O jovem como lata de lixo da indústria do consumo
“Vistos cada vez mais como outro encargo social,
os jovens não estão mais incluídos no discurso sobre
a promessa de um futuro melhor. Em lugar disso,
agora são considerados parte de uma população
dispensável, cuja presença ameaça evocar
memórias coletivas reprimidas da responsabilidade
dos adultos.” Assim escreve Henry A. Giroux num
ensaio de 3 de fevereiro de 2011 sob o título “A
juventude na era da dispensabilidade.”
De fato, os jovens não são plena e
inequivocamente dispensáveis. O que os salva da
dispensabilidade total embora por pouco e lhes
garante certo grau de atenção dos adultos é sua real
e, mais ainda, potencial contribuição à demanda de
consumo: a existência de sucessivos escalões de
jovens significa o eterno suprimento de “terras
virgens”, inexploradas e prontas para o cultivo, sem
o qual a simples reprodução da economia
capitalista, para não mencionar o crescimento
econômico, seria quase inconcebível. Pensa-se sobre
a juventude e logo se presta atenção a ela como “um
novo mercado” a ser “comodificado” e explorado.
Por meio da força educacional de uma cultura que
comercializa todos os aspectos da vida das crianças,
usando a internet e várias redes sociais, e novas
tecnologias de mídia, como telefones celulares, as
instituições empresariais buscam imergir o jovem
num mundo de consumo em massa, de maneiras
mais amplas e diretas que qualquer coisa que
possamos ter visto no passado. Um estudo recente,
orientado pela Kaiser Family Foundation, descobriu
que “jovens dos oito aos dezoito anos gastam agora
mais de sete horas e meia por dia com
smartphones, computadores, televisores e outros
instrumentos eletrônicos, em comparação com as
mesmas seis horas e meia de cinco anos atrás.
Quando se acrescenta o tempo adicional que os
jovens passam postando textos, falando em seus
celulares ou realizando múltiplas tarefas, tais como
ver TV enquanto atualizam o Facebook, o número
sobe para um total de onze horas de conteúdo de
mídia por dia.” Pode-se prosseguir acrescentando
um volume crescente de evidências de que “o
problema dos jovens” está sendo considerado clara
e explicitamente uma questão de “adestrá-los para o
consumo”, e de que todos os outros assuntos
relacionados à juventude são deixados numa
prateleira lateral ou eliminados da agenda política,
social e cultural.
De um lado, as sérias limitações impostas pelo
governo ao financiamento de instituições de ensino
superior, acopladas a um aumento também
selvagem das anuidades cobradas pelas
universidades, são testemunhas da perda de
interesse na juventude como futura elite política e
cultural da nação. Por outro lado, o Facebook, por
exemplo, assim como outros “sites sociais”, está
abrindo novíssimas paisagens para agências que
tendem a se concentrar nos jovens e tratá-los como
“terras virgens” à espera de conquista e exploração
pelo avanço das tropas consumistas.
BAUMAN, Zygmunt. Sobre educação e juventude. Tradução Carlos
Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2013. (Adaptado)
Questão 01
Tradicionalmente, e segundo o senso comum, o jovem é visto como aquele que traz em si um potencial
construtivo a ser usado, no futuro, em benefício de sua comunidade.
Considerando o fragmento do ensaio de Henry Giroux com o qual se introduz o Texto I, é válido afirmar, sobre
os jovens na sociedade contemporânea, que
(A) fazem parte de uma população ativa, inequivocamente indispensável.
(B) não são mais considerados como encargos sociais pelos governos.
(C) a dispensabilidade deles resulta da negligência de responsabilidade dos adultos.
(D) são oprimidos pelos adultos para não se tornarem uma ameaça à coletividade.
Questão 02
Se compararmos o argumento utilizado por Henry
Giroux para defender a ideia de dispensabilidade dos
jovens, no mundo contemporâneo, com o
desenvolvimento das ideias de Bauman, no Texto I, é
coerente apontar apenas uma das seguintes proposições
deste último que se contrapõe à do primeiro.
(A) Menciona o crescimento econômico capitalista
como fator de inclusão dos jovens na elite política
e cultural da nação.
(B) Defende o Facebook e outros sites sociais como
novo mercado para a empregabilidade dos
jovens.
(C) Considera a internet uma força educacional que
inclui os jovens na agenda política, social e
cultural.
(D) Encontra no mercado de consumo o caminho
para contrariar a tese de dispensabilidade total
dos jovens.
Questão 03
De fato, os jovens não são plena e inequivocamente
dispensáveis. O que os salva da dispensabilidade total
embora por pouco e lhes garante certo grau de atenção dos
adultos é sua real e [...]
Nesse trecho, os elementos em destaque estabelecem
com o termo os jovens, uma relação de
(A) subordinação.
(B) coordenação.
(C) correlação.
(D) coesão.
Questão 04
Considere o trecho Quando se acrescenta o tempo adicional
que os jovens passam postando textos, [...]
No que se refere à colocação pronominal, pode-se
afirmar que o emprego do pronome SEé
(A) aceitável, pois o autor usou em seu texto a
linguagem informal.
(B) correto, pois essa próclise está de acordo com a
norma padrão.
(C) correto, pois trata-se de uma ênclise autorizada
pela norma padrão.
(D) incorreto, pois a regra geral prescreve a ênclise
como norma padrão.
Questão 05
No trecho [...] concentrar nos jovens e tratá-los como
terras virgens..., ao empregar a expressão terras
virgens, o autor, no que se refere à linguagem, fez uso
de uma
(A) ironia.
(B) conotação.
(C) denotação.
(D) catacrese
Questão 06
Sobre a seleção lexical que compõe o título do ensaio
de Henri A. Giroux - A juventude na era da
dispensabilidade-, é correto afirmar que ele
(A) possui substantivos.
(B) é um período simples.
(C) é um período composto.
(D) possui nomes e verbo.
TEXTO II
[...] ser jovem é não perder o encanto e o susto de
qualquer espera. É, sobretudo, não ficar fixado nos
padrões da própria formação. Ser jovem é ter
abertura para o novo na mesma medida do
respeito ao imutável. É acreditar um pouco na
imortalidade da vida, é querer a festa, o jogo, a
brincadeira, a lua, o impossível, o distante. Ser
jovem é ser bêbado de infinitos que terminam logo
ali. É só pensar na morte de vez em quando. É não
saber de nada e poder tudo...
Arthur da Távola, fragmento.
Questão 07
Relacionando-se a temática do Texto II, escrito nos
anos de 1970, com a do Texto I, de 2013, pode-se
inferir que os jovens
(A) perderam o poder de decisão sobre seus futuros
caminhos.
(B) passaram a conviver com a morte em seu dia a dia
de violência social.
(C) fixaram-se em padrões rígidos para sua própria
formação intelectual.
(D) trocaram a poética bebedeira de infinitos por drogas
reais mais danosas.
Questão 08
A juventude, para o cronista do Texto II, é descrita
como uma fase da vida, cujo principal atributo é
(A) a interpretação paradoxal e lúdica dos fatos da
existência.
(B) a supremacia do conhecimento e do poder
intelectual.
(C) o respeito aos valores hereditários e imutáveis da
família.
(D) o descaso pela imortalidade e pelo imutável da
vida.
gabarito: 1C 2D 3D 4B 5B 6A 7A 8A