude é
associada a uma ou mais situações;
—
A emoção aparece desde o início da vida, com os espasmos do recém-nascido.
Estes não são apenas um ato muscular, de contração dos aparelhos musculares e viscerais:
existe bem-estar ou mal-estar tanto no espasmo como na sua dissolução. Tensão é
provocada pela energia retida e acumulada: riso, choro, soluço aliviam a tensão
dos músculos;
—
Das oscilações viscerais e musculares vão se diferenciando as emoções: medo,
alegria, raiva, ciúme, tristeza. A cada uma, passa a corresponder um padrão
postural, que libera ou concentra energia com maior ou menor intensidade, e
depende de automatismos específicos que emergem pela maturação funcional:
reação à queda, à falta de apoio, à estimulação labiríntica, etc.
—
A emoção dá rapidez às respostas, de fugir ou atacar, em que não há tempo para
deliberar. É apta para suscitar reflexos condicionados;
—
A emoção é uma forma concreta de participação mútua, é uma forma primitiva de
comunhão, que se apresenta nos ritos coletivos, que funde as relações
interindividuais, que funde os indivíduos e as circunstâncias exteriores;
—
É também um instrumento de sociabilidade que une os indivíduos entre si;
—
A emoção é determinante na evolução mental: a criança responde a estímulos
musculares (sensibilidade proprioceptiva), viscerais (sensibilidade
interoceptiva) e externos (sensibilidade exteroceptiva). Esse movimento mostra
como a sensibilidade da criança se estende ao ambiente. Passa a reproduzir os
traços dos estímulos do ambiente, e o contato com o mundo tende a afinar,
tornar mais precisas, mais adequadas essas reproduções;
—
A tendência do sincretismo para a diferenciação está presente na emoção:
•
sincretismo subjetivo quando não sabe como se distinguir das outras pessoas;
•
sincretismo objetivo quando não sabe como se distinguir das coisas do ambiente;
—
A emoção estimula mudanças que tendem a diminuí-la, ao propiciar o
desenvolvimento cognitivo;
—
Há um antagonismo entre emoção e atividade intelectual (antagonismo de
bloqueio):
•
O aparecimento de uma imagem que resulte da comparação ou de uma previsão só
poderá nascer reduzindo gradualmente as reações posturais, isto é, as emoções;
•
Sempre que voltarem a dominar as atitudes afetivas a imagem se confundirá;
•
Portanto, predomínio cognitivo: imagens mais claras; predomínio afetivo:
imagens menos claras.
Sentimento
—
Corresponde à expressão representacional da afetividade. Não implica reações
instantâneas e diretas como na emoção;
—
Opõe-se ao arrebatamento, que é uma emoção autêntica: tende a reprimi-la, impor
controles e obstáculos que quebrem sua potência. Os sentimentos podem ser
expressos pela mímica e pela linguagem, que multiplicam as tonalidades, as
cumplicidades tácitas ou subentendidas;
—
O adulto tem maiores recursos de expressão representacional: observa, reflete
antes de agir; sabe onde, como e quando se expressar; traduz intelectualmente
seus motivos ou circunstâncias.
Paixão
—
Revela o aparecimento do autocontrole para dominar uma situação: tenta para
isso silenciar a emoção;
—
Não aparece antes do estágio do personalismo;
—
Caracteriza-se por ciúmes, exigências, exclusividade.
O
papel da afetividade nos diferentes estágios
A
dimensão temporal do desenvolvimento que vai do nascimento até a morte está
distribuída em estágios que expressam características da espécie e cujo
conteúdo será determinado histórica e culturalmente.
Cada
estágio, na teoria de Wallon, é considerado como um sistema completo em si,
isto é, a sua configuração e o seu funcionamento revelam a presença de todos os
componentes que constituem a pessoa.
Como a criança chega ao adulto, do
ponto de vista afetivo?
•
No 1º estágio — impulsivo-emocional (0 a 1 ano) — a criança
expressa sua afetividade através de movimentos descoordenados, respondendo a
sensibilidades corporais: proprioceptiva (sensibilidade dos músculos) e
interoceptivas (sensibilidade das vísceras).
O
recurso de aprendizagem nesse momento é a fusão com outros. O processo
ensino-aprendizagem exige respostas corporais, contatos epidérmicos, daí a
importância de se ligar ao seu cuidador, que segure, carregue, que embale.
Através dessa fusão, a criança participa intensamente do ambiente e, apesar de
percepções, sensações nebulosas, pouco claras, vai se familiarizando e
apreendendo esse mundo, portanto, iniciando um processo de diferenciação.
•
No 2º estágio — sensório-motor e projetivo (1 a 3 anos) —,
quando já dispõe da fala e da marcha, a criança se volta para o mundo externo
(sensibilidade exteroceptiva) para um intenso contato com os objetos e a
indagação insistente do que são, como se chamam, como funcionam.
O
processo ensino-aprendizagem no lado afetivo se revela pela disposição do
professor de oferecer diversidade de situações, espaço, para que todos os
alunos possam participar igualmente e pela sua disposição de responder às
constantes e insistentes indagações na busca de conhecer o mundo exterior, e
assim facilitar para o aluno a sua diferenciação em relação aos objetos.
•
No 3º estágio — personalismo (3 a 6 anos) — existe outro tipo
de diferenciação — entre a criança e o outro. É a fase de se descobrir
diferente das outras crianças e do adulto.
O
processo ensino-aprendizagem precisa oferecer atividades diferentes e a
possibilidade de escolha pela criança das atividades que mais a atraiam. O
adulto será o recipiente de muitas respostas: não; não quero; não
gosto; não vou; é meu. O importante do ponto de vista afetivo é reconhecer
e respeitar as diferenças que despontam. Chamar pelo nome, mostrar que a
criança está sendo vista, que ela tem visibilidade no grupo pelas suas
diferenças, propor atividades que mostrem essas diferenças, dar oportunidades
para que a criança as expresse.
Como,
neste estágio — personalismo —, a direção é para si mesma, a criança aprende
principalmente pela oposição ao outro, pela descoberta do que a distingue de
outras pessoas. Como agora está se descobrindo como diferente dos outros, está
rompendo com o sincretismo entre ela e os outros. O tipo de afetividade que
facilita essas aprendizagens comporta oportunidades variadas de convivência com
outras crianças de idades diferentes e aceitação dos comportamentos de negação,
lembrando que são recursos de desenvolvimento.
•
No 4º estágio — o categorial (6 a 11 anos) — a diferenciação
mais nítida entre o eu e o outro dá condições mais estáveis para a exploração
mental do mundo externo, físico, mediante atividades cognitivas de agrupamento,
classificação, categorização em vários níveis de abstração até chegar ao
pensamento categorial. A organização do mundo em categorias bem definidas
possibilita também uma compreensão mais nítida de si mesma.
Nesse
estágio, que coincide com o início do período escolar, a aprendizagem se faz
predominantemente pela descoberta de diferenças e semelhanças entre objetos,
imagens, ideias. O predomínio é da razão. Esse predomínio vai se expressar em
representações claras, precisas, que se transformarão, com o tempo — é um
processo longo —, em conceitos e princípios. Levar ou não em conside-
ração o que o aluno já sabe, o que precisa saber para dominar certas ideias, os exercícios necessários, formas de avaliação, revelam sentimentos e valores e favorecem ou não essa descoberta do mundo.
ração o que o aluno já sabe, o que precisa saber para dominar certas ideias, os exercícios necessários, formas de avaliação, revelam sentimentos e valores e favorecem ou não essa descoberta do mundo.
Outro
ponto importante é saber e aceitar que todo conhecimento novo, não familiar,
implica, na sua aprendizagem, um período de imperícia, resultante do
sincretismo inicial. Esse sincretismo inicial vai se desmanchando com as
atividades propostas, mas é importante considerá-lo como parte integrante do
processo ensino-aprendizagem. À medida que ele evolui, a imperícia é
substituída pela competência.
•
No 5º estágio — puberdade e adolescência (11 anos em diante) —
vai aparecer a exploração de si mesmo, na busca de uma identidade autônoma,
mediante atividades de confronto, autoafirmação, questionamentos, e para isso
se submete e se apoia nos pares, contrapondo-se aos valores tal qual
interpretados pelos adultos com quem convive. O domínio de categorias
cognitivas de maior nível de abstração, nas quais a dimensão temporal toma
relevo, possibilita a discriminação mais clara dos limites de sua autonomia e
de sua dependência.
Na
puberdade e adolescência, o recurso principal de aprendizagem do ponto de vista
afetivo volta a ser a oposição, que vai aprofundando e possibilitando a identificação
das diferenças entre ideias, sentimentos, valores próprios e do outro, adulto,
na busca para responder: quem sou eu? Quais são meus valores? Quem
serei no futuro?, que é permeada por muitas ambiguidades.
O
processo ensino-aprendizagem facilitador do ponto de vista afetivo é aquele que
permite a expressão e discussão dessas diferenças e que elas sejam levadas em
consideração, desde que respeitados os limites que garantam relações
solidárias.
Não
esquecer que em todos os estágios a forma de a afetividade facilitadora se
expressar no processo ensino-aprendizagem exige a existência, a colocação de
limites. Limites que facilitam o processo ensino-aprendizagem, garantindo o
bem-estar de todos os envolvidos, são também uma expressão de afetividade.
Sobre
afetividade e processo ensino-aprendizagem à luz da teoria de Wallon
No
processo de desenvolvimento (em aberto, contínuo), os princípios que regulam os
recursos de aprendizagem são os mesmos, na criança e no adulto, porém com
tempos e aberturas diferentes:
• Do
sincretismo para a diferenciação
—
O início de qualquer aprendizagem nova caracteriza-se pelo sincretismo,
passando gradativamente para a diferenciação;
—
O período do sincretismo caracteriza-se pela imperícia, que será substituída
gradativamente pela competência ao acompanhar o processo de diferenciação.
• Imitação
Instrumento
poderoso de aprendizagem para a criança (adultos, colegas, amigos, professores
são modelos) e para o adulto, em situações novas (professores antigos, colegas
são modelos). O processo de imitação mantém uma relação dialética com o
processo de oposição, iniciando-se com os jogos de alternância, avançando na
fase do personalismo e continuando pela vida inteira.
• Acolhimento
Importante
em qualquer idade: acolhimento da criança e do jovem pelo grupo familiar, grupo
de amigos, grupo de colegas, professores; acolhimento do professor pela
direção, pelos seus pares, pelo seu entorno, pelos seus alunos. A sala de aula
— uma oficina de relações — é/não é um espaço de acolhimento.
• Desenvolvimento
dos conjuntos funcionais
O
desenvolvimento afetivo — cognitivo — motor tem ritmos diferentes conforme a
relação orgânico-social se expressa em cada indivíduo, e as atividades precisam
corresponder a esses ritmos. O ritmo deve ser respeitado e não avaliado. Em
cada estágio temos uma pessoa completa, com possibilidades e limitações
próprias.
• Situações
conflitivas
Como
a emoção é contagiosa, o comportamento do aluno interfere na dinâmica da classe
e no professor. O professor, como adulto mais experiente, centrado em si e no
outro, de forma equilibrada, com maiores recursos para controle das emoções e
sentimentos, pode colaborar para a resolução dos conflitos, não esquecendo que
o conflito faz parte do processo ensino-aprendizagem, pois é constitutivo das
relações. A qualidade da relação é revelada pela forma como os conflitos são
resolvidos.
• Ensino-aprendizagem,
faces de uma mesma moeda
Uma
dificuldade de aprendizagem é, igualmente, um problema de ensino, e sua análise
deve focalizar a relação ensino-aprendizagem como uma unidade, sem culpa de um
ou de outro.
Quando
não são satisfeitas as necessidades afetivas, estas resultam em barreiras para
o processo ensino-aprendizagem e, portanto, para o desenvolvimento, tanto do
aluno como do professor.
• Processo
ensino-aprendizagem
—
Comporta fluxos e refluxos, certezas e dúvidas; tal como o desenvolvimento, é
um processo em aberto, portanto sujeito a reformulações constantes.
—
Na relação professor-aluno, o papel do professor é de mediador do conhecimento.
A forma como o professor se relaciona com o aluno reflete nas relações do aluno
com o conhecimento e nas relações aluno-aluno.
—
Queira ou não, o professor é um modelo, na sua forma de relacionar-se, de
expressar seus valores, na forma de resolver os conflitos, na forma de falar e
ouvir.
• Uma
teoria é um recurso para o professor
—
Uma teoria auxilia no planejamento do ensino levando em conta as
características individuais (referentes ao aluno e ao professor), o contexto e
as atividades propostas.
—
Além da teoria, o planejamento deve incluir os dados da experiência que o
professor traz, decorrente de uma observação sensível no seu contato com o
aluno.
—
A teoria de desenvolvimento de Henri Wallon propõe estágios, com as
características registradas no quadro que se segue. Cabe observar que:
•
a idade não é o indicador principal do estágio;
•
cada estágio é um sistema completo em si;
•
as características propostas para cada estágio se expressam através de
conteúdos determinados culturalmente;
•
o desenvolvimento pressupõe um processo constante de transformações, durante
toda a vida.
Texto
e pesquisa
Prof
Marcos L Souza – Pedagogo – Historiador – Pesquisador – Escritor.
Referências
Bibliográficas
Codo, W. (coord.) (2000). Educação: carinho e trabalho. Petrópolis,
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